Flávio Steiner: Navegar é preciso

O diretor de ZH está sempre atento à evolução das mídias e à direção dos ventos. Criado à beira do Guaíba, foi vice-campeão de vela. Há 11 anos na RBS, agora se prepara para alçar vôo.

Aos 39 anos, o diretor comercial de Zero Hora e velejador nas horas vagas, Flávio Steiner, está pronto para uma nova decolagem. Em dezembro, embarca com a esposa e as filhas para Vancouver, no Canadá, onde permanecerá por um ano. Essa será a viagem mais longa da vida da família e a primeira da pequena Nicole, de apenas nove meses.


Porto-alegrense, Flávio já viajou muito, até passou uma temporada em Nova York com parentes americanos durante a adolescência, mas mantendo sua base na Capital, desde 24 de julho de 1967, data de seu nascimento. Ele sabe que está prestes a realizar o sonho de muita gente: "Quando comuniquei sobre a viagem, fiquei impressionado com o número de pessoas que disse que tinha um projeto parecido", conta. E é para não deixar a jornada só no projeto, que ele está aproveitando o nascimento de Nicole para ir logo.


"Minha esposa é advogada, mas já estava em stand by por causa do bebê. Se não fôssemos agora, ela retomaria o trabalho e ficaria cada vez mais difícil", explica. A família ainda conta com Rafaela, de 7 anos, que está ansiosa com a mudança. Ela estuda há três anos na Panamerican School, onde só fala inglês. Segundo o pai-coruja, fala o idioma fluentemente e sem nenhum sotaque. Steiner reconhece que 2007, com tantas transformações, será "um ano sabático", mas produtivo. Ele fará diversos cursos nos Estados Unidos, o mais longo, com duração de um mês, será um MBA Executivo em Gestão Empresarial , em Stanford, na Califórnia. Se as aulas são em território estadunidense, por que morar no Canadá? "Primeiro porque é mais barato, e segundo porque eu adoro o país, tem o lado bom dos Estados Unidos e o lado bom da Europa. É desenvolvido, mas é tranqüilo, extremamente seguro e, especificamente Vancouver, é lindíssima, fica entre o mar e as montanhas. Muito próxima a uma das maiores estações de esqui da América do Norte e à fronteira com os Estados Unidos", explica, derretendo-se em elogios ao novo país.


Steiner gosta de estudar e estar sempre se aprimorando. Formado em Economia pela PUC (Pontifícia Universidade Católica), já fez pós-graduações em Finanças, na FGV (Fundação Getúlio Vargas), e em Marketing, na ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), além de outros tantos cursos, tanto no Brasil como no exterior. "O último curso grande que eu fiz foi em 1998" , diz, justificando a necessidade de voltar logo aos estudos. "Gosto de estudar, de ler, especialmente leitura técnica. Também aprecio literatura, claro, mas se eu pegar um livro sobre Gestão e um romance, não tenha dúvida que eu vou ler o de Gestão", revela.


Apaixonado pela mídia


O primeiro emprego foi aos 15 anos, na agência de turismo do pai. Mais tarde, já na faculdade, estagiou na Aeromot, uma empresa de aviação. "Trabalhava com contratos de transferência de tecnologia. Era muito interessante, eu ficava deslumbrado", lembra. Foi quando seu amigo Valdir Loeff o convidou para trabalhar numa agência de publicidade que ele estava abrindo, a SLM. Era 1987. Steiner aceitou e passou a cuidar das rotinas administrativas da empresa, toda a parte de contabilidade e faturamento. "Me apaixonei pelo mundo da propaganda, até diria mais, o mundo da mídia", diz.


Após quatro anos na agência, em 1990, candidatou-se a trainee da RBS e foi aprovado. Atuava na Gestão Administrativa das Rádios. Steiner explica que, naquela época, Rádio, Jornal e TV eram unidades separadas. "Cada uma tinha um diretor-geral, que se reportava direto ao presidente. Eu trabalhava com o Ricardo Gentilini, que era o diretor das Rádios", descreve. Em meados de 1992, o profissional deixou a RBS, onde já era assessor da direção, para assumir a gerência financeira do Grupo Josapar. Seu afastamento do grupo de comunicação não duraria muito.


Em maio de 1995, foi convidado a voltar para a RBS, dessa vez na área de Marketing Direto. Sua primeira missão foi fundir as bases de dados dos assinantes de Zero Hora com os da Net para fazer um Clube do Assinante mais forte. "Nunca mais saí da empresa", aponta. Em 1997, assumiu a direção-administrativa de Jornais e, em 1998, passou a diretor de Circulação: "Foi muito legal, uma experiência bem rica. A gente lançou o Diário Gaúcho nesse período. E a parte de Circulação é uma das mais complexas do jornal. Tem que cuidar das vendas em bancas, das assinaturas, das promoções, da distribuição? É puxado", adverte.


