O jeito descolado e a desenvoltura são traços marcantes da personalidade de Alice Inês Lorenzi Urbim. E não podia ser diferente para essa jornalista que é movida por desafios e apaixonada pela arte de produzir e produzir. À frente da área de produção da RBS TV e TVCOM, Alice, 51 anos, persegue seus ideais orientada sempre por um único objetivo: "Surpreender o espectador a toda hora, causando estranheza até mesmo com o óbvio".

Alice cursou Magistério durante o ensino médio no Colégio Bom Conselho. Antes de terminar o curso, aos 17 anos, foi convidada para lecionar na escola, onde atuou como professora primária durante quase três anos. Na década de 70, já decidida que seguiria a carreira de Jornalismo, ingressou no curso de Comunicação Social da Famecos (PUC-RS). No primeiro ano de faculdade, Alice ainda conciliou sua atividade como professora e o primeiro estágio na área, realizado na Fundação de Economia e Estatística (FEE), no setor de Informática.

Pouco tempo depois, devido à dificuldade em conciliar as atividades, resolveu se dedicar exclusivamente para o Jornalismo. Em 1974, foi selecionada para atuar como repórter da editoria Cultura no extinto jornal Hoje, do Grupo RBS. "Por um acaso da vida, não tinha mais vaga na editoria Geral e acabei caindo na Cultura. No início, fazia a coluna de bares e restaurantes. Depois, passei para a coluna de shows e teatros. Imagina, com apenas 21 anos eu já fazia críticas de teatro", relembra.

Por ter conseguido atender às demandas daquele "tumultuado ritmo de vida", Alice orgulha-se ao dizer que concluiu o curso de Jornalismo no tempo hábil de quatro anos. E conta que sua maior decepção profissional foi a demissão em massa sofrida por ela e demais jornalistas quando ocorreu o fechamento do Hoje, em 1975. No mesmo dia da frustração, recebeu um convite para trabalhar na produção do quadro de Variedades do Jornal do Almoço, da RBS TV. "No início, fiquei assustada porque não tinha experiência em televisão. No outro dia, já comecei a trabalhar", relembra.

Neste primeiro momento, foram 10 anos de atuação, tendo passado de assistente de Produção até coordenadora dos programas do Jornal do Almoço, TV Mulher e Galpão Crioulo. Mas ainda durante o período na RBS TV, Alice trabalhou durante curto tempo na Folha da Manhã. "Eu não tinha certeza de que queria trabalhar em televisão. Achava que a TV não era minha história. Aí, fui trabalhar no jornalismo impresso e percebi que aquilo também não era pra mim", diz.

Entre uma produção e outra...

Na década de 80, decidiu deixar a RBS para encarar novos desafios. Foi então que abriu, juntamente com Lígia Valper, a produtora Viva Produções. À frente do negócio, durante nove anos, coordenou produções locais como os longas-metragens 'Sonho sem Fim' e 'Noite', filmes de curta-metragem e divulgação de peças teatrais. "Percebi que gerenciar a produtora e realizar o trabalho, que era de qualidade, não estava dando muito retorno", explica. Foi então que aceitou a proposta de voltar para a RBS TV, só que desta vez na produção do jornalismo, como chefe de reportagem. "Na verdade, eu saía e voltava da RBS, devido a outros trabalhos. Posso dizer que, de 30 anos de carreira, trabalhei 18 anos aqui", comenta.

Entre estas idas e vindas, atuou também, por três meses, na produção da TV Guaíba e na direção de produção de campanhas políticas. Entre elas, estão a candidatura de Cézar Schirmer, a prefeito de Porto Alegre, em 1992, de Yeda Crusius, na eleição para prefeito em 1996, e de Antônio Britto, na eleição para governador do Estado em 1994 e 1998. Alice também atuou como professora das disciplinas de Telejornalismo na Famecos, de meados da década de 80 até a de 90.

