Entidades representativas repudiam caso que envolve técnico e jornalista

ARI e Sindijors emitiram notas oficiais em solidariedade à repórter da RBS TV Kelly Costa

Guto Ferreira fala com Kelly Costa na zona mista do Beira-Rio | Créditos: Renata de Medeiros/Reprodução
Em solidariedade à repórter esportiva da RBS TV Kelly Costa, a Associação Riograndense de Imprensa (ARI) e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindijors) repudiaram a declaração do treinador do Internacional, Guto Ferreira, em entrevista coletiva cedida na terça-feira, 18. As entidades representativas emitiram notas oficiais de apoio à jornalista e ao fim da discriminação de gênero no exercício da profissão. Na ocasião, o técnico disse que não responderia ao questionamento da jornalista por ela ser mulher.
Em nome da ARI, a 2º vice-presidente, Cristiane Finger, e o presidente do Conselho Deliberativo, Batista Filho, declararam que é preciso discutir e divulgar casos como este para que não se repitam. "O incidente demonstra que ainda hoje há um desrespeito para com as colegas jornalistas, em especial no mundo do futebol."
O presidente do Sindijors, Milton Simas, por sua vez, condenou o que chamou de agressão do técnico. "Independentemente da situação do time, deveria haver o bom senso de que não se pode atacar outros profissionais. É lamentável que jornalistas mulheres tenham que sofrer com o sexismo", declarou.
Colegas de profissão também demonstraram repúdio às palavras do comandante colorado. A jornalista esportiva da rádio Gaúcha Renata de Medeiros se manifestou em seu perfil no Facebook. "Estudei Jornalismo por quatro anos, cursei Gestão Técnica do Futebol pela Universidade do Futebol, fiz muitos cursos sobre tática e sempre li muito sobre o assunto. Mesmo assim, parece que sempre estou em desvantagem com relação aos colegas. Por que eles fizeram mais cursos do que eu? Não. Porque eles são homens. Eles não precisam provar nada", escreveu.
após a repercussão do fato, Gito Ferreira se desculpou publicamente e foi ao Globo Esporte para se retratar pessoalmente com a equipe de imprensa.
Confira as notas da ARI e do Sindijors na íntegra:
ARI - A Associação Riograndense de Imprensa vem, por meio desta, prestar solidariedade à jornalista Kelly Costa, da RBS, que ontem no exercício da sua atividade profissional foi afrontada pela discriminação de gênero, durante uma entrevista coletiva com o técnico do Sport Club Internacional, transmitida ao vivo. Ainda que o Sr. Guto Ferreira tenha posteriormente, fora do ar, feito o pedido de desculpas, o incidente demonstra que ainda hoje há um desrespeito para com as colegas jornalistas, em especial no mundo do futebol. Atitude que repudiamos com veemência e que deve ser combatida pelos clubes, pelos jogadores, pelos torcedores, pelos colegas jornalistas, pelas entidades representativas como a nossa, por toda a sociedade. É preciso discutir e divulgar casos como este para que nunca mais aconteça.
Sindijors - A direção do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS (SINDJORS) repudia o comentário machista feito pelo técnico do Internacional, Guto Ferreira, para a repórter Kelly Costa, da Rádio Gaúcha. Após a partida do time contra o Luverdense, no Beira-Rio, nessa terça-feira, dia 18, a jornalista questionou se o comandante da equipe reconhecia falhas técnicas durante o jogo. Em sua resposta, Ferreira falou que Kelly é "mulher e, de repente, não jogou".
Depois da coletiva de imprensa, o técnico procurou a jornalista para se retratar. Na manhã desta quarta-feira, dia 19, ele reforçou o pedido de desculpas no programa Redação SporTV. Ocorre que esse ataque contra uma profissional de imprensa não é um caso isolado, e o clube deveria procurar formas de promover ações educativas para preveni-los. O goleiro Danilo Fernandes, por exemplo, recentemente se exaltou e proferiu um palavrão em ofensa a jornalistas ao deixar o campo.
"Independentemente da situação do time, deveria haver o bom senso de que não se pode atacar outros profissionais gratuitamente. É lamentável que jornalistas mulheres tenham que sofrer com o sexismo", avalia o presidente do SINDJORS, Milton Simas.
"Ser mulher no jornalismo esportivo é heroísmo", desabafou Renata Medeiros, colega de Kelly, nas redes sociais. Constatação essa que, infelizmente, não foge da realidade. "E, gostem ou não, caras, a gente vai continuar. Não porque queremos ser melhor que vocês. Apenas porque queremos mostrar que merecemos o mesmo respeito que vocês têm", finalizou.
No futebol, o que vemos dentro e fora de campo, para além do esporte, são, não raras, agressões físicas e verbais, geralmente associadas a alguma forma de preconceito. É um fato que precisa ser combatido com o empenho de clubes, de torcidas, da sociedade de modo geral.

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