Marcas e estratégias
Planejar agora é adorar os novos deuses?
Há dois anos, renomados planejadores como John Steel e a AGP se reuniram em Londres para comemorar os 40 anos do planejamento nas agências de publicidade. Muito antes disso, a J.W. Thompson é considerada a agência que formalizou o planejamento há mais de 100 anos. Mas foi milhares de anos atrás que nasceu o planejamento sobre a face da Terra, visto que ele era feito nas nuvens pelos Deuses. Essa crença de que as nossas vidas na terra e de tudo aqui embaixo já eram traçadas e planejadas pelos Deuses só foi quebrada quando o homem
chutou o balde e resolveu pegar o leme do seu destino.
Essa atitude, que começou a fazer o mundo andar mais rápido em termos de conhecimento, trouxe um castigo: o
risco das coisas não darem certo e acontecerem como se previa. O
risco, que antes era visto como uma fatalidade e até um castigo vindo das nuvens, passou a ser o elemento que deveria ser entendido e controlado pelos homens. Então ele virou a razão do planejamento.
O risco tem uma história milenar, segundo Peter Bernstein, autor do livro Desafio aos Deuses, que só se acha em sebos. O risco no comércio, navegação, astronomia, medicina e outras infindáveis formas desenvolveram a matemática, a física, a química e os conceitos da economia e a inteligência. Isso é uma lasquinha do grande trabalho do autor.
Ho Chi Minh, líder e estrategista da Guerra do Vietnam, dizia que os americanos não iam ao banheiro sem ter um plano, mas não sabiam o que fazer se ele estivesse estragado. Hoje, planejar dentro das complexidades do mundo atual requer lidar cada vez mais com as faces do risco, tornando o planejamento bem mais flexível.
Ho Chi Minh disse também que para se ganhar uma guerra é preciso de um
oratório, que os americanos não tinham ali. A metáfora do oratório pode ser entendida, hoje, no sentido que você não mais planeja sem adorar a pelo menos um grupo de
gurus de diferentes disciplinas do marketing, que de alguma forma lembram os velhos deuses, quando nos apresentam conceitos e caminhos que devemos seguir para evitar problemas. Como antigamente. Parece que a gente não vive sem os deuses. Quando foi mesmo a última vez que você leu um? (
Por Lucio Pacheco).