Viviana Macedo: Feliz no meio do caminho

Decidida, aos sete anos já sabia que seria jornalista. Assim, ela saiu do interior do Rio Grande do Sul para realizar seu sonho pelo mundo

Morando em São Paulo, a jornalista gaúcha perdeu o sotaque dando lugar ao acento paulista

Uma semana pode ser decisiva. Tudo pode mudar. Ou não. Mas, para Viviana Macedo, sete dias foram determinantes para seu futuro profissional. Ela era recém-chegada de uma temporada de três anos na Europa - morou na Alemanha e fez um mestrado em Correspondente Internacional na Inglaterra -, e estava desiludida por não ter conseguido permanecer no Velho Continente como jornalista. Foi aí que aconteceu o que menos esperava. Por intermédio de uma amiga, soube de uma vaga no SBT em São Paulo. "Quando as coisas não são para ser, não tem que a gente lutar contra. E quando são, tudo conspira", analisa.

Foi assim que começou sua trajetória de 10 anos na emissora de Sílvio Santos. Lembra que tentou por oito meses se colocar no mercado europeu até perceber que seu currículo seria mais valorizado no Brasil. E estava certa. De volta ao País em 2008, foi naquela primeira semana que, convidada pelo pai para passar uns dias na Terra da Garoa, tudo se resolveu. "Retornei para o Sul só para dar oi e buscar minhas coisas", conta, aos risos.

O sotaque gaúcho já se perdeu, dando lugar ao acento paulista. Diverte-se ao admitir que a pronúncia do Sul se acentua quando perde a paciência. "É nesses momentos que a origem dá seus sinais." Também, claro, quando vem visitar os pais, Maria Salete Macedo, em Porto Alegre, e Luiz Octávio Mendonça da Silva, em São Leopoldo, sua cidade natal. É também nessas visitas que aproveita para tomar chimarrão. Confessa que não tem tanto costume em São Paulo, mas o kit com cuia e bomba foi o primeiro presente que deu ao esposo, o advogado Victor Mattar. Ele, por sua vez, adorou e passou a ser o responsável pela prática em casa. Como uma boa gaúcha, churrasco é seu prato favorito e só consegue matar a vontade quando visita a família. "Em São Paulo tem, mas não é igual. Lá, eles fatiam a carne, não tem a picanha inteira", fala, divertida.

Filha única, Viviana poderia ter seguido os passos dos pais, ambos médicos, mas já estava decidida pelo Jornalismo aos sete anos de idade, quando, em um vídeo de família aparece gritando: "Eu vou ser jornalista! Eu vou ser jornalista!". A escolha foi respeitada desde sempre e, na hora do vestibular, prestado na PUC, não teve dúvidas. Curioso, entretanto, é que não sabe exatamente o que a levou a optar pelo curso. Talvez, reflete, tenha sido influenciada por uma prima, com quem não tem contato, que trabalha na GloboNews, no Rio de Janeiro. "Acho que me inspirei nela, que talvez a tenha encontrado em algum Natal, ou festa de família", puxa na memória.

Na TV mais feliz do Brasil

A relação com o SBT vem da época da faculdade, quando ingressou na emissora como estagiária. Diz que foi fortemente influenciada pela professora Cristiane Finger, por quem tem um carinho especial, e o gosto pela TV também ajudou. Durante os 18 meses, fez de tudo - produção, edição, apresentação, reportagem - e assegura: "A praça é o maior aprendizado". Formada em 2004, passou os seis meses seguintes fazendo trabalhos freelancers na empresa, sempre com foco na edição. Enquanto esperava surgir uma vaga efetiva, resolveu buscar uma experiência no exterior, pois acreditava que aquele era o momento ideal, antes de se estabelecer definitivamente.

Então, sem nem mesmo falar com os pais, inscreveu-se para um programa de intercâmbio na Alemanha aos 21 anos, incentivada pelas aulas de Alemão que fazia no colégio Sinodal, em São Leopoldo. A experiência, garante, foi essencial para a sua formação. "Sou muito grata, pois me tornei outra pessoa." A questão foi que, poucos dias antes de embarcar, surgiu a tão esperada vaga no SBT, mas, como já estava tudo preparado, pegou o avião. Estava no país durante a Copa do Mundo de 2006, porém, não conseguiu trabalho como jornalista para a cobertura porque, na época, não tinha contato suficiente com veículos brasileiros. "Me restou aproveitar o Mundial como torcedora."

Após um ano, foi aprovada na seleção de mestrado em Londres, na Universidade de Westminster, experiência que, confessa, foi mais interessante pelo ponto de vista de conhecer pessoas ao redor do mundo do que pelo conteúdo em si. Na turma, havia profissionais de 25 países diferentes, o que ela chama de "explosão de cultura em uma sala de aula". Ainda na terra da Rainha, estagiou por três meses na BBC e fez alguns trabalhos temporários, mas nada que lhe permitisse suprir os gastos, o que exigia que trabalhasse também em uma loja.

