Telmo Ramos: Exceção à regra

Ele procura atuar nos bastidores, mas figura entre os mais criativos e talentosos diretores de criação da praça.

Do estereótipo de publicitário ele tem quase nada. Nada de extravagância e vaidade, muito menos do glamour. O ar meio tímido, embora muito bem humorado, parece deixá-lo longe do mundo glamouroso da propaganda. Em compensação, seu nome aparece muito nas entrelinhas das fichas técnicas de campanhas e trabalhos publicitários. É assim que o publicitário Telmo Ramos, sócio- diretor da Paim Comunicação, acompanha o mundo da propaganda - sempre nos bastidores, não querendo, em hipótese alguma, ficar na vitrine. Nem precisa. Hoje, aos 46 anos, mais de 20 de carreira, é reconhecido pelo mercado, com o título de "Publicitário do Ano 2003", conquistado agora no 29º Salão da Propaganda.
A torcida de uma boa parcela do mercado para que Telmo ganhasse o cobiçado título é compreendida agora, diante de sua humildade e simpatia que fazem com que seja bem quisto e querido pelos colegas publicitários gaúchos. De qualquer forma, ele mesmo considera-se "um publicitário atípico".
Natural de Garibaldi, Telmo Ramos pretendia ser engenheiro mecânico e chegou a cursar um ano da faculdade em Caxias do Sul. A desistência do curso se deu pela dificuldade nas disciplinas de matemática e cálculo. Descobriu que queria ser publicitário através de uma forma prosaica: a leitura de um "livro das profissões". Aos 18 anos, a única coisa que sabia do futuro profissional é que tinha que fazer algo que "mexesse com as mãos". Seu pai era delegado de polícia e tinha como hobby o radioamadorismo, atividade que deixava Telmo fascinado. "Isso me influenciou muito. Eu gostava de montar e desmanchar coisas. Montava sistemas de rádio dentro de casa, o que satisfazia um pouco o meu lado engenheiro. Mas ao mesmo tempo, eu brincava de repórter radiofônico. Era meio esquisito porque as duas coisas me atraíam, tanto a parte da comunicação quanto essa dos circuitos elétricos", conta.
Telmo formou-se em Publicidade e Propaganda na Famecos, em 1978. Sua primeira atuação na área foi no final da faculdade, quando inscreveu-se para um estágio na agência MPM, onde trabalhou durante um ano, como redator júnior. Assim como a maioria dos publicitários, no início da carreira foi agarrando todas as oportunidades que chegavam ao seu alcance, tendo passagens por várias agências. Da MPM, foi para a Escala, onde permaneceu por dois anos, como redator. Dali foi convidado para atuar na Standard Propaganda, agência onde ficou mais tempo. "Trabalhei por 11 anos. Lá eu já era diretor de criação e estabeleci relações muito boas com o mercado", lembra o publicitário.
Depois da Standard, Telmo foi para a Competence, onde atuou até meados de 1993. Os bons relacionamentos desenvolvidos na Standard renderam ao publicitário o convite para trabalhar em uma agência de publicidade chilena, a North Cote Ogilvy & Mather, subsidiária do Grupo Ogilvy em Santiago do Chile. Já casado com a futura cronista e escritora Martha Medeiros, em setembro de 1993 ele foi de "mala e cuia" para Santiago, onde trabalhou por um ano na agência chilena. A oportunidade veio em boa hora também para a esposa Martha, pois o período em que residiram no país serviu de inspiração a ela para escrever o livro "Santiago do Chile", obra que traz dicas de turismo sobre a capital chilena.
A experiência em criação publicitária trouxe-o de volta para o Brasil, quando, a convite do ex-sócio-diretor da Paim, Alter Macedo, assumiu a direção de criação da agência em 1994. Apesar da experiência profissional e qualidade de vida em Santiago, Telmo diz que trabalhar em propaganda no Chile foi "uma espécie de regressão". "Não era muito fácil atuar lá, tinha uma série de restrições, a cultura não era muito livre, o que dificultava os trabalhos publicitários. Mas valeu a pena por atender contas multinacionais, como Shell e Nestlé", destaca.
