Vera Carneiro: Humor e empolgação

Descontração, alegria e senso de humor são características marcantes no jeito de ser de Vera Carneiro, que contagia os amigos, os colegas, a família, e até mesmo quem não a conhece pessoalmente.

Vera Carneiro - Reprodução

O nome de registro é Vera Regina Venturini de Azevedo, mas o codinome é Vera Carneiro. "O sobrenome foi herdado do casamento e aí acabei adotando na carreira profissional", sai logo dizendo. Descontração, alegria e senso de humor são características marcantes no seu jeito de ser, contagiando os amigos, os colegas, a família, e até mesmo quem não a conhece pessoalmente. Aliás, ela não podia ter seguido um caminho diferente mesmo, foi realmente impulsionada por suas "aptidões", as quais motivaram também suas conquistas profissionais. Hoje, se destaca não só pela versatilidade que agrega nas relações com o mercado como também pelo trabalho desenvolvido, juntamente com a sócia Lelei Teixeira, à frente da Pauta Assessoria, uma das principais assessorias de imprensa de Porto Alegre.

Ela mesma diz que se enquadra naquelas histórias clássicas de interior: aos 17 anos, veio de Santa Cruz do Sul para a Capital, onde tentaria uma vaga na universidade. Cheia de dúvidas e incertezas, chegou em Porto Alegre sem saber ainda qual profissão desejava seguir. "Eu era daquela geração completamente perdida. Uma hora queria fazer decoração, outra artes plásticas, e aí me decidi por comunicação. Foi quando ingressei no curso de Publicidade e Propaganda, na PUCRS, em 1975", relembra.

Já no primeiro ano de faculdade, Vera começara a fazer estágios em agências de publicidade. Iniciou atuando como redatora na extinta agência do comunicador Raul Moreau, passando depois pela Lux Propaganda, "house" da rede de varejo Magazines Radiolandia Brutschke, e logo foi convidada para atuar na MSZ, onde permaneceu por três anos. "Depois, estava desempregada e surgiu uma oportunidade de trabalhar com o costureiro Rui Spohr, auxiliando nas tarefas de atendimento e relacionamento", conta Vera, entusiasmada ao detalhar a trajetória. Pouco tempo depois, em 1980, Vera foi contratada para atuar numa empresa de decoração da Capital, onde era responsável pela área de comunicação. Lá, um amigo lhe deu a dica de que a TV Guaíba estava selecionando profissionais para o programa Guaíba Feminina. "Eu nem hesitei, subi o Morro e cheguei lá dizendo que queria me inscrever para uma vaga em produção. Não tinha nenhuma experiência, mas eu confiei que saberia fazer."

Enquanto esperava para ser entrevistada por Sérgio Reis, diretor de programação da emissora na época, Vera observava as pessoas que trabalhavam na Guaíba e uma, em especial, chamou sua atenção. "Estava sentada na sala de espera e vejo uma pessoa com passo muito firme e umas fitas na mão passando por ali. Pensei na hora: "um dia quero eu passear assim por estes corredores". Neste instante, percebi que a produção em TV me encantava. Essa pessoa coincidentemente era a Lelei", revela ela, com uma boa risada ao relembrar como conheceu a amiga, que veio a se tornar também sua sócia alguns anos mais tarde. Vera atuou na produção do Guaíba Feminina até 1983. "A TV Guaíba foi o que me tirou da publicidade e me colocou definitivamente na área de jornalismo. O rumo da minha carreira não dependeu da minha formação, foi uma coisa mais de aptidão e talento."

Após sua saída da Guaíba, surgiu a oportunidade, por indicação de Lelei, de atuar na rádio de jornalismo que estava sendo montada pela Rede Pampa, cujo diretor de programação era o jornalista Luiz Figueredo. "Lembro da histórica reunião de montagem da rádio com os profissionais contratados, entre eles estavam Adroaldo Streck, Lauro Quadros, Rogério Mendelski, Tânia Carvalho, Lelei e eu. Até hoje, quando encontro alguns deles a gente brinca dizendo "tudo começou naquela sala"", lembra Vera, saudosa da época que considerou muito importante para a carreira profissional.