Essa trajetória lhe deu toda a base para o trabalho de editora de Internacional do Jornal do SBT, na madrugada, função que exerceu entre 2008 e 2011. Logo, foi chamada para ser a segunda editora de Internacional, e em seguida a primeira, no SBT Brasil, o principal telejornal da emissora. O perfil de liderança que considera ter a levou a alcançar o cargo que ocupa há três anos, de editora-executiva da atração jornalística. Acredita que a vivência no exterior também tenha sido um fator relevante, pois "sempre busquei ligações de acontecimentos mundiais com a realidade do Brasil".

A rotina é intensa, afinal, é ela quem decide o que será apresentado no telejornal. Viviana chega às 7h na empresa e lê quatro jornais para ter uma ideia do que está acontecendo no mundo e no Brasil. Depois, compara o que foi exibido no SBT Brasil no dia anterior com o que está sendo publicado no dia em questão. Na sequência, reúne-se com repórteres de seis praças - Belém, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Rio de Janeiro e Porto Alegre - e, juntos, definem o dia dos jornalistas e dos correspondentes. Assim, vai montando o espelho do jornal, deixando as notícias na ordem que vai entrar no ar. Às 13h, tem reunião de espelho e, às 14h, define as pautas para o dia seguinte com São Paulo e com as demais praças. Embora seu dia de trabalho acabe às 15h, faz questão de assistir ao SBT Brasil às 19h45, "porque é o resultado de tudo o que eu fiz durante o dia".

Das histórias na emissora, uma das mais marcantes foi quando, no seu primeiro fim de semana como editora-chefe do SBT Brasil, recebeu a informação de que a apresentadora Hebe havia falecido. "Desmoronei. Só fui parar para pensar e respirar seis horas depois. Afinal, a Hebe era a essência do SBT."

Apaixonada por notícia

Por trabalhar com telejornalismo, assistir TV é ao mesmo tempo hobby e obrigação. Acompanha muitos jornais nacionais e não abandonou o hábito de ver canais estrangeiros, como CNN e BBC, pois é onde se inspira e busca ideias. Na literatura não é diferente, mas assume que gosta de todo tipo de leitura, com destaque para as biografias do ex-presidente norte-americano Obama e do cofundador da Apple, Steve Jobs. Nos momentos dedicados ao lazer, gosta de ir à academia, e acredita que praticar exercício físico ajuda a aliviar o estresse do trabalho.

Junto com Victor, assiste, normalmente, a filmes fora do eixo comercial, com preferência por produções iranianas e francesas, e admite que não gosta de série. O motivo é simples: "Não quero ter mais um compromisso". Inclusive, só tem Netflix em casa por causa da mãe, que lhe deu uma senha. Para não dizer que não viu nada, acompanhou a série espanhola de sucesso 'La Casa de Papel'.

É gremista, para desespero da família que, por sua vez, é toda colorada. Tampouco sabe especificar o porquê da escolha. Quando morava em Porto Alegre, acompanhava bastante o time tricolor, mas ao residir em São Paulo, deixou a paixão um pouco de lado, pois o marido, santista, não é muito ligado em futebol. Viviana herdou outra prática da família de Victor. Embora católica de criação, passou a frequentar a Igreja agora por influência da sogra, que tem por hábito acompanhar a missa. Tentam ir todos os domingos, mas, em função do trabalho, nem sempre conseguem.

De malas prontas

Considera-se uma mulher de fases e seus hobbies dependem do momento que está vivendo. Casada há um ano com Victor, conta que passou bastante tempo organizando a cerimônia. Juntos há seis anos, se conheceram em São Paulo, por intermédio de amigos em comum, o que fez com que o enlace ocorresse na cidade. Assim, conseguiram unir as famílias - gaúcha da parte dela e de Ribeirão Preto, por parte dele. "É o nosso lugar, foi onde nos conhecemos e onde tudo aconteceu. Então, chegamos à conclusão de que a festa deveria ser lá", explica.

Está sempre de malas prontas, afinal, viajar está na sua essência. Tanto é que o casal criou o projeto Um casal pelo Brasil, com blog, conta no Instagram (com 16 mil seguidores), no Facebook e canal no Youtube. Para atualizar, eles tentam fazer uma viagem a cada mês: o objetivo é visitar um lugar em cada estado do Brasil em um período de dois anos. Até agora, passaram por 11 unidades federativas. "A nossa ideia é conhecer o povo brasileiro e evitar lugares turísticos", informa. Como está dando certo, Vivi não descarta ter um envolvimento maior com a iniciativa.

No que se refere ao âmbito profissional, sente-se realizada, ainda que, mesmo em uma mesma empresa há 10 anos, acredita-se que foi muito desafiada ao longo deste período. "É uma década no mesmo lugar, mas com experiências diferentes que me valorizaram e me deu crescimento lá dentro. Isso me faz continuar", diz. Sendo assim, ser feliz entre um objetivo e outro é seu lema de vida e, aos 35 anos de idade, Viviana é assertiva quando sentencia: "Não espero para ser feliz no futuro. Busca alcançar satisfação no agora".

 

Comentários