Tiago Dimer: Vida de destinos

Uma carreira que, não raro, o remete à infância ou fases que vão e voltam à lembrança

Tiago Dimer - Crédito: Michael Paz Frantzeski

Quem trabalhou na antiga TV Guaíba na década de 80 certamente, em algum momento, cruzou nos corredores com um menino moreno, por volta dos seus sete ou oito anos. Ainda, há quem o viu desbravando a casa do Parlamento gaúcho, mais precisamente, em um restaurante localizado no 11º andar do prédio. Este guri é hoje o superintendente de Comunicação da Assembleia Legislativa, Tiago Dimer.

De volta à casa que abrigou por muitos anos o negócio do avô materno, Luiz, ele tem escutado com carinho os elogios que os colegas do trabalho tecem ao patriarca e à comida que era oferecida no local. "Inclusive, meus pais casaram aqui", comenta. Aliás, este é o segundo retorno. Dimer teve uma passagem rápida pelo local aos 20 anos, quando estagiou na bancada do PTB.

O destino tratou de se fazer presente em outro momento: dentre tantos locais pelos quais passou na trajetória profissional, um deles foi pela TV Record. A experiência também o fez voltar no tempo, já que a emissora pertence ao Grupo Record RS, que comprou a TV Guaíba (extinta em 2007). Em 1984, ao passar por dificuldades financeiras, a Companhia Jornalística Caldas Júnior precisou abrir mão das emissoras que possuía. Para não serem perdidas as concessões da televisão e rádio, um grupo de empresários se reuniu para administrar os veículos até estes serem comprados. Dentre eles, estava o pai de Dimer, Vitor - que era dono de uma construtura.

Apesar de tentar trilhar outros caminhos, como Economia, Arquitetura e Direito, a Comunicação Social, mais precisamente o Jornalismo, acabou o conquistando. Hoje, Dimer carrega uma boa bagagem profissional ligada, principalmente, às áreas de televisão e política - justamente, sobre o que tanto viu e ouviu quando criança.

Duas paixões

A primeira campanha eleitoral da qual Dimer participou profissionalmente foi a de Antônio Brito, que concorria em 2002 ao governo do Estado. Foi amor à primeira vista. De lá para cá, fez mais seis que, inclusive, resultaram em trabalhos na Comunicação Pública. Após José Fogaça vencer a eleição municipal de Porto Alegre, foi trabalhar na prefeitura; e, durante o governo de José Ivo Sartori, exerceu a função de diretor de Publicidade e secretário-adjunto na Secretaria Estadual de Comunicação. A campanha do governador conhecido por Gringo, inclusive, foi a segunda em que Dimer esteve à frente e coordenou - a primeira foi em uma candidatura à Câmara de Vereadores. Nas outras, exerceu funções mais operacionais, como trabalhar na rádio, por exemplo.

A TVE foi quem o abriu as portas na televisão, e foi onde atuou por dois anos. "Foi uma experiência maravilhosa para mim, a minha universidade na prática", recorda ele, ao comentar que, na época, não havia rigidez na emissora pública. Dentre as atribuições, estavam produção de programas, reportagens e edição. A segunda passagem pela área foi no Grupo RBS, cujo trabalho, o projeto 'Fala, Rio Grande', que produziu, conquistou dois prêmios. Ele consistia em mostrar cidades que nunca tinham aparecido ao vivo na televisão, e fazer um raio-X do Estado às vésperas das eleições de 2006.

O convite aceito para ser chefe de produção na praça gaúcha da Record o encarregou de, mais adiante, ser o responsável pelas externas da novidade da época: o Balanço Geral. O programa acabou marcando sua vida. Após se mudar para Natal, no Nordeste, terra dos sogros e onde morou por dois anos, acabou levando a proposta do projeto gaúcho para a TV Tropical - filiada do Grupo Record no Rio Grande do Norte. Não apenas foi aceito, como se tornou o primeiro apresentador da versão nordestina. "Para mim, foi a pior e a melhor experiência. A gente, infelizmente, aprende na vida com as dificuldades", diz, ao comentar que a estrutura era muito pequena e precisavam botar no ar uma edição nova, em novo formato, em outro estado, com contatos, expressões e cultura diferentes. Dimer, que também acumula atuações como repórter da madrugada e do dia na Record RS, ainda teve passagens pela TV Pampa e SBT RS.

Desbravar, sempre

Quando ainda morava em Natal, durante a realização de uma campanha eleitoral, percorreu o interior do Rio Grande do Norte e conheceu o Sertão. E, por ter presenciado a dura realidade nordestina, carrega hoje como aprendizado tudo que viu lá. Apesar disso, adora ir para o estado e, inclusive, brinca que possui um quarto na casa dos sogros, que moram em Pirangi, e sempre que pode os visita. "Adoro o litoral de lá. Acho a praia da Pipa muito linda, por exemplo", comenta.

