Malu Macedo: Com equilíbrio e bom humor

Ela considera que o importante é viver e exercer bem o papel de mulher, mãe e profissional

Qual é o sonho da maioria das crianças? Ter muito carinho e ganhar muitos brinquedos. Pois Malu Macedo não precisou deste tipo de sonho: o pai era dono de uma loja de brinquedos e a pequena cresceu rodeada de bonecas e jogos, com os quais brincava muito com os três irmãos. Daí a infância tranqüila e cheia de amor, fundamental para que desse a sua vida o rumo que queria e mudasse, nela mesma, o que não gostava. Da garota competitiva que queria sempre ser a primeira da turma não restou nada. Agora entende que fazer bem feito, com responsabilidade e muita doação, é o grande negócio. Nada de atropelos, o importante é viver. "Já fui bem diferente, mas amadureci. Não preciso ser melhor do que ninguém. Tenho é que estar com a minha cabeça boa para exercer bem o papel de mulher, mãe e profissional", diz Malu.
O equilíbrio e a tranqüilidade não são novos em sua vida. Na infância era superestudiosa, "uma caxias" - como gosta de contar -, o que lhe rendeu o apelido carinhoso de 'neta nota dez', dado pelo avô materno. A vontade de ser a melhor não ficou apenas dentro da sala de aula, foi para as passarelas e ela ganhou algumas faixas de Rainha do Baile. Uma delas tem caráter especial, a de Debutante do Ano de Santa Maria, cidade onde nasceu e cresceu. Era 1969, a idade dos 15 anos, quando a auto-estima e a segurança pessoal das adolescentes nem sempre são o ponto forte, por isso acredita que aconteceu na hora certa. Das divertidas lembranças que tem está a do momento em que anunciaram a vencedora. "Estávamos divididas em duas filas esperando o resultado. Quando falaram o nome da Debutante do Ano me deu um branco, não ouvi me chamarem e fiquei parada. As outras meninas diziam vai lá, vai lá. E eu perguntando: lá aonde? Elas disseram que eu havia sido a escolhida, mas não acreditei, fiquei imaginando: já pensou se vou e não sou eu? Mas a insistência era grande e decidi tomar coragem. Fui e era eu mesma", recorda com uma gargalhada.
O espelho
Vaidosa, Malu confessa que é importante sentir-se bem ao olhar-se no espelho, mas receber a confirmação por outras pessoas é melhor ainda. "Gosto de me cuidar, mas tudo com limite e na dose certa. Não sou obcecada", afirma. Aos 48 anos usa cabelos bem curtos com um corte moderno. Bem maquiada e com muitos acessórios, ela é uma destas mulheres que possuem estilo próprio. Gosta muito de vestir roupas pretas, mas não tem medo de apostar nas cores e em combinações nada convencionais. Quando a questionam sobre seu estilo, diz com ar brincalhão olhando para si mesma: "De jeito nenhum posso ser considerada clássica ou conservadora". E, realmente, isto ela não é. Malu gosta de combinações diferentes e não se importa com que os outros vão pensar. "Dia destes coloquei uma saia xadrez e uma camisa estampada. Nada convencional, mas adorei aquilo. Isso que é importante".
Para a publicitária, 'moda' não é apenas o que as pessoas estão vestindo no momento e sim um hobby. Ela adora saber sobre o assunto. Revistas italianas, Vogue americana, Vogue inglesa e Elle já fazem parte da sua rotina. A paixão pela leitura facilita este aprofundamento, e ela gosta de ler sobre tudo. Atualmente, está lendo Stupid White Men (Estúpido Homem Americano), de Michael Moore, mesmo autor do documentário Tiros em Columbine, que analisa a obsessão dos americanos por armas. Ao mesmo tempo, lê Como as mulheres compram e a biografia de Hilary Clinton. "Tudo que me chama atenção dou uma lida. Recebo todas as revistas do mundo, leio a Veja, Isto É, Carta Capital, Época, Meio & Mensagem, Propaganda & Marketing, on-lines do meio publicitário, entre outras coisas. Claro que não leio tudo, tudo, se não, não faria outra coisa". Estar bem informada, para ela, é uma obrigação de quem é da comunicação.
