"É preciso que os homens se incomodem", diz Cris Finger sobre assédio às mulheres

Vice-presidente da ARI conduziu o debate 'Deixa Ela Trabalhar''

Cerca de 90 pessoas compareceram à sede da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), em Porto Alegre, para acompanhar o bate-papo sobre o movimento 'Deixa Ela Trabalhar'. De acordo com a mediadora Cristiane Finger, que é vice-presidente da entidade, "é preciso que os homens se incomodem", e lutem junto às mulheres contra o assédio e o desrespeito. O encontro ocorreu na noite desta terça-feira, 10. 

Cris Finger, que já trabalhou com jornalismo esportivo, contou que, na sua época, no final da década de 80, escutou um coro de torcedores gritarem ofensas a ela durante cobertura em um estádio de futebol. Na sequência, ela passou a palavra às profissionais que compuseram a mesa. Participaram as jornalistas Alice Bastos Neves e Kelly Costa, da RBS TV; Ana Carolina Aguiar, da rádio Grenal; Laura Gross, da Guaíba; e Renata de Medeiros, da Gaúcha. Ainda, estiveram presentes o repórter Carlos Correa, do Correio do Povo, e os assessores Gabriel Cardoso, do Internacional, e João Paulo Fontoura, do Grêmio.

Alice acredita que o assédio e o machismo começam dentro da redação, de forma velada. Sobre isso, João Paulo disse que muitas ações desse tipo são mascaradas e "deixam todo mundo com os dedos cruzados para não chegar a público". Ana, por sua vez, enfatizou que, por ser mulher, precisa repetir muitas vezes alguma informação até a escutarem. Também se disse aliviada toda vez que uma nova profissional do sexo feminino entra na área, pois é uma quebra de gelo para melhorar a situação.

Em seu pronunciamento, Carlos defendeu que o encontro não era um debate, mas sim, uma conversa, pois ninguém defendia o outro lado e comentou sobre os relatos das meninas: "Não tem exagero, é a realidade". Dentre o machismo, de certa forma, velado, citado pelas jornalistas, estão escalar uma mulher para passar ao leitor "a análise feminina" e "chamar a repórter que está desfilando nas arquibancadas".

Quando Laura relatou que os colegas da Guaíba propuseram acabar com repórteres de torcida, tanto homens quanto mulheres, por causa do assédio por parte dos torcedores, Ana opinou que essa não é a solução, mas munir os colegas para as auxiliarem nessas situações. É o caso de Haroldo de Souza, que pede para ela falar no ar o nome de quem a agrediu. Renata concordou ao dizer que a omissão é o pior dos males, e contou que, quando foi atacada, nada foi dito no ar pelos companheiros. Bibiana Bolson, repórter da ESPM, também estava presente e salientou que "se os tempos são outros, os discursos também devem mudar".

Ana concluiu que, em episódios desse tipo, é essencial procurar as autoridades e os clubes, além de fazer a equipe entender como agir, principalmente, no ar. Ao final, Finger revelou que será enviado um documento, organizado pela ARI, às empresas e equipes esportivas para mudar a atuação diante da violência contra a mulher, além de dar respaldo às profissionais.

Exclusivo ao portal, a mediadora afirmou que a ARI é a casa dos jornalistas e tem como dever fomentar o debate e prezar pelo bem-estar dos profissionais. "Eu olho para as meninas e lembro que na minha época também sofri algo muito parecido, ou seja, muita coisa melhorou, mas não é um fato isolado ainda. Não adianta comemorarmos o Dia da Mulher se nos outros 364 dias há este tipo de assédio", declarou.

 

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