Silvio Luiz Benfica: surpreenda-o, ou serás surpreendido

Radialista, ele é movido por desafios e, aos 62 anos, encara nova fase na carreira

Silvio Benfica - Divulgação

Silvio Luiz Gomes Benfica nasceu na década de 50, em Osório, no litoral gaúcho. Cresceu na época do auge do rádio no Brasil acompanhando o trabalho do pai, o radialista Argeu Gomes Benfica, já falecido, e pegou gosto pela profissão. "Eu ia direto com ele para o estúdio. Com apenas 16 anos sabia a carreira que queria seguir e a exerci até os 62". Apesar da formação em Contabilidade adquirida no ginásio onde estudou na adolescência, foi nos microfones que se realizou profissionalmente e se dedicou durante 46 anos.  

A mania de organização é uma das características que, talvez, o ouvinte nem imagine. "Diariamente anoto as tarefas que preciso realizar. Sempre à mão em um pedaço de papel. Vou realizando e riscando. Só que minha organização envolve também a limpeza do ambiente. Eu mesmo varria o estúdio e limpava toda a minha mesa de trabalho antes de começar o dia", conta.

Absolutamente inquieto, como se intitula, é angustiado por coisas novas. Apesar de atuar na mesma área por muito tempo, sempre buscou fazer diferente para avançar na comunicação. Após absorver o máximo do que o jornalismo do rádio lhe proporcionou, Benfica embarca, agora, em uma nova etapa que carrega também um grande desejo pessoal: trabalhar em projetos que absorvam ainda mais conteúdo dos jovens que estão iniciando na comunicação. E ele adianta que, para vencer, é preciso ter ética, organização e algum talento.

Desde guri

Quando entrou no ginásio, aos 12 anos, imediatamente foi convocado para integrar o time de futebol da escola, que se chamava 'Os Mirins da Industrial'. "A gurizada do time tinha, em média, 14 anos e eu ali no meio. Na mesma época, entrei para a banda do ginásio, onde, durante três anos, toquei caixa e tarol. O ano de 67 foi maravilhoso!", recorda, entusiasmado.

Brincalhão, conta que vivia na rua com os amigos. "Jogava futebol, taco, bolinha de gude... Muitas vezes, minha mãe teve que ir atrás de mim, pois era tarde da noite e eu não voltava para casa." O carinho entre os amigos da época é mantido até hoje, em encontros no litoral. "Cinquenta anos se passaram e ainda mantenho contato com eles", comemora. Com 14 anos era folguista de operador de áudio e, aos 15, oficialmente em 5 de fevereiro de 1970, começou como locutor na rádio Osório, seguindo a rotina de estudo durante o dia e trabalho à noite.

O ano de 1971 é declarado como o mais emblemático para o radialista. Na adolescência, participou de uma viagem de ônibus ao Rio de Janeiro, junto de colegas e professores. "Foi quando aconteceu a experiência que norteou todos os caminhos que percorri até hoje: a morte do meu pai", recorda. Argeu faleceu aos 46 anos vítima de tuberculose, durante a viagem do filho. Assumiu as responsabilidades da casa e passou a cuidar da mãe, Maria Gomes Benfica, e dos irmãos Luis Henrique, Ângela, Tânia (já falecida), e Sueli (irmã de criação). "Na época o salário que ganhava não era suficiente para sustentar a todos. Arranjei outro emprego, em um cartório", explica.

O lado família

"Carrego os princípios dos meus pais", afirma quando cita os valores de correção, honestidade, postura e enfrentamento de vida, que busca transmitir aos filhos. "Acredito que é uma espécie de reação em cadeia. Se és bem-educado e trabalhas em cima dos valores ensinados pela tua família, vais fazer isto com o próximo."

Casado com Solange Figueira Benfica há 31 anos, a quem conheceu ainda em Osório, teve dois filhos, Eduardo e Matheus, que possuem uma empresa de Marketing e Assessoria esportiva. "Os dois sempre gostaram muito de esporte e eu e minha esposa apoiamos a decisão deles. Ajudamos no que pudemos e, hoje, eles caminham com as próprias pernas", destaca, orgulhoso.

