Banca aprova monografia de estudante portador de paralisia cerebral

Análise semiológica de narrações de futebol rendeu nota 9, 5 a Eduardo Purper

Superação sempre foi o lema do estudante do 6° semestre de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA, Eduardo Purper, 22 anos, portador de paralisia cerebral desde o nascimento. Em uma cadeira de rodas, com apenas 20% da visão e com dificuldade para escrever, Dudu, como é conhecido pelos colegas, venceu mais uma etapa nesta tarde ao defender sua monografia "Análise semiológica de narrações de futebol". A banca, que foi composta pelos professores Paulo Finger e Militão Ricardo e pela professora orientadora Maricéia Benetti, concedeu a nota 9,5 para o estudo realizado de forma inédita: totalmente gravado em áudio. 


"Se fazer uma análise semiológica de forma escrita já é algo difícil, imagina fazer esse mesmo trabalho totalmente falado e usando a memória como recurso principal. Isso mostra o tamanho da capacidade intelectual do Dudu", disse Finger. "Avaliamos ele como avaliaríamos qualquer outro aluno. Não poderíamos fazer diferente, pois o próprio Dudu não aceitaria. O trabalho estava bem estruturado e o conteúdo bem organizado. Ele sustentou o debate de forma normal e reagiu bem às nossas provocações e questionamentos", elogia Militão. 


Equipes de televisão da Band, TVE e TVCom, além de representantes do Sindicato dos Jornalistas e da mídia imprensa cobriram o evento. Dudu não imaginava que sua banca pudesse gerar repercussão nacional, pois o fato acabou ganhando destaque em sites como g1, zerohora.com, Terra e UOL. Cerca de 20 pessoas, entre amigos, familiares, alunos e imprensa, lotaram o estúdio de rádio da instituição. "O começo foi difícil, mas fui me soltando durante a apresentação. Posso dizer que venci mais essa etapa e que foi mais um gol marcado na minha vida. Não esperava toda essa repercussão. Fiquei nervoso, mas quando me levaram para dentro do estúdio, só com os professores, fiquei tranqüilo".


Quando terminar a faculdade, no ano que vem, Dudu Purper será o primeiro jornalista gaúcho portador de paralisia cerebral, segundo o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado. Ele conta com a família e a memória para acompanhar o curso. "Eu sento na frente e presto muita atenção no que os professores falam. Em casa, o meu pai lê os textos em voz alta e eu memorizo", diz ele. O pai, o aposentado Ricardo Purper, leva o filho todo dia na faculdade e fica por perto durante o período de aula. "Sempre foi assim. Minha família sempre me ajudou e me incentivou a fazer o que eu podia, apesar das minhas dificuldades. Faço fisioterapia desde os nove meses de idade e caminho com ajuda", conta.


Dudu ainda apresenta o programa "A Palavra é Sua," que é transmitido via internet pela Rádio IPA e vai ao ar às quartas-feiras, a partir das 11h, com duração de 30 minutos. Ele participa da ONG Pró-Inclusão e já palestrou para professores e estudantes em diversas instituições de ensino e também tem experiência como escritor. Aos 14 anos, lançou o livro "Purper é gol", que trata de futebol e tem prefácio assinado por Ruy Carlos Ostermann. "Na época eu tinha mais habilidade do que hoje para escrever porque eu treinava mais. Com a canetinha acabei escrevendo mais de cem páginas durante as sessões de terapia ocupacional, que foram reduzidas para 64 no livro", diz.

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