Flávio Wornicov Portela: Bom de garfo, bom de papo!

Enquanto muitos sonhavam em ser médico, ele queria ser motorneiro ? para dirigir bondes na cidade de Porto Alegre. Enquanto outros queriam ser advogados, sonhava em ser sorveteiro, pelo grande prazer que sentia em com

Enquanto muitos sonhavam em ser médico, ele queria ser motorneiro - para dirigir bondes na cidade de Porto Alegre. Enquanto outros queriam ser advogados, sonhava em ser sorveteiro, pelo grande prazer que sentia em comer o doce gelado. Mas a vida acabou encaminhando-o para uma direção muito oposta à dos seus desejos de infância - e Flávio Wornicov Portela tornou-se um jornalista.


A vontade de ser um profissional da comunicação nasceu depois de uma conversa com o locutor do Correspondente Aplub, Milton Ferreti Jung. "Eu estava no final do primeiro grau e havia uma disciplina chamada orientação educacional para que os alunos trabalhassem o que gostariam de ser", recorda. Uma das atividades dos estudantes era entrevistar pessoas de diferentes profissões e depois fazer um relato para os colegas. "Foi muito importante para mim e guardo comigo, até hoje, aquele antigo formulário. Quando saí da Rádio Guaíba depois de falar com o Milton, já sabia o que seria".


Portela morava com a mãe, Ruth, e os avós maternos. O pai morreu vítima de um ataque cardíaco quando Flávio ainda era um bebê, com um ano e três meses, e as lembranças que possui da imagem paterna vêm de algumas fotos. O avô sempre ouvia a Guaíba e a emissora se tornou uma referência para o menino. "Quando tocava a música do noticiário do meio-dia eu sabia que era a hora do almoço", conta ele que, como gosta de dizer, sempre foi bom de garfo.  A falta de uma presença paterna não foi problema para o garoto, que teve da mãe, o apoio e carinho necessários para crescer muito bem resolvido. "Ela foi ótima e encarou a bronca", destaca.


Aos 18 anos, seu desejo de criança começou a se concretizar. Ingressou na Famecos no curso de jornalismo, e um ano depois conseguiu o primeiro estágio na R.J. Reynolds Tabacos do Brasil, no qual distribuía material publicitário de cigarro em estabelecimentos comerciais. Portela também estagiou no Boletim Oficial Quero-Quero, publicação mensal da União dos Escoteiros do Brasil, e na Rádio Sucesso, como produtor, onde ficou por três meses. "Trabalhei com muita gente legal. Meu coordenador de jornalismo era o Sérgio Endler e, no pouco tempo que permaneci na emissora, aprendi muito com ele". Saiu no final de fevereiro de 1985, para ocupar o cargo de escriturário no Banrisul. "Havia feito concurso e fui chamado para ganhar três vezes mais do que estava recebendo. Não pude recusar".


No mesmo ano em que começou a trabalhar no Banrisul, ganhou o prêmio Funcionário Destaque. "Quando iniciei, era um analfabeto financeiro e aprendi muito. Aprendi a lidar com as pessoas e ver o lado bom e o ruim de cada um, pois atendia no balcão. A experiência que adquiri me dá a liberdade para dizer que não sou apenas um jornalista, mas também um administrador".


"Valeu demais"


Outro ponto que destaca como um auxilio em sua vida profissional foi o fato de ter participado por mais de 10 anos do escotismo. "Entrei aos 7 anos. Fui lobinho, escoteiro, sênior e pioneiro. Parei por causa da faculdade, pois os trabalhos em grupo, geralmente, eram no sábado". Segundo ele, de tudo que vivenciou em mais de uma década, o que permanece até hoje com grande relevância é a formação de lideres e a importância do trabalho em grupo. "Sou chefe desde os 12 anos de idade, quando me tornei monitor da patrulha. Esta questão de formar um líder e o saber trabalhar em grupo são muito importantes hoje no trabalho que faço".


Ao longo da sua carreira, o jornalista passou também pela Rádio Pampa, Rádio Gaúcha, foi assessor de imprensa e assistente parlamentar. Começou a trabalhar na Rádio Guaíba em julho de 1987. No início foi redator de notícias, produtor executivo e coordenador de produção. Em 96 tornou-se chefe de reportagem do Correio do Povo e voltou em maio do ano seguinte para a emissora para ocupar o cargo de gerente de jornalismo, que exerce até hoje.


Dos muitos reconhecimentos que teve - entre eles, Prêmio ARI de Jornalismo 1993, Prêmio de Jornalismo da Brigada Militar 1993, Prêmio Sebrae de Jornalismo Econômico 1995 - considera o mais importante a Menção Honrosa que recebeu no Prêmio ARI de 1990, com a série de programas especiais "O cotidiano dos internos em instituições do Estado na época que antecede o Natal", veiculados nas sextas-feiras, durante dezembro de 1989. "Eu era produtor do Guaíba Revista e o Wianey Carlet o apresentador. Um dos programas foi realizado no Presídio Central e no estúdio tínhamos a presença do  Secretária de Justiça do governo Simon, na época, Bernardo de Souza. Sempre dez minutos antes de terminar conversávamos com o convidado. Estávamos do lado de fora das grades e atrás de nós havia dois policiais armados. O clima era tenso e estávamos com medo". 