Em 2001, o diretor comercial era Gentilini. Com sua ida para São Paulo, para gerenciar o escritório nacional da RBS, Steiner assumiu o cargo, pelo qual responderá até 29 de dezembro, data de sua viagem. Na função, pôde voltar a lidar com publicidade e marketing. "É bom ter esse contato com as agências e pude conhecer melhor algumas pessoas do mercado. A experiência tem sido muito gratificante, porque foi duro tomar a decisão de deixar a Circulação", confessa.


Afogando em anúncios


Se a rotina da Circulação era complexa, a da Comercialização não deixa por menos. Além da prospecção de negócios, a equipe tem que administrar a parte operacional. "Para se ter uma idéia, numa sexta-feira, entre meio-dia e 18h, a gente recebe 30 mil anúncios, entre os do corpo do jornal e os dos Classificados, principalmente. Vêm por todos os lados e tem que estar tudo funcionando", conta.


Zero Hora tem cerca de 15 mil clientes ativos por ano e Steiner tenta acompanhar de perto entre 100 e 200 deles. "A equipe ajuda, mas eu mesmo vou quando é uma renovação de contrato, se há algum problema ou uma solicitação extra", diz. Além do trabalho diário no jornal, à noite, sempre há eventos de clientes que o diretor faz questão de comparecer para mostrar seu interesse e conhecer melhor as necessidades dos anunciantes. "A gente tem que conhecer as necessidades para poder sugerir soluções de mídia. Na RBS, existe essa visão multimídia, gostamos de oferecer alternativas", explica. Além dos jornais, seu setor também vende os sites clicRBS e hagah.


A única lástima de Steiner em relação à viagem é que quando voltar não estará mais na mesma função, apesar de estar indo apenas licenciado da RBS. "Eu mesmo vou pagar os cursos, mas em contrapartida fico tranqüilo. Não devo nada a ninguém e ao mesmo tempo continuo com o vínculo com a empresa, que eu não abriria mão. Adoro a RBS e amo o que eu faço", explica. Ele já tem um substituto. Será Eduardo Smith, que é um "ótimo colega, acredito que fará um excelente trabalho". Steiner sabe que, em um ano, muita coisa terá mudado, na sua vida, na empresa e na comunicação. "O mundo de mídia é surpreendente, até o jornal, que é antigo e volta e meia aparece alguém dizendo que vai acabar, é fascinante, sempre tem novidades. Assim como o cinema e o rádio, que se renovam e ganham perspectivas diferentes. A TV teve o incremento do cabo e agora da digitalização. E a internet nem se fala. O próprio consumidor está mudando com tudo isso, incorporando as novas tecnologias muito rapidamente", alerta.


Um privilegiado


Steiner viveu no bairro Tristeza até se casar, há 11 anos. Foi criado, portanto, na beira do Guaíba. Como se não bastasse, seus pais tinham um apartamento em Capão da Canoa e outro, depois, em Bombinhas, em Santa Catarina , sempre perto da praia. O resultado é que ele adora água e se diz mal-acostumado. "Velejo desde os 4 anos, fiz o primeiro curso de vela de Porto Alegre. Era um privilegiado por poder passar o ano inteiro perto da água e ver o pôr-do-sol no Guaíba", gaba-se. Ele chegou a manter dois barcos, vendeu um recentemente e provavelmente ainda venda o outro, já que está indo viajar.


Da década de 1970 para cá, já correu regatas, participou de campeonatos brasileiros e, há dois anos, competiu no mundial, em Cancun. Neste , ficou em 78º lugar, entre 140 competidores, mas Steiner também tem um título de vice-campeão brasileiro. "Com o tempo, a gente tem que assumir responsabilidades e fica difícil seguir no esporte", lamenta. Além disso, ele teve uma hérnia de disco que o afastou da vela e também do tênis, outra atividade que costumava praticar. "Mas estou voltando aos pouquinhos", alerta.


Hoje, Steiner mora na Bela Vista e admite que foi difícil trocar a Zona Sul. "Na prática, para esse estilo de vida que eu levo, é melhor morar na Bela Vista. A Zona Sul é maravilhosa, mas ainda é um pouquinho longe, talvez no futuro?", deixa em aberto. E a verdade é que ele gosta de seu apartamento, "que não é grande, mas fica em frente a uma pracinha, é ótimo para as crianças". A esposa, Andréa, ele conhece desde os 5 anos. Foram colegas no João XXIII, mas Flávio mudou de escola na 6ª série e eles perderam o contato. Voltaram a se encontrar já na faculdade, num reencontro do colégio. Em seguida, começaram a namorar. "A vida nos uniu novamente. Já tínhamos uma afinidade desde criança", emociona-se.


Para matar a saudade da água, além de viajar muito, a família freqüenta regularmente o Clube Jangadeiros, onde dá para pescar e até velejar. "É o nosso refúgio", diz. Fora da água, ele gosta de assistir TV a cabo, especialmente seriados e videoclipes, com sua filha mais velha. Certamente, ele ainda é um privilegiado.

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