Gostos e manias

"Aprecio músicas antigas e históricas. Entrei no rádio em 1969 e, como operador, rodei Beatles enquanto eles eram vivos. Peguei o auge no último ano da banda". A vivência qualificou e marcou o gosto musical de Benfica, que cita, também, os brasileiros Raul Seixas e Tim Maia. Os artistas também são citados quando o assunto é literatura. Apreciador das biografias, Benfica recomenda, as de Tim Maia, Elis Regina, Erasmo Carlos e do produtor musical Carlos Imperial. No esporte, indica a leitura da biografia de Pelé, Garrincha e Tostão. Mas a história que mais o impressionou, foi a da revolucionária alemã, Olga Prestes, pela coragem e determinação.

Com o jornalismo, realizou coberturas nos quatro cantos do mundo. Conhece toda a América do Sul, foi à Europa, aos Estados Unidos, ao Canadá, México, e Coréia do Sul. Das cidades que mais se destacam está Paris, para onde já viajou quatro vezes. "Se existe uma coisa hoje que adoro fazer, é viajar com a família. Hoje, ela é a cidade que mais gosto. Tudo me encanta na capital francesa. Não existe coisa mais maravilhosa do que tomar um café na Champs Elisé. É um lugar que, se puder, irei todo o ano nem que seja uma viajem de um dia, só para o café", conta. Os destinos são tantos que ele e a esposa participam de um grupo de viagens, com mais quatro casais. "É uma turma que faz o clima ser sempre agradável, seja em qualquer canto do mundo ou situação", relata.

Na hora de dormir, troca a leitura pela TV. Conta que sempre dormiu muito tarde, e imprescindivelmente com a companhia da telinha ligada. "Não consigo pegar no sono sem assistir a algum programa. O Pedro Bial tem sido meu companheiro dos últimos tempos", confessa. Já no quesito futebol, expressa uma reação sensacional: "Noooossa! Eu não torço para time de futebol. Uma das coisas que aprendi, trabalhando 32 anos com isso, é que tu te tornas absolutamente profissional e que a condição de torcedor morre em ti".

Ampliando conhecimento

Em 1984 ingressou na rádio Gaúcha para trabalhar na editoria de Esporte. Depois, depois ampliou os conhecimentos para outros assuntos. "Todo o jornalista deve ter um controle geral de informações", acredita. Na emissora do Grupo RBS apresentou noticiários, programas musicais, esportivos e, até, previsão do tempo. "As rádios do Interior são escolas extraordinárias. Quando cheguei a Porto Alegre já tinha uma boa base. Meu pai trabalhou isto muito bem na minha cabeça."

Benfica trabalhou ao lado de grandes nomes que fizeram história no Jornalismo esportivo gaúcho, como Ruy Carlos Ostermann, Lauro Quadros, Paulo Sant'Anna, Armindo Antônio Ranzolin, Mendes Ribeiro e Candido Norberto. Deles, carrega aprendizados e lições. De Mendes Ribeiro, carrega uma das maiores lições e que recomenda até hoje: "Nem sempre o melhor repórter é o que sabe perguntar. Às vezes, o melhor repórter é o que sabe ouvir".

Enfrentar novos desafios é um ato que o fascina e conta que, hoje, em função dos projetos que está construindo, movimenta-se mais do que quando trabalhava na rádio. Apesar de toda a correria, Benfica sente-se absolutamente realizado. "Tudo o que imaginei e idealizei, deu certo." Após três décadas de empresa, Benfica decidiu sair da rádio Gaúcha neste ano.

Hoje, com uma equipe jovem, toca projetos com muita dedicação e empolgação. Recentemente, produziu uma palestra cujo título era 'Superando desafios, realizando sonhos'. "Minha vida está expressa nisso, e sempre foi assim", diz. "No rádio eu já havia aprendido a aplicar algumas tecnologias, mas tinha quem a fizesse por mim. Agora, estou aprendendo e me inteirando cada vez mais para fazer eu mesmo". Movido por instinto, o radialista salienta: "Me surpreendam, pois posso surpreendê-los a qualquer momento".

Comentários