Pedro Ernesto Denardin: Ele só pensa naquilo

O comunicador que se desdobra em várias frentes não teme em dizer que se preocupa é com o futuro financeiro

Pedro Ernesto Denardin - Reprodução

Dinheiro, dinheiro, dinheiro. As cifras não saem de sua cabeça. Já não há indícios do menino que teve uma infância simples, de classe média baixa. O atual chefe do Departamento de Esportes da Rádio Gaúcha, Pedro Ernesto Denardin, não tem preocupações apenas com jornalismo, mesmo que se desdobre para apresentar o Show dos Esportes, na rádio, o programa Bate-Bola, na TVCom, assinar uma coluna no Diário Gaúcho e, às vezes, fazer comentários na Rádio Farroupilha. Ele faz tudo pensando sempre em seu futuro financeiro, e assegura que neste tipo de preocupação inclui a rádio também.

Montar projetos, acompanhar o desenvolvimento dos funcionários, fazer viagens, orçamentos, faturamento, dar apoio para a equipe e se envolver em tudo que está acontecendo ao seu redor virou rotina para o comunicador-administrador. "Isso é muito importante para o cliente e faço com muita regularidade. Não é que eu venda, não vendo, não faço preço, não trabalho com desconto, isso aí é com o comercial. Eu sou o produto, mas vou junto, participo das reuniões. Gosto de estar presente", afirma. Matemático e pragmático, Pedro Ernesto diz não se iludir. "A empresa faturou 10 e gastou 12, estão todos na rua. Faturou 10 e gastou 2, ótimo, este é o caminho. Não adianta dizer que o jornalismo está em primeiro lugar, acima de tudo. Não! Acho o jornalismo fantástico, mas com faturamento".

A visão de ver o todo, diz que herdou de um amigo por quem tem grande admiração, Armindo Antônio Ranzolin. Pedro Ernesto revela que foi nele em quem se inspirou para evoluir profissionalmente. "Ele também é um narrador, mas a visão global e o empreendedorismo que possui me inspiraram muito. Foi ele quem me ensinou que o que é bom para a rádio é o que é bom para o ouvinte, parece uma obviedade, mas é básico. O estilo não tem nada a ver com isso, nós temos formas bem diferentes de narrar. Às vezes, vou para a bandalha, coisa que Ranzolin nunca faria. Depois ele me chama e diz que exagerei. O que é uma injustiça", diz, aos risos. A paixão pelo futebol A paixão pelo futebol veio cedo, quando era apenas um menino.

Metas na vida

Da infância que viveu no Bairro Glória, lembra das 'artes' que fazia com a turma de amigos. "Tinha aquela coisa de dar pedrada, quebrar lâmpada, coisas normais que os guris fazem. Claro que não havia a violência que há hoje, quando se bate até matar. O máximo que podia nos acontecer era arrumar uma briga e tomarmos um 'pau'. Éramos bem moleques. Da única coisa que tínhamos certeza era do futebol que jogávamos na rua", recorda. Estudar sempre esteve entre suas prioridades, o que não o impediu de abandonar, em 1962, o ginásio que cursava no Colégio Militar para vender verduras em uma carroça. "A antiga mania de ser comerciante", explica.

O retorno aos estudos foi para fazer, na época, o Curso 99, o atual Supletivo. Lá conheceu sua primeira esposa, com quem se casou aos 23 anos de idade, no mesmo ano em que ingressou na PUC. "Ia fazer Matemática, mas desisti, optei pelo Jornalismo. Depois que me formei comecei a fazer História, mas pela falta de tempo não consegui concluir". A predileção pelo esporte era clara e Pedro Ernesto colocou metas em sua vida. "Eu sempre quis ser o primeiro narrador de futebol da Gaúcha. Este foi sempre o objetivo, desde que ingressei na faculdade. Me esforcei e trabalhei muito para conseguir. Na verdade, não sabia se ia conseguir, mas não desisti", destaca.

Fez um teste para ser narrador da Rádio Gaúcha, em 1973. Dos 33 participantes, Nilton Azambuja e ele passaram. "Na época, aproveitaram o Nilton e me dispensaram", recorda. Então, foi para a Rádio Farroupilha, onde trabalhou por um ano como chefe de notícia, seu único emprego no jornalismo que não tinha ligação com o esporte. Em 1974, ingressou na Gaúcha, mas uma briga com seu chefe, Carlos Bastos, por causa de uma escala fez com que voltasse para a Farroupilha. "Fiquei seis meses lá e quando o Mendes Ribeiro assumiu me chamou novamente". Por nove anos trabalhou na Gaúcha até que, em 84, saiu com João Garcia e Milton Azambuja para se unir a Paulo Mesquita e dar início a um novo empreendimento. "Abrimos a Rádio Sucesso, que depois fechou, e fomos para a Bandeirantes", recorda. Mas sua história com a Gaúcha não havia chegado ao fim, estava apenas começando.

