Martha Medeiros: A dona de casa que escreve, escreve

Hoje, prestigiada por suas crônicas e poesias, ela iniciou a trajetória profissional ainda quando estudava Publicidade e Propaganda

De ex-diretora de criação a cronista e escritora, Martha Medeiros tornou-se em pouco tempo um nome de referência no jornalismo e na literatura gaúcha. Hoje, prestigiada por suas crônicas e poesias, que conquistam o leitor por descrever sem rodeios suas idéias e pensamentos sobre o cotidiano, Martha iniciou sua trajetória profissional ainda quando estudava Publicidade e Propaganda na Famecos/PUC. Já na metade do curso começou a trabalhar com propaganda, onde acabou atuando durante 13 anos como redatora e diretora de criação em várias agências. Seu último trabalho nesta área foi como diretora de criação da agência Competence.

Neste período acreditava que seguiria a carreira de publicitária, mas a vida lhe reservava outro destino. Como atividade paralela, começou a escrever poesias, o que, ela garante, a princípio era um passatempo de adolescente. "Escrevia para mim mesma, histórias de adolescente, uma coisa que todo mundo faz nesta fase da vida", lembra a escritora. "Quando eu tinha 20 anos, resolvi mandar esses poemas para uma editora de São Paulo, a Brasiliense, que na época publicava a coleção Cantadas Literárias, uma obra que tinha muito a ver com o tipo de poesia que eu fazia".

O fato marcou o início da sua carreira como escritora. Em 1985, a editora publicou seu primeiro de uma série de livros que ainda estavam por vir, o "Strip-Tease". "A publicação foi a abertura das portas da poesia, comecei a editar os textos pela editora LP&M , quando publiquei direto quatro livros de poemas. E por um tempo foi assim, a propaganda como uma profissão e a poesia como um hobby que estava dando certo", acrescenta ela. Hoje, Martha tem 12 livros publicados, sendo seu maior sucesso literário o livro de crônicas "Trem-Bala", que foi adaptado para o teatro, sob direção de Irene Brietzke. Entre outros livros estão "Topless", "Poesia Reunida", "Outros Poemas" e "Divã", este o mais recente, o primeiro romance e ficção de seu acervo de obras editadas pela editora.

Parada Estratégica: rumo ao Chile

Martha, 41 anos, nasceu em Porto Alegre, cidade onde pretende permanecer toda a vida ao lado do homem com quem está casada há 15 anos, o publicitário Telmo Ramos, diretor de criação da Paim Comunicação. Frutos da união são suas duas filhas: Júlia, 11 anos, e a caçula Laura, 7 anos. Em 1993 houve um breve hiato na rotina porto-alegrense, quando o marido recebeu um convite para trabalhar em Santiago do Chile. A oportunidade veio em boa hora para a escritora que se considerava cansada do estresse do ramo da propaganda e confusa quanto à sua atuação como publicitária. Martha e a família - na época ela só tinha a filha mais velha, Júlia - foram de mala e cuia, e a cidade de Santiago acabou gerando outra criação da escritora: como fora literalmente "dona de casa", ficou a maior parte do tempo ociosa, e os incontáveis passeios que realizou serviram de inspiração para a realização do livro "Santiago do Chile". A obra traz boas dicas de turismo sobre a capital chilena.

O tempo ocioso durou oito meses e foi bem empregado: quando não passeava, lia e escrevia. "Eu recebia a Veja, lia e logo escrevia alguma coisa a respeito fazendo um comentário. Eu já estava escrevendo crônicas sem perceber", relembra. Uma visita inesperada, em sua casa no Chile, do amigo Fernando Eichenberg, o Dinho, correspondente da Zero Hora em Paris, fez com que a carreira de cronista de Martha Medeiros deslanchasse de vez. "O Dinho viu esses meus textos e levou para mostrar à editoria do jornal", conta ela. Quando retornou do Chile, ela foi convidada a publicar um de seus textos no jornal Zero Hora. Segundo Martha, era para ser uma única publicação, mas a boa repercussão obtida valeu um convite para escrever crônicas habitualmente. Hoje é titular de uma coluna no caderno Donna, que circula aos domingos, e de outra coluna que circula às quartas-feiras, no Segundo Caderno.