O convite feito pelo diretor de Jornalismo da RBS TV, Raul Costa Júnior, em 1999, veio a calhar perfeitamente para Alice, já que "estava procurando o foco para a carreira profissional". Entre as atribuições do cargo estavam a produção de programas e projetos especiais da emissora. O projeto 'Caras Novas' e o programa 'Patrola' são idealizações de destaque dos trabalhos desenvolvidos por ela na RBS TV. Hoje, à frente do núcleo de produção da RBS TV e TVCOM, Alice é responsável diretamente pela produção de programas das duas emissoras, como 'Anonymus Gourmet', 'Galpão Crioulo', 'Patrola' e pelo departamento de Especiais. Na TVCOM, a jornalista gerencia todos programas de entretenimento.

Desde o ano passado, Alice também é coordenadora nacional do Input (International Public Television Conference), organização internacional voluntária de programas de televisão. Para Alice, a função no Input é extremamente importante para a carreira, já que agrega um maior conhecimento sobre produções de TV mundiais. "Eu sou ariana e o que me importa é o que estou fazendo agora. Por isso, datas não são importantes para mim. Claro que o que já fiz contribui para o que sou hoje. Mas não dou muita importância ao passado, isso não é o mais relevante", avalia Alice, que em 2004 recebeu o Prêmio Líderes Vencedores, da Federasul, por sua trajetória profissional.

Os bastidores

Alice é casada com o jornalista e escritor Carlos Urbim, com quem tem dois filhos. O mais velho, Emiliano, de 26 anos, seguiu os passos dos pais e, hoje, atua como editor da revista da MTV, em São Paulo. Já o caçula Glauco, que mora com Alice e Carlos, cursava Direito e há pouco decidiu mudar de curso, optando também pelo Jornalismo. Embora trabalhe cerca de 12 a 14 horas por dia, Alice reserva um espaço na agenda para as atividades pessoais. Durante a semana, até às 10h, em dias alternados, ela faz acupuntura, aulas de conversação de inglês, aeróbica e exercícios do método pilates. "Tem que ser assim, tudo muito programado, se não acabo não fazendo", diz Alice.

Nos fins de semana, dedica o tempo livre a cuidar dos cabelos, corpo e mente. "Aí faço massagem, cabelo, maquiagem, mãos e saio muito. Tem uma menina que acha que sou onipresente, porque ela me vê em tudo que é lugar", comenta, dando risada ao explicar que procura prestigiar a maioria dos eventos da cidade. Para Alice, não há nenhum problema em cumprir uma programação extensa de eventos, pois, além de lazer, se tornou fundamental para o seu trabalho e sobrevivência. A jornalista chega a assistir três sessões seguidas de cinema, gosta de ir a shows, espetáculos e teatro. "Dizem que sou uma hiperativa controlada. Sabe aqueles que se regra?", brinca.

Mas claro que há, também, o tempo dedicado a desfrutar de programas familiares. Em casa, aproveita para organizar o lar e suas diversas coleções. E aí, ela revela uma curiosidade. Alice e Carlos transformam todo objeto com mais de três unidades em coleção, cada uma em seu devido lugar. "Se tem um, já tem dois e o terceiro já vira coleção e terá um lugar específico na casa", diz. A mais valiosa é a de brinquedos antigos, que já chega a incluir mais de 200 peças, algumas reproduções e outras originais. As demais incluem objetos como rolhas, cartão postais, freecards, garrafas, caixas de fósforo e álbum de fotografia. "A minha casa é um parque temático. Me encanta ficar lá ajeitando e olhando para as coleções. Dizem que quem coleciona tem um apego grande à memória. Essa coisa lúdica é uma terapia para mim", explica.

Adora viajar e conhecer lugares, tanto que todas as economias são destinadas para viagens e passeios. Há dois anos, realizou mais um de seus sonhos: conheceu Cuba e morou por três semanas em uma república com outros cinco estudantes. Para Alice, a aventura foi enriquecedora tanto para a vida pessoal quanto para a profissional. "Isso proporciona um outro tipo de conhecimento. Tem pessoas que não conhecem bairros da própria cidade, que nunca andaram de Trensurb e nem de ônibus. Eu sempre priorizei viagens, é uma coisa que altera tua vida totalmente. Sempre vai agregar conhecimento e cultura", aconselha. Toda a paixão por determinados prazeres de vida e a curiosidade por conhecer o novo fazem jus quando a simpática jornalista revela seu grande sonho: "Ganhar muito dinheiro e viajar eternamente, para qualquer lugar e bem despreocupada", diz, dando uma gargalhada contagiante.