Um bom momento

Em 1986, voltou para o que considera sua segunda casa. Pedro Ernesto assumiu como segundo narrador e estava cada vez mais perto de alcançar a meta que traçou para sua vida profissional. Melhor momento Trabalho, trabalho, trabalho ? O jornalista diz que teve que batalhar muito para ser o chefe do Departamento de Esportes, mas - principalmente - para se tornar o primeiro narrador da rádio. "Tinha muita gente na minha frente, mas acredito numa coisa chamada trabalho. Acho que nós somos 80% esforço e 20% talento, porque não existe talento sem esforço. Não conheço isso", salienta. Para ele, é importante especializar-se no que se faz. "Tem muita gente que conheço que faz futebol e também outras notícias. Não é que eu goste só de futebol, eu gosto é do jornalismo. Fazendo apenas futebol tenho que me interessar só pelo futebol. Desta forma, adquiro um domínio maior", justifica.

Pedro Ernesto considera o momento atual como o melhor em sua vida profissional e pessoal. "A Rádio Gaúcha tem, hoje, uma média de 62% de audiência, o que é mais do que a soma das três principais concorrentes juntas, temos um faturamento que contempla a necessidade da empresa. E enquanto eu tiver isso me seguram, o dia que não tiver mais colocam outro, porque é assim, e eu não vou reclamar dizendo que foram maus comigo".

Dica de ouro

Pedro Ernesto tem uma vida muito feliz e confessa - sem vergonha - ter inseguranças e preocupações como qualquer homem de 53 anos, mas mesmo assim se diz feliz. Para os jornalistas que estão começando agora e vão encarar o mercado, dá uma dica que considera de ouro para uma profissão onde a disputa e a concorrência são certas: "O jornalismo é excelente e não me imagino, nesta vida, fazendo outra coisa. Sabemos que tem muitos profissionais desempregados, no entanto, também há muitos médicos e advogados desempregados. Tem que se trabalhar muito para chegar onde se quer. Os frutos nós colhemos depois".

O comunicador conseguiu fazer com que seu esporte preferido lhe proporcionasse lucro, prazer e momentos inesquecíveis, como a primeira cobertura da Copa do Mundo, em 1978, na Argentina. Não consegue achar palavras para mensurar a emoção que sentiu quando viveu a experiência, mas procura, de uma forma simples, explicar. "Foi maravilhoso. Como a primeira mulher para um homem", brinca ele que, agora, tem em seu currículo sete Copas do Mundo.

Outro momento que não esquece foi a narração de um jogo do Grêmio contra o Beijing Guoan (Pequim), no estádio do Trabalhador. Ele recorda que encontrou muitas dificuldades, pois a China tem pouca abertura política. "Não liberaram linha, não liberaram nada. Estávamos eu e o Farid Germano Filho para fazer a cobertura. Nós contratamos dois celulares, eu fui para a arquibancada narrar o jogo em um estádio lotado - os chineses adoraram -, o Farid entrou como cartola no ônibus do Grêmio e o Macedo estava ancorado aqui por Porto Alegre. Foi uma transmissão completamente diferente das que fiz até hoje", conta.

O bom humor, uma característica de Pedro Ernesto, já deixou sem fala alguns colegas como Lasier Martins. No começo do governo Fernando Collor de Melo, os dois estavam no estádio Cristo Rei, em São Leopoldo, Pedro Ernesto narrando e Lasier comentando, quando o brincalhão questionou: "Você sabe quem é a mulher mais sexy do mundo?" Prontamente o amigo respondeu que não, e ele lançou: "Zélia Cardoso. Ela deu uma mexidinha e deixou todo mundo duro". A reação dos ouvintes foi imediata e o estádio deu uma gargalhada só. Um narrador diferente Muitas pessoas não conseguem deixar de lado o velho e bom radinho de ouvido, mesmo quando estão em casa assistindo o jogo de futebol pela televisão.

O que atrai estes ouvintes? Para Pedro Ernesto, é a magia que este veículo de comunicação possui de uma forma singular. "Na televisão o narrador é um identificador. Já no rádio pode-se criar, fantasiar, viajar. Eu, particularmente, faço isso". Criar fatos, então, é com ele mesmo. Até rezar Ave Maria em batida de pênalti, já rezou. Ele diz que usa ferramentas como o bom humor e comentários inusitados para sair do comum, criar um diferencial. "Noto que muitas pessoas querem saber o que o Pedro vai dizer a cada gol." Ele - que nunca ganhou nenhum prêmio de jornalismo - afirma que a liderança no Ibope e o carinho dos ouvintes são os maiores prêmios que um radialista pode ter. Prioridades Deixando o futebol de lado, e esquecendo a rotina agitada, Pedro encontra tempo para cuidar do filho Ricardo, chamado com carinho de Ricardinho, de cinco anos, fruto do segundo casamento.

