Flávio Tavares conta na Assembleia o que viveu durante a ditadura

Jornalista foi ouvido pelos integrantes da Subcomissão da Verdade nesta sexta-feira

O jornalista e escritor Flávio Tavares contou na manhã desta sexta-feira, 22, à Subcomissão da Verdade, Memória e Justiça da Assembleia Legislativa, um pouco do que viveu durante a ditadura militar no Brasil. Relator da subcomissão, o deputado Pedro Ruas (Psol) destacou a importância de Flávio como jornalista e participante da luta armada contra o golpe de 1964. Flávio foi um dos presos políticos trocados pelo embaixador norte-americano Charles Elbrick. "Meu relato tem sentido na medida em que entendamos que o que aconteceu comigo, com a minha geração, pode acontecer com futuras gerações, se houver nova ruptura democrática", afirmou o jornalista.
Aluno de colégio marista e ligado à Ação Católica na juventude, aos 20 anos foi eleito presidente da União Estadual dos Estudantes do Rio Grande do Sul. Formou-se em Direito, mas nunca atuou como advogado, trabalhando desde cedo no Jornalismo. Foi comentarista político do jornal Última Hora, quando cobriu eventos importantes pelo jornal, como a Conferência da Organização dos Estados Americanos, em 1961. Lá, conheceu Ernesto Che Guevara, que era o delegado de Cuba.
Flávio, que também foi um dos fundadores da Universidade de Brasília, lembrou que foi preso pela primeira vez logo após o golpe militar e solto um dia depois, com um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal e um pedido de desculpas anunciado na "Hora do Brasil". "No início, a ditadura aqui foi muito branda. Nos vigiava, mas garantia a liberdade de imprensa. A ditadura se disfarçava", recorda. Logo após, iniciou sua participação na luta armada contra o golpe integrando o Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR) e, depois, na prisão, ao Movimento Armado Revolucionário (MAR). Entre 1967 e 1969, foi preso outra vez, acusado de participar de uma ação armada para libertar presos políticos. "Aí, eu fui conhecer a tortura, que eu duvidava que acontecesse daquela forma", confessou.
Em setembro de 1969, foi enviado para o exílio, no México, junto com outros 15 prisioneiros trocados pelo embaixador norte-americano Charles Elbrick. Lá, colaborou com jornais do país e com o brasileiro O Estado de São Paulo, quando foi viver em Buenos Aires. Quando a trabalho esteve no Uruguai, foi sequestrado por órgãos de repressão daquele país e permaneceu preso por quase 200 dias. "A partir da mobilização do Estadão e da pressão internacional sobre o governo Geisel, especialmente da política de direitos humanos do presidente americano Jimmy Carter, fui expulso do Uruguai e aceitei oferta de asilo em Portugal", lembrou o jornalista, que só retornou ao Brasil com a anistia de 1979.
Para Flávio, o fim dos anos 1960 foi o período de opressão máxima. "Foi quando se instituiu a tortura como prática, quando se legalizou o assassinato, que se definiu o real caráter da ditadura brasileira", ressaltou. "O choque elétrico destrói a pessoa a partir de suas entranhas. A pessoa vira um morto-vivo", definiu.
Além de Pedro Ruas, acompanharam o relato a coordenadora da bancada do Psol na Assembleia Legislativa, ex-deputada Luciana Genro, e a coordenadora do Comitê Carlos da Ré, Christine Rondon Teixeira.

Crédito: Luiz Morem/Agência ALRS

Crédito: Luiz Morem/Agência ALRS


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