Arquivos digitais do Jornal Já são confiscados pela Justiça

Materiais foram apreendidos em razão de uma dívida de R$ 155 mil que o impresso tem com o Banrisul

Elmar Bones - Reprodução

Arquivos digitais, computadores e impressoras da redação do Jornal Já foram confiscados pela Justiça na última quarta-feira, 24. A apreensão dos materiais ocorreu em razão de uma dívida de R$ 155 mil que o impresso dirigido por Elmar Bones tem com o Banrisul. Na manhã de hoje, 26, ele foi à 10ª Delegacia de Porto Alegre para fazer um Boletim de Ocorrência pela subtração dos equipamentos e arquivos dos trabalhos em andamento. Os advogados do veículo obtiveram uma liminar ordenando a devolução do material com urgência. "Não me importo muito com os materiais físicos. O que me preocupa são as informações que estavam nos computadores", relatou Elmar em entrevista ao Coletiva.net.

Os aparatos foram retirados da redação pela oficial de Justiça Andreia Daminelli Muniz em cumprimento ao mandado de penhora por conta da dívida com o banco. No momento da apreensão, apenas o repórter Tiago Baltz estava no local e Elmar estava acompanhando o julgamento do ex-presidente Lula no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) quando foi notificado. "Deixei o prédio para resolver, no entanto a oficial não esperou minha chegada", contou. De acordo com Elmar, os bens confiscados foram avaliados em R$ 3.750 no próprio auto de penhora.

O diretor do impresso falou ao portal que não foi avisado pelo defensor público que responde pelo veículo sobre a presença da oficial de Justiça. Entretanto, a 1ª Vara Cível do Foro Central de Porto Alegre, onde tramita o processo, publicou uma nota de expediente informando as partes envolvidas no caso quanto à visita. Por volta das 11h da quarta-feira, Andreia Muniz chegou à redação do Já no segundo andar do prédio da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), acompanhada do supervisor da agência Bom Fim e preposto do Banrisul, Lefebvre Luz de Saboya; do advogado de um escritório de cobrança terceirizado João Pedro Torves, e um funcionário cujo nome não ficou registrado pelo jornal. O trio portava um mandado para penhora de bens "quantos bastem para garantir a dívida e demais cominações legais".

Elmar declarou que a oficial informou eu os bens foram encaminhados ao depósito do leiloeiro Norton Jochims Fernandes, quem, por sua vez, disse que apenas as impressoras lhe foram entregues. Segundo o jornalista, um dos computadores foi localizado com o advogado Torves, que, consultado pelo jornal, recusou-se a permitir acesso aos arquivos digitais. Os demais objetos têm paradeiro desconhecido.

Entenda como surgiu a dívida:

A dívida de R$ 155 mil reais, em valores atualizados, se originou com uma reportagem premiada pelo próprio Banrisul, que patrocina o Prêmio ARI de Jornalismo. A instituição financeira pediu uma indenização por dano moral à família do então governador Germano Rigotto, cujo irmão era o personagem central de uma notícia que abordava uma fraude cometida contra os cofres públicos no Estado.

Com um novo governo estadual, em 2008, o jornal reestabeleceu relações com o Estado. A garantia da editora para contratar um empréstimo na época consistia na sua carteira de anunciantes, entre eles o Banrisul. Entretanto, a postura crítica do jornal em relação aos projetos do governo resultou no corte da publicidade. Em 2010, o caso chegou à Comissão Interamericana de Direitos Humanos e, três anos mais tarde, a ação foi admitida. Entre as consequências está a dívida com o banco. Atualmente, a equipe do jornal conta com seis pessoas, além de colaboradores e alguns voluntários.

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