"Todos somos machistas", provoca diretora da Malagueta

Fernanda Romano trouxe ao público dados que comprovam que igualdade de gêneros está longe de se tornar realidade no mercado de trabalho

Crédito: Clarissa Menna Barreto/PUC
Em sequência ao painel "Mulheres que estão liderando e construindo diferença", a diretora da Malagueta (NY), Fernanda Romano, trouxe ao público uma série de dados que comprovam que a igualdade de gêneros ainda está longe de se tornar uma realidade no mercado de trabalho. Embora sejam em torno de 45% da força de trabalho inicial, quando avalia-se o quadro de altos cargos a presença de profissionais do gênero feminino percentual cai drasticamente. "Quando se coloca pessoas diferentes numa sala, tem conflito e conflito gera criatividade", analisou.
Diante da restrita presença de mulheres palestrantes no evento, Fernanda relatou que o mesmo acontece no Festival de Cannes. "80% dos palestrantes são homens brancos. E não estou falando só de mulheres, mas também gays, transgêneros. Falar de diversidade é um problema", afirmou.
Dados trazidos por ela apontam um cenário preocupante quando se trata de mulheres ocupando a mesma posição de homens e recebendo salários inferiores. É o chamado pay gap. Em 2006, as mulheres na América Latina recebiam uma média salarial de 6 mil dólares por ano, enquanto a média masculina era 11 mil dólares. Em 2016, os números avançaram para 11 mil e 22 mil dólares, respectivamente. "Dobrou para os dois gêneros, mas o gap continua o mesmo. Na América Latina, vai demorar 65 anos para não termos esse pay gap", revelou.
Para Fernanda, todos, inconscientemente, são machistas. "Sou um produto do meio", enfatizou, ao relatar que, na faculdade, os cientistas celebrados, que ilustravam quadros nas paredes, eram todos homens. "A gente cresceu olhando símbolos masculinos. O primeiro a pisar na lua, o primeiro a cruzar o Atlântico?", acrescentou.
Em seguida, citou algumas iniciativas que buscam mudar esse cenário, entre eles, um livro que conta histórias de mulheres rebeldes para ler antes de dormir, e um brinquedo que ensina meninas sobre temas como mecânica e elétrica. Fernanda ainda indicou personalidades que fazem a diferença quando o tema é igualdade de gêneros e ressaltou que esse esforço não se restringe às mulheres. Entre os apresentados, um exemplo masculino é Shamil Makhecha, do projeto Youth for Change, que conduz iniciativa dedicada a preparar meninos para não serem machistas.
Fernanda intercalou sua apresentação com vídeos de crianças que questionam imposições das empresas, como a indução de compra de princesas para meninas e super-heróis para meninos. "Temos uma grande responsabilidade como comunicadores. Tem que parar de colocar as mulheres nessas. Ou os comunicadores ajudam a mudar isso ou teremos que esperar pelas crianças", finalizou.

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