Ser publicitária não estava nos seus planos. Malu queria cursar Arquitetura, mas não havia este curso na cidade e o pai não gostava da idéia de a filha vir para a capital gaúcha ainda adolescente. "Isso me deixou um pouco desinteressada quanto ao vestibular. Não sabia o que fazer", lembra. O convite de algumas amigas para fazer Comunicação Social - naquela época, 1972, um curso novo na Universidade Federal de Santa Maria - a colocou no meio. "Entrei sem saber muito o porquê de fazer Publicidade e Propaganda, mas fui gostando". Gostou tanto que fez também Relações Públicas. Versátil, como sempre, iniciou também Administração, quando estava no terceiro ano de comunicação, mas não chegou a concluir. "Me formei e decidi vir para Porto Alegre, queria trabalhar na capital. Era importante para mim".
Aprender com os gurus
O pai lhe deu 15 dias para conseguir um trabalho. Se não se empregasse neste período, voltaria para Santa Maria e, depois, seguiria para a praia com a família. "Consegui no 12º dia, quando meu prazo estava quase se esgotando", recorda com muito bom humor. Era final de 1977. A primeira experiência selou seu destino. Ela ingressou na Standard Propaganda, onde permaneceu até 1980, como assistente de atendimento, e conheceu Carlos Schneider, considerado, com carinho, "o primeiro guru". Até que optou por sair da empresa. "Decidi que tinha que ampliar meus horizontes, pois tinha vindo do interior, não conhecia praticamente ninguém, o meu trabalho tornou-se o meu mundo e achei que o meu mundo tinha que dar uma ampliada. Então, recebi um convite do Marcus Dvoskin, na época diretor executivo da Zero Hora, para ser sua secretária. Muitos pensaram que não tinha lógica fazer aquela troca. Mas segui minha intuição e deu certo, foi uma experiência maravilhosa e somos amigos até hoje".
No mesmo ano, foi convidada para trabalhar na TV Guaíba, onde ficou até 1982, quando (efetivamente) retomou sua carreira na área publicitária ingressando na Escala, onde trabalhou com Antônio Marcus Paim, o segundo guru. "Fiquei lá até 1990. Foi quase uma história de amor, fui e voltei três vezes", conta. O trabalho que executou na agência lhe rendeu bons frutos e, entre eles o convite dos irmãos Paim, Antônio Marcus e César, para fundar a Paim, Lautert, Macedo Comunicação, que hoje é a Paim Comunicação. "Aprendi muito. Fiquei nove anos, até que senti que meu ciclo havia se encerrado na agência. Vendi minha participação na sociedade, não sabia nem o que ia fazer ainda, mas minha intuição comandava novamente".
Pela primeira vez, Malu quis ficar sozinha para 'abrir sua cabeça', como gosta de dizer. Viajou para Milão, Londres e Nova York. Depois de um mês com ela mesma, voltou para o Brasil, mas ainda não havia definido o que faria. "Resolvi deixar as coisas acontecerem. Havia sido sempre assim e não ia mudar". Ela estava certa. Aproveitou a época, final do ano, para tomar muito sol e aproveitar as festas, sem pressa e sem preocupações. "Foi quando D'Alessandro me chamou. Disse que queria conversar comigo, colocar uma sementinha em mim para que eu pensasse se queria trabalhar com eles na DCS. Um tempo depois, o Beto Calage, seu sócio, também me chamou para conversar. E assim ficamos namorando a idéia por alguns meses", recorda.
De cabeça
Em abril de 2000, quando decidiu que era hora de aceitar o convite, Malu estava 'muito a fim' de fazer parte da equipe da DCS, onde hoje é diretora de atendimento. "Estava louca para começar. Amadureci a idéia e me apaixonei por ela. A semente brotou e vim inteira, com força total". Ela entrou de cabeça, como fez em todos os projetos dos quais participou em sua vida, destacando, é claro, um deles que "sem dúvida" foi o mais importante, a maternidade. "Guga nasceu quando eu tinha 35 anos e foi na hora mais adequada, tanto para mim, quanto para meu ex-marido, pois estávamos maduros emocionalmente, financeiramente, e preparados para receber um filho e dar para ele".
