"Não devo voltar para a Venezuela neste governo", declara Rodrigo Lopes

Repórter de Zero Hora foi detido no quartel em Caracas por cerca de duas horas na última sexta-feira

Rodrigo Lopes em cobertura na Venezuela - Divulgação/Rodrigo Lopes

O que era para ser cinco dias de cobertura, virou apenas um. E boa parte dele se transformou em momentos de tensão para o repórter Rodrigo Lopes, enviado especial do Grupo RBS a Caracas, na Venezuela. O jornalista foi detido em uma unidade militar na frente do Palácio Miraflores, na última sexta-feira, 25, quando teve o celular e o passaporte apreendidos por forças do governo de Nicolás Maduro no Centro Estratégico de Seguridad y Protección de la Pátria. "Foram momentos de tensão, pois não sabia o que iria acontecer. Pensei que fosse ser preso ou levado para outro lugar", relatou em entrevista ao Coletiva.net.

Ao relembrar o episódio, Rodrigo disse que, após ter seus pertences como carteira, passaporte e celular apreendidos, foi liberado sob o aviso de que "se te pegarmos novamente, tu vais ser preso e responderá processo segundo as leis venezuelanas". "Não devo voltar para lá enquanto este governo estiver no poder", informou ao portal. Ele, que chegou na madrugada de sexta-feira e ficaria até amanhã, 29, viu-se obrigado a adiantar a passagem de volta, retornando ao Brasil no sábado, 26, após o episódio. "Me sinto triste por ter que voltar antes e abortar a cobertura, mas é bom ver que episódios como este servem para mostrar a censura que aquele país impõe aos profissionais de imprensa", afirmou o repórter.

Ao chegar ao hotel após ser liberado, o repórter entrou em contato com os editores de Zero Hora e com a direção do Grupo RBS. Em conjunto, Andiara Petterle (VP de Produto e Operações), Marcelo Rech (vice-presidente Editorial), Marta Gleich (diretora de Jornalismo de Rádio e Jornal) e Nilson Vargas (gerente de Jornais) decidiram pela volta de Rodrigo. "Normalmente, quem tem mais noção sobre situações de risco é o próprio repórter, que está no local de cobertura. Mas, neste caso, decidimos que seria mais seguro que ele retornasse", explicou Marta, em conversa com a equipe do portal. A diretora também lamentou o ocorrido, pois, na sua avaliação, "isso representa que o público não recebe a informação". A partir de agora, o Gupo RBS publicará notícias que chegarem por meio de agências parceiras.

Sobre os momentos de tensão vividos no quartel, Rodrigo fez questão de informar que não foi agredido fisicamente, mas o que fica é a pressão psicológica. Também relatou que, ao sair, recebeu todos os seus pertences de volta e nenhuma informação que estava no celular foi deletada, como texto ou foto. Devido às ameaças, permaneceu no hotel até a hora de ir ao aeroporto, às 16h de sábado. "Fiquei recluso por decisão acordada com o jornal e a história permaneceu em sigilo até minha chegada em Porto Alegre, por questões de segurança. Só fiquei tranquilo quando o avião decolou."

Nesta segunda-feira, 28, o Grupo RBS emitiu um comunicado oficial à imprensa sobre o caso, no qual "reitera sua defesa à liberdade de imprensa e repudia toda e qualquer forma de violência dirigida a jornalistas em atividade profissional".

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