Paulo Kendzerski: Olho de empreendedor

Sempre com o tino aguçado, ele buscou entender as transformações no mundo e, mais importante, colocá-las em prática na própria vida

Paulo Kendzerski - Divulgação

O ano de 2016 sempre estará na memória de Paulo Kendzerski. Não como algo positivo, tampouco negativo. Quem sabe um pouco dos dois. Com a data na ponta da língua, o empreendedor revela que, em 8 de junho daquele ano, deu-se conta de que precisava mudar o ritmo de vida. Naquele dia, entrou no bloco cirúrgico do Hospital Mãe de Deus, pois estava em vias de ter um AVC. "Foi quando decidi que precisava olhar mais para mim e percebi que queria ver minhas netas crescerem", sentencia.

Na lida desde os 16 anos de idade, diz que o vírus do empreendedorismo despertou cedo, tanto é que, salvo poucas experiências como colaborador em empresas, sempre foi atrás de ter o próprio negócio. E, assim, desde agosto de 2000, administra a agência WBI, focada em internet e cultura tecnológica, e que trabalha as últimas tendências de comunicação e relacionamento digital. Mais tarde, em 2017, fundou o Instituto da Transformação Digital, cuja proposta é estudar o grau de maturidade digital de empresas.

Natural de Pelotas, brinca que é pelotense de nascimento e porto-alegrense de adoção. "Na juventude, nunca pensei que viria para a Capital, mas adoro poder sair pela cidade e encontrar tudo o que quero a qualquer hora do dia", declara, contando que teve uma época em que, todo sábado pela manhã, buscava conhecer algum café ou padaria diferente em Porto Alegre, onde está há 20 anos.

Porto-alegrense por adoção

Sua vinda para a capital gaúcha, além de ser devido ao trabalho, muito teve relação com o filho mais velho, Paulo Roberto Kendzerski Júnior, que, na adolescência, jogava futebol. Quando o primogênito foi chamado para fazer um teste na categoria de base do Grêmio, o pai, naturalmente, não deixaria de acompanhá-lo. O futuro do garoto, no entanto, foi outro. Optou por deixar de lado a paixão pelo esporte para se dedicar à WBI, na qual, hoje, é responsável pelo atendimento aos clientes e pelas campanhas da agência. Com orgulho, Paulo diz que Júnior foi o primeiro profissional certificado no Google no Rio Grande do Sul.

Quando da mudança para Porto Alegre, em janeiro de 1998, encontrou uma oportunidade de trabalhar em uma empresa de provedor de internet em Canoas. Não durou muito. Em questão de um ano, percebeu que a função não era para ele e, por isso, buscou investir no próprio negócio. Não é estranho pensar que ele é formado em Análises de Sistemas, pela Universidade Federal de Pelotas, afinal, escolheu o curso devido ao advento da internet e, confessa, não tinha muitos concorrentes no vestibular. Contudo, é curioso imaginar que chegou a estudar Meteorologia e Engenharia Agrícola. O primeiro se deu por sua facilidade com matemática e o segundo por influência do pai. E, em resumo, não seguiu carreira em nenhuma das três áreas.

E a internet? Essa, sim, acompanhou o profissional ao longo de sua trajetória, entretanto, não como seria se tivesse seguido na área de formação. Ainda em Pelotas, costuma dizer que, em dois momentos, encarou o que se chama de 'Crise dos sete anos'. Primeiro, quando atuou por esse período na Procergs, e, depois, pelos sete anos seguintes, se dedicou à companhia telefônica da cidade.

Ainda na terra dos doces, e já focado em empreender, abriu uma loja de artigos esportivos, pois acompanhava o setor por conta do filho atleta. Porém, a Energy Sports fechou em dois anos. "Descobri aí que ninguém entra em um estabelecimento e sobe para o segundo piso", diz, aos risos, referindo-se à empresa que ficava no segundo andar do local. Antes de se mudar para a Capital, trabalhou por um período breve de um ano no primeiro provedor de internet no interior do Estado.

Tudo em família

Assim como Júnior, a caçula, Tatiane, de 33 anos, também trabalha na empresa. "A WBI Brasil é nepotismo puro", declara, divertindo-se e, ao mesmo tempo, satisfeito com o fato de que conseguiu reunir a família no negócio. A filha é responsável pela parte administrativa, fazendo contatos com clientes e cuidando do dia a dia da agência. "Ela contribui desde adolescente, quando ajudava ainda na época da escola, respondendo a e-mails enquanto eu estava ausente por conta das viagens", explica Paulo.

Viagens, inclusive, eram e ainda são frequentes na rotina, embora ele tenha diminuído o ritmo há cerca de três anos, depois do episódio emblemático de 2016. No começo da empresa, Paulo se reunia com lojistas, em parceria com o Sindilojas de Porto Alegre, para esclarecer questões relacionadas ao universo digital e como ele influenciaria nos negócios. Assim nasceu o Café com Internet, circuito de encontros que levou para todo o Brasil, resultando em 289 edições, em 26 cidades, atingindo mais de 55 mil pessoas.