Completando, no próximo ano, 10 anos como sócio- diretor da Paim, Telmo comemora também os bons frutos de seus mais de 20 anos de trajetória profissional. Na hora de "colocar a mão na massa", ele não esconde sua timidez e revela-se um dos melhores diretores de criação do mercado gaúcho. Fato que é comprovado pelos inúmeros títulos e prêmios que coleciona em sua estante. O recente "Publicitário do Ano" figura agora o lado do "Redator do Ano" e "Diretor de Criação do Ano", além dos conquistados pelos trabalhos desenvolvidos para os clientes. Neste ano, com a candidatura para o título de Publicitário do Ano, Telmo pôde ver o quanto é admirado e reconhecido por sua equipe de criação e colegas da agência, os quais escreveram uma carta pública destacando o brilhantismo e honrarias à sua atuação publicitária.
A família
Fruto do casamento de 15 anos com Martha, tem duas filhas, Júlia, de 12 anos, e Laura, de 8. Telmo preza muito a convivência familiar e dedica grande parte de seu tempo disponível a curtir Martha "e as gurias". Entre uma paradinha e outra, nas suas atividades na agência, ele aproveita para almoçar em casa com a família ou ir às aulas de inglês, atividade que pratica duas vezes por semana. Considera-se muito caseiro e acredita que o gosto por ficar em casa é decorrente de algumas das características do signo de Câncer. "Canceriano gosta de curtir sua casa, eu sou supercaseiro", revela.
A curtição intensa pela casa e família é justificada quando Telmo conta que os quatro fazem muitas atividades juntos. "Pelo que a gente vê em outras famílias, posso dizer que temos o privilégio de ter um convívio familiar intenso. Nós trocamos idéias e lemos juntos. Chega uma certa hora lá em casa, em que todos estão lendo", conta. Como bom amante da literatura e com o incentivo de Martha, o publicitário afirma que também arrisca-se a escrever alguns textos e contos. "Às vezes eu acabo acreditando que tenho algum talento para isso. Um dos meus projetos para o futuro é me dedicar a escrever com mais intensidade", conta.
Nos fins de semana a família ruma para a praia de Torres, refúgio e local de descanso para eles. Até mesmo fora de época de veraneio, Telmo diz que é muito difícil ficar em Porto Alegre. Para o publicitário, as viagens em família são como uma religião: sagradas. Dentre as várias já realizadas, Telmo salienta que as mais marcantes foram as primeiras, que não foram muito planejadas. "Aquelas que a gente não tem muita grana, sabe? Essas são as que surpreendem mais". E no caso, Grécia e Turquia são as mais-mais. Nas horas de folga, geralmente na praia, Telmo diz que adora andar de bicicleta, que é um de seus hobbies prediletos, além da leitura. Mas revela que adoraria saber tocar bateria e que a prática está entre os seus planos para o futuro. "É uma coisa incômoda, porque não pode ter no apartamento, mas quem sabe um dia eu ache um lugar para aprender a tocar". Talvez por isso, a música seja tão apreciada pelo publicitário. Entre os estilos favoritos destaca principalmente Jazz, Blues e Rock.
No caminho do bem
Telmo Ramos afirma ter vários planos pessoais e profissionais em mente para o futuro. Porém, diz que um dos seus defeitos é justamente a "acomodação", que não leva à realização dos planos. "Eu até dou o primeiro passo, mas no segundo eu desisto. Eu acho que tenho uma certa preguiça. E acredito que essa falta de ambição freie um pouco minha vida", explica.
Como qualidade pessoal, prefere destacar que é uma pessoa muito afetuosa e carinhosa. "Sempre quero ajudar as pessoas, tenho essa coisa de pensar mais nos outros do que em mim". Para o publicitário, manter esse "seu lado do bem" só vem a contribuir tanto pessoal quanto profissionalmente. Por tudo, e depois de três indicações para o destaque de Publicitário do Ano, agora chegou a vez de Telmo Ramos. Para ele, a conquista do título significa que a missão foi cumprida, por ter conseguido mostrar o seu trabalho ao longo de sua carreira. "O mais importante de tudo foi ter tido a chance de ensinar pessoas, de ter contribuído para a classe publicitária. A satisfação profissional é acionada sempre que olho para trás e vejo o quanto foram relevantes os meus ensinamentos para alguns profissionais", conclui.

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