Debate analisa participação da mídia no golpe militar

Evento foi promovido pelo Gabinete Digital do governo do Estado

A participação da mídia no golpe militar de 1964 e seu envolvimento com os governos nos anos seguintes foram o tema dominante da quinta edição do projeto Diálogos em Rede, promovida pelo Gabinete Digital do governo do Estado na manhã desta quinta-feira, 10. Um dos debatedores, o jornalista Elmar Bones, diretor da Já Editores, não só apontou a identificação ideológica dos principais meios de comunicação com o regime ditatorial como ligou o envolvimento de vários dirigentes desses meios com uma "conspiração" que levou ao golpe.
Elmar destacou que a resistência ficou a cargo de veículos alternativos de imprensa, mesmo que tenham sido sufocados pelo governo "com o apoio dos grandes grupos de comunicação". "Houve um projeto para acabar com esses jornais, ante o silêncio quase absoluto da mídia", disse. O jornalista lembrou a trajetória vitoriosa de um destes veículos, o Coojornal, editado por uma cooperativa de jornalistas de Porto Alegre nas décadas de 1970 e 1980. O veículo, de periodicidade mensal, teve circulação nacional e foi apontado como um dos mais importantes da imprensa alternativa brasileira.
O evento Diálogos em Rede, com a mediação da jornalista Naira Hofmeister, foi realizado no bar Pinacoteca, em Porto Alegre, e reuniu pouco menos de 30 interessados. Um dos participantes, o deputado estadual Raul Pont (PT), leu trechos de editoriais da época para comprovar que a imprensa contribuiu para criar uma atmosfera favorável para justificar o golpe. Se em 1964 falava-se em risco de "comunização", anos depois de a ditadura já ter se instalado, era normal usar o termo "revolução". Com uma página de uma edição da Zero Hora de 1970 em mãos, ironizou: "Quando saiu esse exemplar, eu estava fugindo de Porto Alegre, apesar de estarmos no sexto ano da 'Revolução Democrática'. Eu já tinha perdido dois empregos pelas minhas ideias".
Carlos Guazzelli, defensor público e coordenador da Comissão Estadual da Verdade, lembrou que os principais veículos do País registraram em editoriais agora em março, a propósito dos 50 anos do golpe, que de fato apoiaram o regime militar. "Esse mea culpa é muito questionável, muito cheio de 'mas'. Esses editoriais têm esse fundo: 'nós apoiamos o golpe pra afastar a ameaça do comunismo'. Coisa nenhuma! Esses jornais cresceram e ganharam importância justamente durante a ditadura", afirmou Guazzelli. Ao mencionar episódios de crimes cometidos na época da ditadura, acusou que "a Folha de S.Paulo é coautora das torturas. A imprensa foi conivente, cúmplice e às vezes coautora do golpe". Para ele, a imprensa mudou para pior desde a ditadura militar. "Na época, os jornais se diziam de direita, afirmavam sua posição. Hoje se disfarçam atrás de uma pseudoneutralidade", declarou o defensor.
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