Luís Cruz: Caminhos percorridos

Comprometido com o que faz, o publicitário comanda há quatro meses a direção regional do SBT

Sensível, inquieto, comprometido com o que faz, apaixonado por viagens e pelo Imortal Tricolor dos Pampas, assim se define Luís Cruz, o atual diretor regional do SBT. O publicitário, que também tem formação como jornalista, adora descobrir coisas novas, e isso explica o fato de que, aos 44 anos, pode afirmar que conhece mais de 40 países. A informalidade, o otimismo e a descontração, segundo ele, são os traços mais marcantes de sua personalidade. "Também sou muito próximo das pessoas com as quais convivo, sou tão próximo que, inclusive, meus colegas de trabalho me chamam de Luizão, um apelido que ganhei quando era estagiário de uma agência de publicidade."


O gaúcho nascido em Porto Alegre a 2 de setembro de 1963 foi casado durante sete anos e, desse relacionamento, tem dois filhos: Maria Eduarda, 10 anos, e Lucas, 7, que moram com a mãe. Uma vez por semana, as crianças ficam na casa de Luís e ele faz questão de levá-las à escola e de proporcionar uma situação de integração. "Tento colocar limites e valorizar alguns objetivos de educação. Tenho uma preocupação em passar o gosto pela leitura, o interesse pela cultura e o hábito de viajar. Sou um pai-coruja e acho que eles têm um espaço importante dentro da minha vida. Como eu não convivo com meus filhos, meus amigos sabem que, em determinados dias, eu não posso ter outros compromissos porque tenho minhas obrigações com eles", relata.


Nos primeiros sete anos de carreira, o publicitário trabalhou em agências de propaganda e costumava procurar a mídia para divulgar seus anúncios e campanhas. Agora, a situação mudou: ele faz parte da mídia. "Antes, era eu quem mediava a relação das agências com os veículos e, agora, os papéis se inverteram. Estou do outro lado do balcão", brinca.


Insight que deu certo


Com 17 anos, Luís fez a escolha que mudou seu rumo e definiu seu futuro profissional. O jovem que prestaria vestibular na Ufrgs para Agronomia, de repente, teve um insight e decidiu se tornar publicitário. "Eu era o único de uma turma de 50 alunos que seguiu para este ramo. Tudo aconteceu de uma forma muito repentina na minha vida e ser publicitário não era moda naquela época!." Depois de estar matriculado no curso de Publicidade e Propaganda da Famecos, para conhecer e tomar gosto pela futura profissão, começou a discutir o tema com professores e também assinou revistas para se inteirar do assunto. A jogada deu certo e, em 1985, ele estava com o diploma na mão. Para quem queria cursar Agronomia, o interesse pela área da Comunicação foi tão grande que, dois anos após a primeira formatura, lá estava ele vestindo a toga pela segunda vez, agora para receber o título de jornalista pela mesma instituição. "Sou um publicitário antes de ser jornalista. Apesar de possuir a segunda formação, sempre exerci minhas atividades profissionais relacionadas à área da publicidade." 


Foi através de um estágio que encontrou a chave para a porta de entrada no mercado de trabalho. O início da carreira aconteceu na MPM Propaganda enquanto ainda era um estudante. "Lá, atuei por cerca de oito meses e foi uma coisa legal, porque o programa de estágios durava seis meses, e o meu contrato terminava em dezembro. Então cheguei e disse que queria continuar na empresa, mesmo sendo estagiário, e consegui! Acabei ficando lá por mais um tempo." Depois de formado, trabalhou durante um curto período na agência Um e, logo após, retornou para a MPM, agora como funcionário. "Foi um lugar muito importante porque tudo acontecia lá. Era o grande local para se trabalhar e fazer propaganda no Estado. A empresa possuía as principais contas e criadores. A agência era a maior do Brasil e tinha uma megaestrutura em Porto Alegre." O profissional logo passou do setor de Mídia para o Atendimento, e, com apenas 24 anos, era o responsável por uma dos principais clientes da agência: a Ipiranga.


Luís integrou o quadro de funcionários da empresa por quatro anos até decidir partir para um novo desafio.  Ele foi convidado para fazer o atendimento de novas contas numa agência concorrente que seria implantada em Porto Alegre, a DCS. "Comecei a trabalhar com Borrachas Mercur, Petroquímica Triunfo e o Mac Donald"s, e como a multinacional estava em processo de instalação na capital, tive que ir a São Paulo para passar por um treinamento. Durante dois meses, conheci todas as áreas do Mac Donald"s, desde a parte do atendimento no balcão até a área de marketing e distribuição. Foi uma experiência muito interessante", relata.


Bagagem cultural


Quase dois anos já havia se passado, mas a inquietude, que, segundo Luís, faz parte de sua personalidade, não permitia que o trabalho na DCS fluísse normalmente. O desejo pelas coisas novas fez com que ele decidisse dar um tempo em sua vida profissional. "Queria aprimorar meu inglês e adquirir novas experiências. Como estava meio decepcionado com a profissão, vendi meu carro e, com o dinheiro, fui viajar. Morei seis meses em Londres." Para pagar os cursos que fazia na cidade, o publicitário diz ter feito todas aquelas coisas que as pessoas fazem quando vão morar fora. "Trabalhei em pubs e hotéis para pagar as despesas, mas também consegui juntar dinheiro para viajar, que era a coisa que eu mais queria. Consegui fazer um tour pela Ásia e por dois meses viajei pela Índia, Nepal, Tailândia, Indonésia e Malásia", conta.


