Márcia Veiga compartilha construção de pesquisa sobre gênero no Jornalismo

Fala da professora da Unisinos integrou programação do I Ciclo de Humanidades e Diversidade, da ESPM-Sul

Márcia Veiga - Divulgação/Coletiva.net

A jornalista e professora da Unisinos Márcia Veiga da Silva compartilhou com uma turma de 40 alunos e docentes da ESPM-Sul como se deu a construção de sua pesquisa de mestrado sobre gênero no Jornalismo, que resultou em um livro. A fala da pesquisadora integrou a programação do I Ciclo de Humanidades e Diversidade, que aconteceu nos dias 6, 7 e 8 na sede da Escola, em Porto Alegre.

"As convenções sociais, estabelecidas ao longo da história, definem não somente os papéis de homens e mulheres, mas que todas as coisas no mundo possuem um valor relativo ao gênero", declarou Márcia, desmistificando o senso comum de que gênero está restrito aos órgãos sexuais. A pesquisadora acrescentou que, muito além do sujeito, é preciso considerar no que implica os valores masculinos e femininos, que servem de baliza para selecionar pautas, determinar repórter para desenvolver reportagens e escolher fontes.

Para a elaboração do trabalho do mestrado, em 2009, acompanhou por três meses as rotinas produtivas de um telejornal da Capital - cujo nome não foi revelado -, a fim de verificar as concepções de gênero dos profissionais da área. Com a experiência, identificou que a questão não está apenas nas notícias, mas na hierarquia de cargos. "Os conhecimentos dominantes daqueles jornalistas, quanto ao ser homem ou mulher e branco ou negro, por exemplo, perpassavam o desenvolvimento das pautas e fontes", pontuou.

Ainda, relatou que presenciou a aplicação de preconceitos em diferentes partes do processo jornalístico. Em sua avaliação, identificou que os repórteres eram escolhidos a partir de marcadores sociais, como raça, gênero e características sexuais. "Homens afeminados não tinham o mesmo prestígio daqueles que cobriam pautas de cunho investigativo", destacou, salientando que não era o sujeito considerado, mas os atributos.

Márcia contou que, infelizmente, as redações reproduzem valores dominantes e não se permitem, em sua maioria, contar novas histórias. Do acompanhamento, constatou que os profissionais são etnocêntricos, ou seja, julgam e classificam as pessoas subjetivamente. "É nosso dever e responsabilidade demonstrar as diferenças, sem tratá-las como anormalidade, desvio ou estranheza."

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