Não satisfeito, seguiu o ditado de que todo homem precisa criar um filho (no seu caso, dois), plantar uma árvore (segundo ele, foram várias) e escrever um livro. E, em 2005, lançou, publicou e divulgou a obra 'Web Marketing e Comunicação Digital'. Tomou a frente de todo o processo, aprendeu sobre frete e logística e chegou a vender dois mil exemplares na primeira edição. "Está entre os cinco principais livros ligados ao Marketing Digital", registra, orgulhoso.

A vida é uma só

Com tanto envolvimento familiar no trabalho, para não caírem na tentação de falar sobre a empresa nos momentos de lazer, Paulo tem uma caixa na entrada da sala de casa para que, em almoços de domingo, por exemplo, todos depositem o celular ali. Assim, conseguem, ou tentam ao menos, conversar sem intervenções tecnológicas. "Nem sempre funciona, mas buscamos separar um pouquinho uma atividade da outra nessas horas", esclarece.

Quando não está trabalhando, ou seja, quase nunca, Paulo gosta de ficar em casa. "Adoro viajar, mas também gosto muito de voltar", afirma, categórico. Considera um prazer ímpar sentar no sofá para assistir a um filme ou a uma série, com preferências para o gênero Policial e História, respectivamente. "Sou especialista em Pablo Escobar", ri, ao contar que assistiu ao seriado Narcos de cabo a rabo. Inclusive, tenta se controlar para não avançar madrugada adentro em frente à TV. Uma mania, aliás, que quer perder, seguindo a linha de mudança de estilo de vida, pois foi alertado pelos médicos que precisa alinhar os horários da rotina diária.

Isso inclui, ainda, a alimentação. Desde que mudou os hábitos alimentares e voltou a caminhar, emagreceu 15 quilos. No entanto, não abre mão do churrasco, seu prato preferido por ser a única refeição que sabe fazer, além de um sanduíche de forno "especial". Este segundo prato, lembra, aprendeu quando precisou, sozinho, preparar um jantar para os filhos. Hoje, é sucesso na casa e entre os amigos.

Para a esposa, Rosane, é só elogios. "Uma cozinheira de mão cheia!", derrete-se. Mas não é só isso. Conforme Paulo, a amada é o que chama de base da relação familiar. "Ela que organiza todo o circuito e mantém o controle da família", assegura, explicando que, antes, era quem respondia pela organização dos eventos e, hoje, passou a se dedicar com mais afinco às quatro netas, duas de cada filho.

Na TV, além de filmes, releva ser "noveleiro por profissão" e diz assistir, entre outras, Malhação "para entender a geração de estudante". Big Brother Brasil também está na lista, desde a primeira edição, em 2002, e tudo tem uma explicação: "É um espelho da sociedade e apresenta os perfis do brasileiro", acredita. Somam-se a isso partidas de futebol, mesmo dos piores times da terceira divisão, além de basquete e, claro, a final do Superbowl, o que chama de "aula de Marketing".

Em fase de aprendizado

Mesmo com o filho, na adolescência, tendo treinado no Grêmio, Paulo não é gremista. Embora em Porto Alegre torça pelo Internacional, seu time do coração mesmo é o Brasil de Pelotas. "Acho que ajudei a construir o estádio Bento Freitas, de tantos tijolos que eu, com uns 12 anos, levei para lá. Eu era daqueles que ia para assistir aos treinos", recorda, como uma doce lembrança da infância.

Apesar da escolha do filho ter sido o Tricolor, a filha, por outro lado, seguiu os passos do pai e é colorada. Tranquilo, Paulo explica que nunca influenciou os pequenos quanto aos times, pelo contrário, deixou-os livres para eleger suas próprias preferências. Sobre Júnior, o pai achou natural, pois ele, nascido em 1983, "pegou a época de glória do clube".

Na playlist, toca de tudo, incluindo funk. "Quando as netas entram no meu carro, se divertem e logo pedem para eu colocar minha seleção musical", comenta. Curioso e inquieto, informa que tudo é uma questão de experiência e que está no mundo para provar. Por isso, prefere não se ater a detalhes e preferências.

Emocionado e um tanto quanto triste, fala dos animais de estimação, que adora. A tristeza é por conta da perda da Gorda, uma Sharpei que, aos 14 anos de idade, o deixou há cerca de 15 dias da entrevista. "Nem gosto muito de falar", alerta. Mas quando comenta sobre a mini Shitzu Lola, logo se anima e diz que foi a esposa que o ensinou a amar os animais.

Ao refletir sobre sua vida, procura focar no futuro, pois entende que "o passado já passou". Por isso, considera que é um eterno aprendiz. "Sou analógico e preciso me inserir em um mundo digital. Agora, me desafio todo dia a aprender a viver", constata.

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