Edison Vara: De 3×4 a capas de revistas

A fotografia não fica de lado nem nos momentos de lazer, mas esportes em geral só o atraem quando o assunto é trabalho.

Ele mora bem pertinho do Estádio Olímpico, mas, ao contrário do que parece, Edison Vara não é um fanático por futebol. Por paradoxal que pareça, o fotógrafo da revista Placar acompanha os jogos apenas a trabalho. Sua paixão mesmo é a fotografia, que não esquece nem nos momentos de lazer.


O repórter fotográfico nasceu no dia 23 de maio de 1952, em Pedro Osório. Por alguns anos, trabalhou em Pelotas com o pai, o caminhoneiro Otair. A família possuía uma empresa de turismo, a Transvatur, e, conforme viajava a trabalho, para locais como Argentina e Paraguai, Edison começou a registrar as mais diferentes imagens com uma câmera amadora, sentindo cada vez mais interesse pela área e vontade de se aperfeiçoar. Seus primeiros estudos sobre a técnica ocorreram através do primo Gilson Tavares, que fotografava em eventos sociais. E começou a estudar as apostilas da Universal, cursos por correspondência.


Em seu simpático apartamento decorado com as capas de revistas que levam suas fotos, Edison conta com bom-humor que o pai não gostou muito quando o filho, aos 26 anos de idade, decidiu deixar de lado o trabalho na empresa da família para se dedicar a uma nova profissão. Quando eu cheguei e disse pro pai que ia ser fotógrafo ele dizia: "ah, tu não vai viver disso aí". Edison já era casado e tinha uma filha de um ano de idade. Um dos primeiros trabalhos profissionais como fotógrafo aconteceu através de um colega jornalista, que o convidou para fazer a cobertura do Carnaval de Pelotas para o Diário da Manhã. Aceitou o desafio e passou uma semana fotografando a folia pelotense. Com as primeiras fotos publicadas, não havia mais dúvidas: a fotografia havia chegado para ficar.


No começo, um retratista


Apenas publicando algumas fotos em um jornal do interior, Edison não podia ter a fotografia como sustento. Assim, por mais algum tempo, continuou trabalhando na empresa do pai e, paralelamente, aprendendo mais sobre revelação. Foi então que resolveu abrir um estúdio de fotos 3×4, em uma avenida próxima ao quartel de Pelotas. Nesta fase, as "pautas" de Edison eram casamentos, aniversários, batizados e fotos para documentos de identidade. Foi com essas fotos pequeninas, sempre necessárias para a produção de documentos, que obteve uma boa remuneração. Devido à proximidade com o quartel, o retratista Edison foi contratado para fazer todas as fotos dos soldados para carteiras e fichas.


Mesmo com o estúdio prosperando, tentava manter-se no fotojornalismo. Um novo convite bateu à sua porta quando o amigo Valério Ayres deixou a sucursal de Pelotas do Correio do Povo para trabalhar na Zero Hora, em Porto Alegre. Era 1981, passou a trabalhar na vaga deixada pelo fotógrafo, e em seguida conseguiu seu registro profissional. Foi aí que começou a cobrir esportes, que hoje é sua principal especialidade. Um ano depois, ao deixar ao jornal, Edison trabalhou na Assessoria de Imprensa da Prefeitura Municipal de Pelotas, onde ficou por quatro anos.


De Pelotas foi para Brasília, a convite da ANJ (Associação Nacional dos Jornais), que contratou profissionais para registrar todos os deputados constituintes. "Nós éramos três fotógrafos e dois laboratoristas. Queriam que a gente fotografasse todos os 496 deputados. Tinha que fotografar tudo, bonequinhos, gabinete por gabinete, para que a ANJ pudesse revelar o material obtido, fazer kits e enviar o malote para os jornais associados".