Quando os recursos financeiros acabaram, voltou para a Inglaterra para trabalhar e juntar mais, pois queria concretizar outro sonho: assistir aos jogos de Copa do Mundo. "Eu e meus dois irmãos, mais dois amigos, alugamos um carro e viajamos pela França para acompanhar os jogos da Copa de 90. Assistíamos a uma partida do Brasil e viajávamos para acompanhar outra. Em um mês, percorremos cerca de nove mil quilômetros", relembra. Depois que a Seleção Brasileira foi desclassificada, ele foi para Portugal trabalhar em um jornal de classificados.


"Minha experiência mais marcante na Inglaterra no ramo da comunicação foi entregar revistas na porta do metrô", relembra. A saudade de casa falou mais alto, e Luís, contente por ter adquirido experiência e bagagem cultural, retornou ao Brasil. "Costumo falar que, nessa época, adquiri muita bagagem, mas bagagem cultural, porque roupa e estas coisas eu quase não possuía mais! Passei um ano usando tênis e mochila." Ao desembarcar no Aeroporto Salgado Filho, decidiu investir no que realmente sabia fazer: trabalhar com publicidade. Colocou o portifólio debaixo do braço e foi em busca de novos rumos.


De olho na concorrência


Em 1991, teve uma passagem de seis meses pela agência Standard e, após este período, iniciou suas atividades no SBT na parte de atendimento. Na emissora, além da atuação regional, também prestou atendimento ao mercado nacional. "Nesse período que fiquei no SBT, viajei outras vezes e é a coisa que eu mais gosto de fazer. Dentro dessa história toda, eu conheci cerca de 40 países. Meu maior barato é viajar. Fiz coisas que não sei quando é que vou poder fazer novamente." Depois de oito anos na empresa, sentiu mais uma vez que estava na hora de rever sua carreira e investir em outras oportunidades.


Foi neste momento que a concorrente RBS surgiu na vida do publicitário. Ele participou de um projeto experimental do grupo, o RBS Plus, que era uma unidade para atendimento multimídia dos 12 maiores clientes da empresa. "Comecei como gerente de conta da Colombo, então, tudo o que era relacionado às Lojas Colombo, seja mídia em rádio, TV ou jornal, era eu quem atuava como mediador. Depois, me tornei o gerente executivo comercial do RBS Plus, mas como optaram por não prosseguir com o projeto, eu voltei para a RBS TV", diz ele. Luís define a experiência no grupo onde trabalhou até 2004 como algo que possibilitou aprimorar seu conhecimento e sua formação. Ele também teve uma passagem de apenas três meses na Band. Após passear pela concorrência, o profissional retornou ao SBT. "Foi um período muito rico, porque em questão de quatro meses eu atuei na RBS, na Bandeirantes e no SBT."


Desde o período em que retomou as atividades na emissora de Sílvio Santos, Luís sempre estivera em contato com João Roberto Brito, que começou a dirigir as regionais do SBT no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina em 2004. Brito, que viera de São Paulo para ocupar o cargo em Porto Alegre, foi uma das vítimas do vôo 3054, da TAM, no último dia 17 de julho. "Ele era um exemplo de pessoa, uma referência em termos de conduta de equipe e de como propiciar o desenvolvimento dos funcionários. Era um grande aprendizado trabalhar com ele e, realmente, foi uma coisa absurda o acidente que aconteceu. Foi uma situação muito traumática e uma perda muito grande para a gente, pois perdemos também um amigo", recorda.


A fatalidade instaurou uma nuvem de tristeza e abatimento sobre a equipe, mas a casa tinha que ser reorganizada, e o SBT Rio Grande do Sul precisava de um novo líder. Foi então que o nome de Luís foi sugerido para ocupar o cargo de diretor regional da emissora. "Hoje, faço o que eu nunca pensei que fosse fazer. Até me imaginei sentado nesta cadeira, mas jamais passou pela minha cabeça que seria desta forma. Fui bem recebido pelo mercado e tive demonstrações de apoio", afirma. 


O publicitário diz se sentir feliz por integrar a equipe do SBT, uma empresa que faz parte de um grupo nacional e tem uma preocupação com o entretenimento da família brasileira. "Essa minha volta para o SBT foi muito boa, porque eu tive a oportunidade de formar uma equipe que tem uma união muito grande e é muito qualificada em termos de mercado. O ambiente de trabalho daqui é muito leve. Temos os nossos objetivos, as nossas cobranças e as nossas necessidades, mas adoro trabalhar aqui e adoro trabalhar com as pessoas com quem trabalho."


Mudança de hábito


Aquelas promessas que muitos fazem na virada do ano geralmente acabam esquecidas depois da contagem regressiva e de umas taças de champagne. Mas foi num desses reveillons que Luís decidiu mudar seu estilo de vida. Ele queria adquirir hábitos mais saudáveis e começou a correr e a praticar exercícios com mais freqüência. "Sempre gostei de futebol e temos uma turma que joga todas as terças-feiras há mais de 20 anos, desde os tempos do colégio Anchieta. As pessoas com quem me relacionei, minhas namoradas e minha ex-esposa tiveram que conviver com isso."


Apesar de trabalhar com a mídia, um dos seus maiores prazeres continua sendo assistir à televisão. "Adoro televisão! Gosto de ficar acompanhando e vendo tudo que é feito em termos de TV. É um hábito que nunca perdi, apesar de ter sido uma criança de rua, pois passava o tempo inteiro de pés descalços jogando bola. Sempre assisti à muita televisão. Ainda é um hábito que eu considero um lazer, mas hoje acompanho tudo com olhar crítico de quem trabalha no meio. Tento verificar sempre quais são as formas novas de comercialização e o que se está fazendo de novo em termos de conteúdo."

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