Viajar, aliás, é o que a família tem feito para aproveitar os momentos de lazer. Dimer gosta muito de fazer isso com a esposa, Karine, com quem está há 15 anos, e com os filhos Arthur e Valentina, com seis e três anos, respectivamente. E, para isso, o roteiro pode até não estar a muitos quilômetros de distância, como é o caso da Serra. Aliás, Natal não foi o primeiro destino que o levou para fora das terras gaúchas: já morou três vezes nos Estados Unidos.

A primeira para fazer intercâmbio com o intuito de aprender inglês, quando morou na casa de uma família americana e estava ainda no Ensino Médio. Depois que concluiu esta etapa escolar, voltou para fazer um curso de gramática. A terceira visita estendida aconteceu por causa da mãe, Elisabeth, que tinha ido morar em solo norte-americano. "Fui passar as férias e consegui um emprego de manobrista. Na época, tinha 19 anos e, como naquele tempo não tinha tanto carro importado em Porto Alegre, eu achava o máximo", rememora. Lá, acabou crescendo na empresa e, depois de dois anos, estava gerenciando 12 estacionamentos. Porém, ficou receoso de não ter um futuro profissional como sonhava com um curso superior.

Pelo dia a dia

Como a rotina é muito variada, pois volta e meia está em alguma viagem para o Interior, acaba não levando uma vida regrada. Inclusive, por causa disso, incluir um esporte nas tarefas diárias é o que está faltando. Antes, até aproveitava um horário de almoço duas vezes por semana para ir à academia, mas não o consegue mais. Depois de um tempo, começou a fazer beach tenis, mas também não deu andamento devido à turbulenta agenda.

Dimer resume o dia a dia em, basicamente, acordar, ler os jornais para se atualizar, assim como escutar notícias no rádio, e participar de muitas reuniões. Além disso, volta e meia precisa ir a algum evento à noite. E, diante de tanta demanda, sair do trabalho antes das 20h é uma tarefa humanamente impossível para ele. Quando não está na labuta, uma vez por semana gosta de sair para jantar com a esposa, a família e os amigos, ou fazer um churrasco nos finais de semana. "Gosto de estar sempre em família", diz o irmão de João Vitor e Patrícia. Apesar dos pais serem separados, procura sempre estar perto deles.

Outros planos que inclui nestas horas de lazer estão relacionados à cultura. Gosta de assistir a filmes e séries, além de ler. Adorou ver 'Narcos', pois aprecia todas as obras baseadas em fatos. Ainda cita as tramas de 'Breaking Bad', 'Better Call Saul' e 'Mecanismo'. Ele acredita que, além da diversão, acaba aprendendo História nestes tipos de roteiros. O mesmo vale para documentários e para livros, cuja preferência está centrada em biografias.

Raio-X

Ele não consegue citar o maior desafio e explica: acredita que o próximo ou o atual é sempre o maior, pois, se falar outros, crê que pode desvalorizá-los. Todavia, dentre alguns que ainda estão por acontecer é o desejo por aprender a tocar saxofone. "É um sonho que queria poder tentar fazer um dia", diz. O apreço, conforme Dimer, é explicado por gostar muito de ouvir músicas relacionadas a este instrumento, como blues e jazz.

Ao se confessar um tanto quanto obcecado - e até incomodado demais - com organização, admite que dentre as manias estão a de deixar os objetos bem retos e no lugar. Aliás, a sala é tão arrumada que se pode perceber, até mesmo, um determinado local com diversas credenciais de imprensa - tudo em ordem. No local de trabalho, ainda há foto dos pequenos - amor que deixa à mostra para todos que passam pela sala com divisórias transparentes. Entretanto, acredita que isso o deixa um pouco exagerado. Determinado e franco, características que podem ser lidadas de maneira errônea de acordo com o interlocutor, ainda se diz extremamente exigente.

Na sua opinião, Dimer hoje é uma pessoa realizada. Isto porquê, para ele, quando se passa dos 40 anos, há o entendimento de que nem tudo que desejava aos 20 irá se concretizar, e tudo bem. "O mais importante é estar bem de saúde e de família", enfatiza. Espírita e estudioso do kardecismo, foi com a avó materna, Nena, que aprendeu sobre a doutrina. "Quando minha mãe morou fora por 12 anos, ela (a avó) meio que cumpriu este papel materno", diz. A matriarca ainda é citada como a paixão da sua vida. Hoje, busca ter a doutrina e a certeza de ter Deus sempre perto dele como duas constantes. Por isso, além de enaltecer o lema 'Nunca desista das coisas que fazem você sorrir', recorda mais dois ligados à crença: 'Onde existe fé sempre há esperança' e 'Medo é falta de fé'.

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