Pela manhã, ele se dedica à esposa e ao filho, com quem joga bola na sala fazendo a maior esculhambação. "Minhas manhãs são para os dois. Quando marcam reuniões nesse horário, peço para não me colocarem, pois, quase sempre, meu filho está dormindo quando chego. Se não for assim, não o verei crescer", destaca o preocupado pai. Toda esta preocupação tem um motivo. Ele não esconde que, por problemas no primeiro relacionamento, não pôde acompanhar o crescimento da filha Fernanda, hoje com 23 anos. "Estou tentando não repetir esse erro. Outra coisa, já sou um pai-avô, estou mais maduro e sei que não posso cometer determinados erros. Sou muito atento quanto a isso".

Tem épocas em que se considera um romântico, do tipo que ainda manda flores como cantou Roberto Carlos. Pedro Ernesto, aliás, adora cantar. Em 1982 gravou seu primeiro 'LP' com João Garcia, chamado "Narrador e Repórter", com músicas de humor. Três anos depois fez "Sucesso dos Festivais", onde canta clássicos gaúchos como Canto Alegrense, Guri e Tertúlia. "Só canto música gauchesca, mas não sou um tradicionalista, não cultivo a cultura, não sei andar a cavalo, nem tomar chimarrão, mas amo este tipo de música", garante. Atualmente, faz uma média de 20 shows por ano e, sempre que pode, leva a família para curtir junto. "Como passo muito tempo trabalhando, quando podemos, fazemos destes shows um momento de diversão, um passeio".

Passeio também é com ele: já viajou por todo o mundo. Tem suas cidades preferidas - Las Vegas, Veneza, Roma, Copenhagen e Los Angeles - e o país que adora visitar é o Chile. Já foi 14 vezes, 12 a trabalho e duas em férias. "Além dos vinhos maravilhosos, tem lugares fantásticos, o sul do país é deslumbrante, Santiago é fantástica e Viña del Mar é maravilhosa", conta. Mas o que gosta mesmo de fazer é pegar a Estrada do Mar e seguir para Capão da Canoa com a esposa e o filho. Viagem de avião, nem pensar. Isso já faz parte da sua rotina, um lugar mais próximo com a família vai muito bem, obrigado.

Segredo de Estado

Quando lhe perguntam se é gremista ou colorado, não dá nenhuma pista e responde rapidamente: "Sou gremista, colorado e seleção brasileira". Para ele, seria irracional torcer contra um dos times da dupla grenal. "Não compro carro azul nem vermelho e não uso roupa azul nem vermelha. Faço isso para que ninguém queira me identificar como deste ou daquele time". Pedro Ernesto conta que quando Ricardinho nasceu, ganhou de um amigo o kit para bebê do Grêmio. O presente foi doado para uma criança carente, para não interferir no gosto do filho. "Tenho um comportamento absolutamente profissional, me policio demais. Isso é uma norma aqui na rádio. O cara que começa a torcer demais está fora. Vai torcer na arquibancada. Nós somos um estádio dualista, temos Grêmio e Inter. Sou dos dois e é verdade. Dentro do meu coração não existe um time, existe um narrador de futebol, um profissional", afirma.

Para esquecer este assunto que deixa o tranqüilo comunicador um pouco 'exaltado', falar de comida é o melhor negócio. Ele se considera um guloso, bom de garfo. Gosta de quase tudo que se faz na cozinha, "com exceção de quiabo, salmão e comida japonesa crua". Do resto, vai tudo. Este prazer que sente na mesa lhe causou problemas com a balança, e chegou a pesar 114 quilos. Por sentir a necessidade de diminuir a quantidade de comida, colocou um balão intra-gástrico que o fez baixar para 92 quilos.

O peso tem privado-o de uma das suas maiores paixões, jogar futebol, e isso deixa-o muito aborrecido. "Na minha idade, com este peso, é perigoso. Vejam só os jogos do Lula, é um pé por jogo. Tenho medo disso", fala, mantendo o bom humor. Hoje, Pedro Ernesto Denardin não usa mais o balão e está com 99 quilos. Ele sabe que tem que se cuidar, mas admite: "Como tudo que vejo pela frente". E completa, em tom de brincadeira e dando uma grande gargalhada: "Tenho mais prazer na mesa do que na cama. É bem coisa de gordo mesmo".

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