Mauro Dorfman: Os caminhos percorridos por Francisco

"Eu sou um cara casado, sem filhos, por enquanto, e tenho uma enorme sorte de ser amigo dos meus sócios e das pessoas que trabalham comigo.

Por Angélica Ritter

Existe uma fronteira muito tênue entre minha vida profissional e particular. Não sou desses caras que chega sete horas, fecha a porta, tira a gravata e vira outra pessoa; enlouquece no lado de fora. As coisas que eu gosto de fazer são namorar com minha esposa, que é um negócio que felizmente eu ainda consigo depois de cinco anos que estamos juntos, e aquelas coisas de sempre, viajar, ir ao cinema, leitura, viagens que tenham a ver com a natureza: caminhadas, mergulhos, trekking. No final do ano eu estive na Nova Zelândia, uma maravilha de viagem porque eu caminhei por montanhas, mergulhei, fiz trilha no gelo. Essas coisas me atraem muito mesmo".

Essa é a definição que o diretor-sócio da agência Fischer América Sul Mauro Francisco Dorfman faz de si mesmo. Ele percorreu um minucioso caminho nas trilhas das artes gráficas. E hoje, depois de diversas campanhas de sucesso, incluindo a da eleição do governador Germano Rigotto, que lhe rendeu a indicação ao título de Publicitário do Ano no último Salão da Propaganda, ele se diz um homem preparado para desafios. "Um anti-especialista, apaixonado por comunicação", resume. Mauro nasceu em Porto Alegre, em abril de 1964. Com pais judeus, avós paternos da Rússia e da Polônia e avós maternos da Alemanha, a família foi formada por uma ascendência diversificada e muito peculiar, o que permitiu ao publicitário o contato com pontos de referência variados. "A gente já nasce aprendendo que não existe só uma língua, que não existe só um jeito de ver as coisas.

O que eu peguei dessa misturada toda é, primeiro, um amor pela variedade, pela multiplicidade de opções e referências; e em segundo lugar, uma noção de tolerância muito grande, uma capacidade de lançar várias visões sobre um mesmo problema e de entender que a minha verdade não é a única e predominante".

A arte na família
Durante o ensino médio, Mauro foi militante do movimento estudantil e presidente do grêmio da escola, de onde traz boas recordações: "Eu era um cara bem rebelde e gosto desse passado, acho que me enriqueceu, foi uma coisa que me deixou marcas importantes".

Na universidade, estudou Arquitetura por um bom tempo, mas acabou optando pela Publicidade, curso em que se formou na PUC/RS, onde começou a trilhar seu caminho profissional. "Era uma trajetória que eu não estava muito preparado para seguir. Nunca imaginei que fosse ser um publicitário e muito menos que depois eu fosse ser um empresário da publicidade, uma coisa completamente surpreendente para mim, que surgiu como uma decorrência natural das minhas experiências." Nestas experiências da vida, a arte teve sempre um papel importante para Mauro Dorfmann.

O pai, hoje falecido, mantinha um contato muito grande com livros e discos, além de ser músico, escultor e desenhista. Na família Dorfman a arte teve estréia com o tio Paulo Dorfman, ator reconhecido em Porto Alegre nas décadas de 40 e 50, e com o primo, também Paulo Dorfman, pianista contemporâneo. Mauro avalia que esta particularidade garantiu-lhe uma hereditariedade artística que se revelou no senso estético e na atração por tudo que é informação e principalmente pelo desenho.

"Eu nunca fui um bom desenhista, mas sempre estive próximo das artes gráficas. Então, antes de ser publicitário eu editava uma revista de quadrinhos que foi relativamente importante aqui em Porto Alegre nos anos 80, a "kami kase", da qual eu era o editor e ainda criava as capas e os roteiros".

"Difícil é a vida"

Mauro começou na publicidade na SLM. Depois passou pela agência Escala, pela Centro de Propaganda e voltou para a Escala, de onde saiu para montar sua própria agência junto com os sócios Paulo Guerchfeld, Vitor Knijnik, Fábio Sclovsky e Saul Duque. Mais uma aventura que gerou histórias curiosas na vida do empresário. "Quando a gente resolveu fundar a Dez, há exatamente dez anos, nós nos demitimos da Escala.

Não tínhamos conta, nem cliente, só a vontade somada à convicção. Então pedimos dinheiro emprestado de nossos pais e começamos lá em casa com uma funcionária, a Suzana Rodrigues, um computador 486 emprestado de uma amiga e um fax que compramos.

Tempos depois a Suzana, que trabalha conosco até hoje, contou que ela ia para casa chorando todos os dias porque tinha se demitido da agência em que trabalhava e se arrependeu tremendamente. Levou mais ou menos um ano até a gente começar a ser um projeto de agência de verdade". Essa "agência de verdade" teve um grande impulso com a campanha criada para o pré-vestibular Universitário. As peças publicitárias que levavam o slogan "Difícil é a vida, vestibular a gente dá um jeito" marcaram a carreira de Mauro e renderam à agência Dez, hoje Fischer América Sul, uma série de prêmios.

Na busca de influências

Casado com Luciana Chwartzmann, que também é publicitária, hoje Mauro vive tranqüilo, contente com a opção que fizeram de não trabalhar juntos para evitar levar trabalho para casa. "É uma relação onde impera a afinidade e não a neurose profissional", explica.

Manteve-se em Porto Alegre e, apesar de não viver mais próximo ao Bom Fim, considera-se um filho do bairro onde, na adolescência, freqüentava os bares, o parque da Redenção e o Ocidente, o que gerou uma conexão afetiva com a região. Influências como a literatura de Monteiro Lobato, que considera "um grande ampliador da fantasia e da criatividade numa criança", além do contato com diversificados tipos de música da coleção de discos do pai, levaram Mauro a ser um verdadeiro garimpeiro de novidades. "Sempre que viajo procuro ver o que há de novo na cultura local, em termos de música, literatura e comunicação.

Tento não paralisar as minhas influências. Eu acho que isso tem a ver com a minha profissão também, não dá para ficar sempre com as mesmas referências". Hoje, Mauro Francisco Dorfman é um homem que se vê preparado para desafios e que, segundo ele mesmo faz questão de anotar, descobriu que não existe um caminho único, uma trilha predeterminada. "Me tornei um anti-especialista e gosto muito disso. Mas eu sou um apaixonado por comunicação e é nisso que eu vou trabalhar o resto da minha vida".

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