A 'supermãe' não esconde o orgulho que sente de seu menino e não economiza elogios. "Guga não é um aborrecente. Está numa fase, 13 anos, na qual muitos jovens são rebeldes e, até o momento, não teve nada disso". A publicitária credita ao fato de que sempre teve uma excelente relação com o garoto, de confiança e parceria, e de a adolescência ser uma continuação da infância, ou seja, se foi legal, continuará sendo, sem altos e baixos. "Desde que nasceu, conversei muito com ele. Disse o quanto era bem vindo, da felicidade que sentíamos por ter escolhido nossa família, e que nossa jornada nesta vida seria maravilhosa", conta.
Este carinho familiar Malu conheceu muito bem. Seus avós moravam no mesmo prédio em Santa Maria. "Cresci rodeada de afeto. É muito importante. Minha mãe era dona de casa e me recordo como se fosse hoje dos dias que chegava da escola e sentia aquele cheirinho de comida gostosa para o almoço. Ela foi muito presente". Depois que veio para Porto Alegre, nunca mais pensou em voltar para sua cidade, mas jamais deixou de retornar para visitar os pais e rever os amigos, que não são poucos. "São a minha família, minha origem. Vou freqüentemente para lá e eles também vêm para cá. Tenho muito prazer em pegar meu carro, meu filho e ir até lá para passar finais de semana e feriadões", diz.
O tempo, amigo do tempo?
Malu não acha que o rumo que sua vida tomou tenha a ver com sorte ou que as coisas boas que aconteceram tenham caído do céu. Ela é bem realista. "As coisas foram acontecendo e eu fiz acontecer, não foi fácil e também nenhum sacrifício. Que bom que tive serenidade para poder construir minha trajetória da forma como fiz". Plantar coisas boas como o amor, a atenção, o cuidado e o carinho são fundamentais para Malu, que acredita naquele velho ditado que diz 'tudo que se planta, colhe'. "Isso não conta para aquelas pessoas que, com 20 anos, cruzam os braços esperando colherem o que nem semearam".
Saber dar valor ao que realmente possui valor é fundamental para 'a mulher Malu' que, hoje, estipula suas prioridades. "Meu filho estar bem é o meu bem maior. Depois vem a saúde de corpo e espírito de minha família e trabalhar num local do qual me orgulho, com parceiros e companheiros que admiro e me fazem sentir participante e produtiva. Isso tem valor para mim. Já não faço mais tempestades em copo d'água", brinca.
O equilíbrio foi encontrando com o passar do tempo, com a ajuda da família, dos amigos, com a idade e nos pequenos detalhes, como numa frase solta de uma grande amiga. "Na época em que atendia as Lojas Renner, na Paim, fazia muitas missões empresariais de estudo de varejo (viagem com grupo de empresários para outros países). Numa destas, conheci a empresária Carmem Ferrão e ficamos muito amigas. Fomos jantar com mais algumas pessoas e estávamos num restaurante quando ela disse: vocês se deram conta de que este momento nunca mais vai voltar?". O comentário tocou Malu profundamente e ela nunca o esqueceu. "Parece óbvio quando alguém diz, mas, às vezes, não nos damos conta. Cada momento da vida da gente não será igual, não vai voltar. Por isso, como é bom quando conseguimos viver de verdade e conseguimos valorizar estes momentos e não as lembranças deles, quando não precisamos dizer: eu era feliz e não sabia. Você tem que saber, tem que saber para curtir e usufruir. É esta noção de saber como as coisas são boas no momento em que as estou vivendo que me faz começar ciclos novos todos os dias com o mesmo fôlego daquela garota competitiva de Santa Maria, hoje sem competitividade nenhuma, mas ainda com muita vontade de viver".
Assim é Malu Macedo, cheia de bom humor e muito reflexiva, um ser que fez do limão que a vida lhe deu uma superlimonada que toma todos os dias com muito gosto e prazer.

Comentários