Ombudsmans debatem falta de cultura histórica e de contextualização no jornalismo

Resultado são coberturas preconceituosas e caricaturais de temas sociais

Segundo os debatedores da 26ª Conferência Anual da ONO (Organization of News Ombudsmen, ou Organização de Ombudsmans de Notícias), a falta de cultura histórica e de contextualização no jornalismo ocasiona coberturas preconceituosas e caricaturais de temas sociais. O assunto foi discutido ontem, no evento que está sendo realizado em São Paulo com a organização da  Folha (Ver nota anterior).


A nacionalização do gás na Bolívia, as manifestações em Paris, que resultaram na queima de centenas de automóveis, as charges contra o profeta Maomé e a cobertura de ações policiais nas favelas do Rio foram temas de debates entre Demétrio Magnoli, geógrafo e colunista da Folha, Robert James Batten, do grupo Australian Broadcasting Corporation, e Stephen Pritchard, ombudsman do jornal britânico "The Observer".


No caso mais recente, do gás boliviano, Magnoli afirmou que a mídia preferiu fechar o foco na influência do presidente venezuelano Hugo Chávez no episódio. Isso colocou o "vulcão social" boliviano em segundo plano entre as motivações que levaram o presidente da Bolívia, Evo Morales, a adotar a medida. "O fator social foi esquecido, como se Morales tivesse alternativas", disse. No caso das charges contra o profeta Maomé, Magnoli disse que as manifestações "menores e específicas na Europa" foram tratadas com a mesma relevância das "grandes e violentas" no Oriente Médio, dando força erroneamente à tese de um "choque de civilizações" entre o mundo ocidental e islâmico.


Robert Batten discorreu sobre a amplificação de preconceitos pela mídia ao analisar as manifestações contra libaneses ocorridas no final de 2005 na Austrália. Segundo ele, o assunto começou como um pequeno desentendimento entre descendentes de libaneses e três salva-vidas australianos. Nos dias seguintes, acabou se tornando um caso de perseguição nacional contra libaneses depois que uma rádio adotou tom preconceituoso.


Ontem, durante um jantar de confraternização, o diretor de Redação da Folha, Otavio Frias Filho, ressaltou a importância da função. "A opinião de um ombudsman independente é o mais valioso dos mecanismos de freios e contrapesos capazes de moderar eventuais abusos de um veículo e corrigir seus rumos", afirmou.


 

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