Karim Miskulin: Uma diplomata na Comunicação

Da hotelaria para o Direito, do Direito para as Ciências Políticas. Tanto conhecimento acumulado só ajuda na direção da revista Voto.

Formada em Hotelaria, a jovem Karim Miskulin foi a São Paulo trabalhar na área. De volta ao Rio Grande do Sul, se apaixonou pela política. Após passagem pela Câmara de Vereadores de Porto Alegre e pela Assembléia Legislativa do Estado, resolveu juntar os conhecimentos adquiridos na Comunicação e em outras áreas vivenciadas. Criou a Voto Comunicação Aplicada à Política que, mais tarde, daria origem à revista Voto, da qual Karim é diretora executiva. Após muita luta, a publicação alcançou reconhecimento junto a setores da sociedade gaúcha e não só entre os profissionais da esfera política. Planos para o futuro? Levar a Voto ao reconhecimento nacional.


Experiência hoteleira


Natural de Santo Antônio da Patrulha, Karim iniciou o curso de Hotelaria em Canela, em 1987, e já ali demonstrava interesse pela área da comunicação. "Eu queria ter uma profissão que tivesse contato com pessoas. Sempre gostei de gente, de falar e de interagir. Esta profissão também me daria a oportunidade de viajar e conhecer línguas e culturas diferentes", explica.


Ao final do curso, com apenas 19 anos, foi fazer um estágio de três meses em um hotel da rede Hilton International, em São Paulo. Após cumprir o período de estágio, foi efetivada como executiva de contas da empresa, onde ficou por mais um ano, até resolver viajar para o exterior. "Entendo que esta tenha sido a melhor experiência profissional da minha vida. Além de todo o aprendizado do dia-a-dia, tive a oportunidade de realizar diversos cursos de especialização na área de vendas, marketing e diplomacia. Muito mais do que uma faculdade", salienta. Como uma das exigências do hotel era que os contratados da área dominassem dois idiomas estrangeiros, a decisão foi viajar para Londres.


Em um período de baixa estação, Karim conversou com o diretor do hotel e disse que gostaria de ficar na Inglaterra por três meses e que, depois desse tempo, voltaria para a empresa. "Só que aconteceu um ?acidente de percurso? e eu acabei conhecendo o meu marido nessa viagem, o Márcio. E eu optei por não voltar", conta. Os três meses acabaram virando um ano. Não houve problemas com a diretoria do hotel, tanto que o chefe até visitou a profissional em Londres. E mais, ela assumiu o escritório de representação do Hotel Hilton no Rio Grande do Sul, que funcionou até as complicações do período do Plano Collor, o que fez com que a sua relação com a hotelaria fosse completamente desligada.


Paixão pela política


Quando voltou ao Estado, em 1991, Karim, além do marido, trouxe junto a vontade de cursar Direito, já que o companheiro era estudante de advocacia. Durante o 4º semestre do curso, foi apresentada à cadeira de Ciências Políticas, que a fez se apaixonar completamente pela área, a ponto de trancar o Direito e investir em uma faculdade específica de Ciências Políticas, em 1993. "Foi ali que eu aprendi o verdadeiro sentido e a grandeza da palavra ?política? e comecei a me interessar. Mas também não foi de uma hora pra outra. Eu venho de uma família politizada. Meu avô, um líder nato, já foi três vezes prefeito de Santo Antônio e era um apaixonado pela verdadeira e bela política. Também tinha o meu pai, que era cônsul do Peru em Porto Alegre, e me passou toda uma visão da área diplomática", considera.


Foi cursando a faculdade na Ulbra que conheceu um assessor da então vereadora Sônia Santos, de quem recebeu o primeiro convite para atuar no ramo. Em 1998, se estabeleceu na Câmara dos Vereadores de Porto Alegre, até ser convidada para trabalhar na TV Assembléia.


Nasce uma idéia


Foi lá, atuando por quase três anos na produção do telejornalismo da emissora, que surgiu a idéia, em conjunto com o estagiário de publicidade Dayan Golanski e a assessora parlamentar Andréia Iglesias, de criar a Voto Comunicação Aplicada à Política. A empresa nasceu em 2003 e dava cursos profissionalizantes na área, como legislação eleitoral e marketing político. Com seis meses de funcionamento, apareceu a vontade de criar a revista como um apoio de divulgação, mas, logo no primeiro número, ela acabou tornando-se o personagem principal, engolindo o restante das atividades. Tornou-se um veículo interlocutor entre a área empresarial e a política e que nasceu observando as carências do mercado, buscando dar oportunidade a jornalistas que estavam sem espaço para mostrar o seu potencial.


"Às vezes as pessoas dizem que a revista não tem nada a ver com a minha formação hoteleira, mas enganam-se profundamente. Eu usei, e ainda uso, muito do que eu aprendi de diplomacia e política no Hilton, por exemplo, para resolver problemas com elegância", esclarece. Hoje, com 38 anos, e depois de toda a sua história no meio político, ela esclarece: "Candidatura nem pensar!".