Em um determinado momento, um dos presos se manifestou. Deu seu nome, o número do seu processo e fez um pedido especial. "Pediu pelo amor de Deus que revissem seu caso, pois já era para estar solto há dois anos. O secretário disse que ia verificar e, duas semanas depois, nos enviou uma carta, que o Wianey leu no ar, informando que o presidiário estava certo, havia um erro e que, daquela data em diante, estava livre. Foi uma alegria para nós, pois fizemos sem pensar, sem intenção, foi muito bonito. Não ganhamos nenhum prêmio, mas valeu demais".


Conhecendo lugares


Além do reconhecimento, a profissão proporcionou a Portela a oportunidade de fazer uma das coisas de que mais gosta: viajar. Como jornalista, foi para o Japão, Alemanha e Holanda, entre outros. De todos os lugares que visitou, Paris é o preferido. "Aquele jingle que diz que Paris é uma festa continua valendo. Em 2001 fui acompanhando a comitiva do então governador Olivio Dutra e, no ano seguinte, fui com minha mulher". Férias, para ele e a esposa, Maria Inês Möllmann, são sinônimo de viagem. Dentre os planos futuros do casal estão Itália e Londres. Os dois amam conhecer novos lugares e, é claro, passar um pouco mais de tempo juntos.


Ele mesmo se intitula um workaholic porque trabalha sete dias por semana na Rádio Guaíba, apresenta nas segundas-feiras na tevê o programa Seis e Meia, com  Cléber Moreira e Ataídes Miranda, e, ainda encontra tempo para estudar inglês. Geralmente, vai para a rádio pela manhã e só volta para casa à noite. Muitas vezes, chega na redação às 4h. "Tenho que cobrir o jornalismo das 5h à meia noite. Hoje em dia, minha maior preocupação é que a rádio esteja no ar", afirma. A leitura dos jornais é obrigatória para ele porque, para cobrar dos outros, acredita ter que estar bem informado. "Leio, na ordem, Correio do Povo, Zero Hora, Jornal do Comércio e O Sul. O radinho está sempre ligado na Guaíba, às vezes monitoro outras, e a TV também está sempre em noticiários".


A rotina atarefada fez com que descuidasse da saúde. Fascinado pelo futebol, "é um gremista fanático", e até quatro anos atrás, jogava com a turma da rádio. "Tive que parar. Não podia mais jogar com os guris de 20 anos, pois eles vão na bola como uma pessoa que vai num prato de comida depois de uma semana sem comer. Não tem condição", conta aos risos. Sem praticar nenhum exercício, a saúde foi ficando debilitada e, dois anos atrás, em uma visita ao médico não teve boas notícias. "Estava acima do peso, com problema na glicose e diabete tipo 2. Sorte que é aquela que não precisa de insulina", observa pelo lado positivo.


Por recomendação médica, começou a caminhar três vezes por semana, modificar hábitos alimentares e abandonar um vício, o chocolate.  "Tive que controlar a dificuldade que tinha para dizer não à comida. Hoje tomo sorvete diet ou light, não é tão gostoso, mas, enfim, é sorvete. Meu maior problema foi o chocolate, às vezes ainda passa um "contra bando" porque chocolate diet é muito ruim", brinca com muito bom humor. Os esforços deram resultados e ele reduziu 12 quilos. "Tenho que perder mais cinco, e depois é só manter". 


A força de vontade é uma das características de Portela. Muito organizado e perfeccionista diz que, agora, aos 39 anos, aprendeu com a vida uma lição. "Ninguém é tão bom e tão completo. Temos que saber lidar com as deficiências das pessoas. Hoje tenho sensibilidade para isso, antes não tinha tanto. Temos que aprender a conviver com as limitações".


Tudo azul


Ele está de bem com o mundo. O bom momento emocional e a estabilidade financeira resultam de muito trabalho, o que para ele é o grande segredo do sucesso. "Todos os prêmios e troféus que ganhei não foram conseguidos através de apenas cinco horas de jornalismo. Mesmo não ganhando horas extras ficava  trabalhando e pensando em como fazer programas diferenciados, em me projetar".


O trabalho não o assusta, pelo contrário, é capaz de motivá-lo cada vez mais. Tanto que seu projeto atual é tornar o programa Seis e Meia uma atração diária. "Já completou dois anos e está segmentado. Agora temos que conseguir mais patrocinadores para concretizar esta meta".


Portela está cuidando da carreira profissional, sem descuidar da parte emocional. Hoje, já não leva tão a sério coisas que antigamente o incomodavam. Segundo o jornalista, é a experiência. "A vida é um grande aprendizado, por isso, sorrir para um novo dia é fundamental. Quero fazer muito dentro do jornalismo ainda, cuidar da minha esposa, aumentar a família, e estar presente na vida da minha mãe, afinal, ela sempre foi uma grande companheira. Viúva por mais de 30 anos, sempre cuidou de mim, agora é a minha vez."

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