Mudanças contínuas


Ao retornar de Brasília, Edison fez sua mudança para Porto Alegre, onde passou a trabalhar em Zero Hora. Atuou ali de 1986 a 1990, quando realizou trabalhos importantes, como a cobertura dos 30 anos da Revolução Cubana e a greve nacional dos portos. Em seu segundo dia no novo emprego, já realizou um feito: foi o único fotógrafo que conseguiu captar uma imagem exclusiva da manifestação no Porto de Rio Grande, o que lhe rendeu a capa do jornal. "Depois que eu fiz a foto do soldado com uma metralhadora, o navio no fundo, não deixando a tripulação descer, não parei mais. Aí eu fiz várias fotos, até que chegaram dois soldados perguntando o que eu fazia lá. ?Sou da Zero Hora?. ?Tu não pode tá aqui?, responderam.  Me pegaram pelo braço e foram me levando. Pensei que iam me tirar os filmes, mas só me mandaram embora de lá".


Ao deixar ZH, assumiu o cargo de editor do projeto de um novo jornal, a Folha de Hoje, em Caxias do Sul. O resultado não saiu conforme o esperado e ele acabou voltando para a Capital alguns meses depois. Logo, tinha um novo posto: o Correio do Povo, onde trabalhou durante cinco anos.


Nesse período, Edison realizou seu primeiro frila para a revista Placar, em Caxias do Sul, cobrindo uma partida entre Juventude e Goiás. O trabalho foi bem aceito, o que lhe rendeu uma proposta para continuar fotografando para o veículo. Em 1995, passou a integrar a equipe de fotógrafos da publicação, posto que ocupa até hoje. Sua atuação foi estendida para outras revistas da Editora Abril, como Veja, Quatro Rodas, Contigo, Ana Maria, Viva Mais e Capricho. Para a Veja, Edison teve a oportunidade de fotografar com exclusividade os criminosos conhecidos como "Maníaco do Parque", de São Paulo, e "Maníaco do Cassino", de Rio Grande. Além das fotos lhe renderem a capa da revista, representaram um grande furo jornalístico.


Nem Yeda escapou 


Um fato curioso da carreira de Edison envolve a atual governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, na época, Ministra do Planejamento, Orçamento e Coordenação do Governo Itamar Franco. O fotógrafo conta que soube que a "Musa de Itamar" passava os finais de semana em Capão da Canoa e dedicou-se a conseguir uma foto sua em um momento de lazer. Edison começou a conversar com os vizinhos e descobriu que o horário favorito de Yeda passear era no início da manhã. Persistente, foi a Capão em três finais de semana, sempre por volta das 5h da manhã. "Sábado e domingo eu ia às 5 horas, de bermuda e chapéu, só com uma lente grande, pra aproximar".


No domingo do último fim de semana, encontrou a atual governadora passeando à beira-mar com o marido. "Lembro como se fosse hoje, eram umas 7h15min da manhã, ela saiu do edifício, que é perto da praia. Quando eu vi aquele casal de mãozinhas dadas, botei a lente e vi que eram os dois". Escondido, registrou tudo, em fotos coloridas e preto e branco. "Ela ficou uns 15 minutos na praia, quando caminhou uns 100 metros , ela tirou a canga, girando com ar de liberdade e eu fiz todinha a seqüência. Entrando na água, saindo, conversando com um casal, os dois se jogando água. Depois que eu fiz as fotos pensei que ela não poderia me ver. Escondi a câmera, saí da praia e liguei pro jornal". As fotos foram publicadas inicialmente no Correio do Povo e depois em diversos jornais e revistas do país. 


Hoje, Edison divide a paixão pelo Jornalismo com os três filhos. A primogênita, Daiane, 31 anos, forma-se agora em Jornalismo na Unisinos, mas, segundo o pai-coruja, o ramo favorito da filha é a produção de textos. Diego, 23, é fotógrafo do jornal Correio do Povo. Os dois são de seu primeiro casamento e vivem com a mãe. O caçula, Gustavo, 22, vive em Pelotas e cursa Jornalismo na UFPel. Separado há oito anos, atualmente ele namora a administradora Silvane Romero, que é a responsável pelo marketing da agência dele, a Press Photo


A não ser na escuridão de uma sala de cinema, Edison não deixa as câmeras de lado nem em seus momentos de lazer. Mesmo quando não está trabalhando, gosta de fotografar. Ele possui uma câmera semiamadora que o acompanha a todos os lugares e registra de tudo. Também gosta de ler - livros sobre fotografia, claro - e navegar na internet, especialmente para descobrir como anda o trabalho das grandes agências. A cozinha também diverte Edison, embora ele admita que, nessa área, Silvane é muito mais capaz. 

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