Jornalistas brasileiros são mantidos reféns pelo Hezbollah

Gaúcho Tariq Saleh, que há dois anos atua de Beirute, está entre os profissionais detidos pela organização

"Não foi minha primeira vez, tampouco será a última. Mas foi uma amostra mais real do que as experiências anteriores, de como o Hezbollah, uma mistura de partido político, milícia e assistência social, possui uma mão sobre o Líbano que se sobressai à do governo", resumiu o jornalista gaúcho Tariq Saleh, que há dois anos atua em Beirute e esteve entre os reféns presos na última sexta-feira, 15, pelo Hezbollah. Ele e a equipe da TV Globo, formada pelo repórter Marcos Losekann e o cinegrafista Paulo Pimentel, foram detidos por mais de cinco horas. Em entrevista à Coletiva.net, Tariq explicou que a imprensa não repercutiu o fato durante o final de semana porque a prisão só foi divulgada por eles nesta segunda-feira, 18, através de post que publicou em seu blog


Tariq conta que o grupo estava no subúrbio ao sul de Beirute para uma reportagem sobre um restaurante, na área que é um dos redutos do Hezbollah no país. Mesmo com vistos legais e credenciais do Ministério de Informação libanês, a equipe solicitou permissão do escritório de imprensa do Hezbollah. "Obviamente que uma área tão militarizada e estratégica ao grupo xiita não será um convite a jornalistas, especialmente estrangeiros. O grupo tem direito de garantir sua segurança em prédios e áreas suas, mas não em propriedades privadas. Por isso imaginávamos que não seria problema a autorização", explica.


O jornalista afirma que as permissões costumam sair na mesma hora, mas esta foi negada à equipe. "Com a nossa conclusão de que a filmagem e entrevista se dariam dentro do restaurante, uma propriedade privada, decidimos seguir adiante. As tomadas externas seriam rápidas. Afinal, tínhamos permissão do governo, o governo libanês", explicou Tariq. Mas em menos de 20 minutos os profissionais foram presos, tendo passaportes, agendas, relógios, celulares, câmera fotográfica e outros equipamentos confiscados. Em seguida, foram levados para um prédio, sem que pudessem ver o trajeto. 


Após diversos questionamentos, a organização pediu a Tariq a senha de seu e-mail e devolveu sua câmera fotográfica sem o chip, que continha apenas fotos pessoais. "Desde que fomos detidos, o grupo violou vários direitos humanos e regras de imprensa", reclama o jornalista. "O Consulado mandou relatório hoje para o Itamaraty, que já cobrou explicações do governo libanês", acrescentou.


Tariq Saleh é jornalista brasileiro e correspondente para a BBC em Beirute, cobrindo Oriente Médio e África. É colaborador da Folha de S.Paulo e revistas brasileiras e estrangeiras e também produtor freelancer de TV na região.

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