A cronista também escreve uma coluna semanal para o site Almas Gêmeas e é colaboradora da revista Viagem. "Tudo ao meu redor foi acontecendo de uma maneira muito circunstancial, eu não pensava assim: 'Ah, eu vou ser cronista'. O processo aconteceu, mandei um texto e funcionou". Simples assim, mas ainda hoje Martha se surpreende com o retorno deste seu trabalho como cronista. Feliz e satisfeita, diz que o tempo que atuou na área de publicidade não foi perdido, ao contrário, "foi uma ótima escola" para adquirir esse texto mais objetivo e sintético. E a inspiração para as crônicas? Martha não tem um ritual de inspiração, pois para ela, a arte de escrever é uma diversão. "Estou sempre atenta ao que acontece ao meu redor, a vida é minha inspiração, até mesmo a minha diversão. Às vezes uma amiga me conta alguma coisa engraçada, aí eu penso, isso dá uma crônica legal. Então escrevo o texto baseada na história que ela me contou".

Casa X Casa

Para Martha, conciliar o seu trabalho com a família e as tarefas domésticas não é uma dificuldade. Um dos motivos é o privilégio de poder trabalhar em sua casa, o que lhe dá uma certa flexibilidade e mobilidade para executar algumas tarefas familiares. Seu dia começa cedo, acorda às 6h, não toma café, e já corre para a academia praticar sua atividade favorita: a musculação. No turno da manhã, geralmente realiza tarefas de dona de casa, como ela mesmo define: "Vou ao supermercado, levo minhas filhas nos lugares e vou fazer compras quando é necessário. Faço coisas normais do dia-a-dia". A escritora não esconde a felicidade ao revelar que a tarde é toda sua para a realização e produção de textos. "As gurias vão para o colégio e aí escrevo a tarde inteira. Assim cumpro sem problemas meus compromissos de prazo e tempo de entrega dos textos".

À noite, é o momento do jantar com o marido e filhas, mas às vezes também curte pegar um cineminha. Mesmo com inúmeros convites para badaladas festas e eventos, a escritora prefere ficar em casa. Seu refúgio nos fins de semanas do verão é a praia de Torres. Mas garante que sua grande paixão mesmo, além da leitura, é viajar, principalmente para o exterior. "Uma vez por ano, eu e Telmo programamos uma viagem e saímos para fora do Brasil".

Continuar a escrever, escrever, escrever?

Como uma cronista, não podia ser ao contrário, é amante da leitura. "Leio muito, estou sempre lendo, qualquer lugar é hora para ler. Leio dentro do carro, esperando minhas filhas, numa sala de espera." O último livro lido foi o '900', do escritor italiano Alessandro Barico, sobre uma história de teatro. Além da literatura, a música tem espaço garantido no dia-a-dia da escritora. Aprecia Rock, MPB e Blues. Entre os favoritos, Lenny Kravitz, Prince, Café Del Mar, Cazuza e Cássia Eller. E também adora dirigir, ir ao cinema, shows de rock, champanhe e vinho tinto. "Não passo sem champanhe no verão, e no inverno gosto de um bom vinho tinto".

Para o futuro, Martha afirma que seus planos são continuar escrevendo e publicando textos. Porém, declara o desejo de investir e dedicar-se mais aos romances e ficções. Garante que não deixará de lado a poesia e a crônica, mas pretende agregar conhecimentos à sua vida profissional. E pretende continuar levando sua vida como "uma pessoa muito simples", cujo sucesso não modifica sua personalidade. Acha até engraçado ser abordada em supermercados com pedidos de autógrafos, mas volta a assegurar: "Quem convive comigo sabe que sou uma pessoa normal como qualquer outra".

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