Reconhecimento


Atualmente, a Voto vai de vento em popa, com tiragem mensal de seis mil exemplares, mas nem tudo foi calmaria. Karim coleciona especulações sobre quem estaria "por trás" da revista. "Uma hora a Voto era de um partido, depois de outro, depois de algum grande empresário ou jornalista. Até do Barrionuevo [jornalista e consultor José Barrionuevo] ela já foi. Sem contar outros grupos. Quem dera se nós tivéssemos alguém que pagasse nossas contas", diverte-se. Outra dificuldade enfrentada foi a falta de um espaço físico para a redação, conquistado somente em 2006. "Nós cansamos de virar noites, um na casa do outro, fechando a publicação em volta de um só computador. Sem contar que fazíamos de tudo, partindo da produção, passando pela reportagem e diagramação, até a distribuição", lembra.


Mais tarde, Golanski deixou a sociedade para investir na carreira musical e Andréia também não continuou, pois não conseguia conciliar o trabalho na Voto com projetos paralelos. "Mas eu nunca fiquei sozinha. Sempre tive um grupo que acreditava muito na revista. Nomes que inclusive estão até hoje, como a nossa coordenadora de comunicação Ana Mota", enfatiza. Além da equipe de colaboradores, colunistas, repórteres e outros nomes importantes para a produção da publicação, Karim conta com o editor Afonso Licks e o chefe de reportagem Carlos MacArthur. "Eu sempre quis que o Afonso fosse o meu editor, mas até ele aceitar foi muita luta, muita insistência. Então hoje, já me sinto realizada só de ter ele trabalhando comigo", aponta divertida.


Não faltaram tropeços e incompreensões nesta caminhada, como Karim relembra: "No começo, sofremos muita desconfiança. Desde pessoas dizendo que a revista não iria pra frente, que não sobreviveria à primeira eleição, que não tinha mercado, até os que profetizavam que o nome não faria sucesso. Se eu fosse ouvir tudo o que disseram para não fazer e que não daria certo, eu realmente não teria feito nem a primeira". O que a motivou para lutar pela publicação foi o inesperado apoio de profissionais e anunciantes que acreditaram no projeto desde o começo. "Agora, eu acredito que a Voto tenha um superespaço pela frente e acredito que, a longo prazo, ela será uma revista de importância nacional. E é pra isso que estamos trabalhando", avisa.


Divisor de águas


Karim divide a história da publicação em três grandes momentos. Três marcos que cravaram definitivamente a Voto como uma revista "adulta". O primeiro deles foi uma grande entrevista exclusiva com o ex-presidente Fernando Collor, em 2005. "Nós entendíamos que era preciso fazer algo que nos desse mais visibilidade em toda a sociedade. Ligamos para Alagoas, conseguimos marcar com ele e nos mandamos para lá", relembra. A matéria gerou grande repercussão nacional em outros veículos como Correio Braziliense, Jornal do Brasil e Folha de S. Paulo.


O segundo grande feito é uma reportagem com o jornalista e político José Barrionuevo, no mesmo ano. "Já que diziam que ele era o nosso ?dono?, decidimos acabar com isso e ir lá entrevistar o cara. Até porque, desde que ele tinha saído da RBS, nunca tinha dado nenhuma grande entrevista", conta. Mais um sucesso. A capa ?Ele voltou? atingiu grande notoriedade e vendeu muito. 


O grande marco ficou registrado no ano de 2006. A Voto, em parceria com o instituto Methodus, passou a publicar pesquisas eleitorais mensais. Na eleição para governador do Estado, foi o único veículo que anunciou antecipadamente a vitória de Yeda Crusius e que o então governador Germano Rigotto não chegaria ao segundo turno. "Todo mundo dizia que éramos loucos e que não devíamos divulgar a pesquisa, pois o Rigotto ganharia a eleição e nós quebraríamos a cara", revela. No final, Yeda saiu vitoriosa e a Voto mais ainda. "Não pelo partido vencedor, é lógico, mas pelo acerto do resultado", grifa. Depois, veículos da mídia impressa e online de diversas partes do Brasil voltaram a dirigir a atenção para a Voto e repercutiram os resultados da pesquisa.


Esporte e família


Quando toda a diplomacia e paciência do mundo não são suficientes para resolver os problemas do dia-a-dia, a solução encontrada por Karim é extravasar através do lazer e do esporte. A corrida e a dança são os exercícios favoritos. Com Márcio, Karim tem uma filha de 10 anos, a Laura, e há cinco meses espera mais uma menina. "Por causa da gravidez, não posso mais me submeter ao impacto da corrida, mas nada que uma bicicleta ergométrica não resolva. Suar bastante é a melhor maneira de aliviar a alma e colocar os sapos engolidos durante o dia para fora", aponta.


Fora o exercício, seu maior lazer é estar na companhia dos familiares. "Pelo menos dois fins de semana por mês eu tenho que curtir minha família aqui ou em Santo Antônio. No início da revista, minha vida pessoal foi imensamente prejudicada e agora eu tento compensar. Foi o Márcio quem deu me deu todo o apoio emocional durante os anos difíceis. Sem o seu suporte, respaldo e tolerância eu não teria chegado onde estou, com certeza", afirma.

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