O casamento que deu certo

Em 1987, novamente indicada pela amiga Lelei, Vera foi convidada para assumir a assessoria de programação e coordenação de produção da TVE, onde ficou durante quatro anos. "Essa experiência foi muito bacana, além de marcante. Eu não conhecia ninguém e nem tinha vínculos partidários. A minha contratação se deu pela minha técnica", afirma. Dias depois de ter deixado o cargo na emissora, em 1991, Vera recebera um telefonema da Lelei dizendo que era para ir a Gramado conversar com a organização do Festival de Cinema, que estava à procura de uma assessoria de imprensa. "Ela foi avisada pela Jussara Porto, a quem a gente considera nossa madrinha intelectual, que a organização estava contratando serviços de assessoria para o Festival. Ela só disse: "o pessoal está procurando, então pega o carro e vai lá conversar com eles". Eu fui, fizemos o trabalho e iniciamos ali uma nova fase de nossas carreiras", conta Vera, rindo com Lelei, que acompanhou alguns trechos da entrevista. As duas, que já estavam acostumadas com a coordenação de coberturas do evento de cinema pela TVE, selaram ali não só a amizade que vinha de longa data como também a sociedade para a Pauta Assessoria. "Eu costumo dizer que a Lelei é, sem dúvida, o meu melhor casamento", diz ela, com uma gargalhada.

Vera recorda orgulhosa tanto das dificuldades enfrentadas quanto das vitórias obtidas nestes 14 anos de consolidação da assessoria. "Eu digo que a gloriosa Olivetti, na qual Lelei datilografava eximiamente quando começamos, estará em pedra de mármore como um ícone no hall de entrada do prédio de cinco andares que sediará a Pauta, com um placa dizendo: "Como tudo começou". É mais uma brincadeira de Vera, que esbanja senso de humor e empolgação até para narrar seus sonhos e planos futuros para a empresa.

Brincando de casinha

"Eu adoro um sábado de manhã, de sair de casa, de ir na feira, de organizar as coisas em casa, de tomar chimarrão e de ler o jornal bem devagarinho", descreve Vera, ao comentar sua programação dos finais de semana. As horas de folga são dedicadas principalmente para a convivência com seus filhos: Bruno, de 21 anos, estudante de Arquitetura, e Bianca, 18, que está decidindo para qual curso prestará vestibular. "Os dois moram comigo e me dão essa alegria diária de conviver com eles". Mas os amigos também têm espaço reservado nas horas de folga da assessora. Tomar um café, bater papo e se encontrar com os amigos são indispensáveis entre os programas de lazer.

Ir ao cinema e assistir a filmes em casa são outros passatempos de Vera. "Qualquer preguiça que eu tenha vale a pena quando entro no cinema. Não dá pra trocar televisão e DVD pela sala de cinema", diz. Entre as preferências, estão filmes de ficção, gênero que também é o mais apreciado na hora de escolher um livro. Costuma ter em sua cabeceira vários livros, os quais vai lendo um de cada vez. "Fico muito na dúvida quando entro numa livraria. A última vez comprei As Três Marias, de Rachel de Queiroz, Memórias de Minhas Putas Tristes, de Gabriel Garcia Márquez, e a Ditadura Envergonhada, de Elio Gaspari. Essa coisa de ter um monte de livros do meu lado tem a minha cara. Gosto de fazer um pouco de tudo ao mesmo tempo", confessa. Já na música, Vera prioriza qualquer canção de MPB, dispensando sertanejo, clássicas e gaúchas.

Uma qualidade e um defeito? Pausa de alguns segundos para pensar. E logo, com um sorriso no rosto, revela: "Uma qualidade minha é que gosto muito de pessoas e de suas histórias". A sócia e amiga ? ninguém melhor  que ela para avaliar os pontos fortes de Vera, especialmente no caso de Lelei, com sua personalidade forte e competência profissional, que compensam sua baixa estatura ? faz questão de intervir na entrevista e diz: "Uma das marcas registradas dela é a facilidade que tem de se relacionar, isso é fantástico", assegura. Ao concordar com esta característica, Vera completa ainda que considera como defeito, às vezes, o fato de "palpitar em tudo". "Sou metida e antenada demais. Então, é muito difícil pedir algo para alguém, tenho a mania de centralizar as atividades. Mas o fato de ter essa autocrítica, reconhecer os nossos defeitos ajuda a contorná-los. Isso eu aprendi e aprimorei mais em função dos meus filhos", analisa.

Como plano de futuro, ela é modesta em afirmar: "Quero continuar vivendo assim, cada vez mais tranqüila, contente e satisfeita com a vida que levo". Porém, Vera adianta que planeja atuar com algum trabalho voluntário e comunitário, o qual exija um maior envolvimento tanto pessoal como profissional. "O meu objetivo é fazer algo completamente diferente daquilo que faço. Tenho absoluta certeza que deveria, poderia e me realizaria muito fazendo algo do tipo", enfatiza.

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