Zuza: Persistência sem prazo de validade

De imagens captadas em pistas de skate às campanhas publicitárias: o talento anunciado na infância tornou-se profissão

Ele é daquele tipo de pessoa que não gosta de fazer as coisas pela metade. "Demoro muito tempo para tomar uma atitude, mas também quando tomo vou até o final. Se decido lavar louça, eu lavo, seco, guardo e ainda limpo a pia. Mas, se não, não me meto e a pilha vai ficar ali por dois ou três dias. Essa característica influi muito no meu trabalho. Se chamo a responsabilidade para mim, vou até o final, não faço nada pela metade." A confissão é do fotógrafo publicitário Gerson Bohrer Seffrin, mais conhecido como Zuza, apelido que recebeu do avô quando ainda era criança de colo. "Nem minha mãe me chama de Gerson. Eu aproveitei e usei Zuza como estratégia. É um nome supercompacto e grava na memória das pessoas com facilidade".


Apesar da paixão pela fotografia ter surgido na época de faculdade, a arte de registrar momentos já estava presente na infância do fotógrafo. "Quando eu era moleque, gostava de skate e andava muito em pistas, então, comprei uma câmera, daquelas descartáveis, para registrar as manobras do pessoal". Quando começou a cursar Publicidade e Propaganda na Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da PUC, seu objetivo era ser redator. Com o passar do tempo,  sentiu a necessidade de ter renda com o próprio trabalho - e começou a estagiar com profissionais da fotografia, entre eles, Marcelo Nunes e Roger Engelmann.


Zuza considera que o marco do início de sua carreira foi quando resolveu montar um estúdio com um colega de curso. "Eu era o responsável pelo laboratório e, aos poucos, fui pegando gosto pela coisa. Quando vi já estava envolvido, já tinha comprado uma câmera e já estava fazendo uns trabalhos que meu colega não conseguia".


A arte de fotografar moda


Em 1986, Zuza estava formado e se aproximava cada vez mais da fotografia, enquanto seu sócio se afastava das atividades. Mais tarde, o fotógrafo publicitário montou a própria empresa, a E6 - Fotografia e Iluminação, que teve o nome inspirado no processo de revelação de cromos. Computando agora 10 anos de mercado, o trabalho da E6 é focado em agências médias. "É muito mais fácil fazer uma história dentro de uma agência média do que em uma grande, porque esta, geralmente, te propicia um trabalho que pode ser maravilhoso, mas nos três meses seguintes você vai ficar parado. Já nas de médio porte, os trabalhos são menores, porém mais constantes. Tento dar este foco, mas isso não significa que estou conseguindo, porque ainda dependo de trabalhos maiores".


Zuza destaca campanhas realizadas para a Calçados Paquetá e para a operadora de celular Claro, a do papagaio pilchado, como ações de grande notabilidade e que contribuíram para firmar seu nome no mercado. Entre os últimos trabalhos, estão campanhas desenvolvidas para as agências Competence, Pública Propaganda, Dez e DCS.


Modelos, produção, figurinos, luzes, glamour: o mundo da moda. Quando se trata de trabalho, esse é o ambiente mais atrativo, na opinião de Zuza. "O legal de moda é que você aprende muito sobre luz e como trabalhar e dirigir pessoas. É o tipo de atividade que mais gosto e que, ao mesmo tempo, mais incomoda. Na verdade, existem dois tipos de incomodação", ensina ele. A primeira é o trato com os modelos: "Gera muita função, porque, além de dirigir, você tem que coordenar a equipe. Se você não tem um bom assistente, tem que ficar dando atenção para o cara que cuida da luz, o eletricista que faz a externa, as modelos e as maquiadoras. Deixar todas estas pessoas soltas dentro de um estúdio é caos na certa. Tem que ter paciência e pulso firme, coisa que não tenho, mas sempre ganho na conversa e argumentação. A segunda coisa  que incomoda neste tipo de trabalho é a subjetividade. Quando se trata de moda cada um tem um olho, cada um gosta de uma coisa diferente, e é difícil fazer algo original, pois os clientes, muitas vezes, passam layouts que já existem e aí é complicado".


Surfe e futebol


Não ter que trabalhar com uma rotina rígida e horários fixos é algo que agrada o fotógrafo, por mais que, de acordo com ele, isso também gere o lado negativo, que são os prazos mínimos e o fato de ter que virar a madrugada trabalhando. Mesmo nos dias de folga, Zuza admite que a cabeça, muitas vezes, não descansa. "O corpo pode se desligar, mas a cabeça não. Dependendo da época e do ritmo do trabalho anterior, mesmo parando a cabeça procura algo para fazer."


Para relaxar, a opção atende pelo nome de viagem. Se tem um ou dois dias de folga, procura ir à praia, de preferência Santa Catarina. A explicação é simples: "Adoro surfar. Quando estou no mar, esqueço o mundo e é minha terapia. Como tenho estúdio em casa, fica difícil determinar onde começa e onde termina o trabalho, então, para mim, o melhor é fugir, de preferência, para o mar". Além do surfe, outro esporte que pratica é o futebol. "Todas as quartas-feiras à noite o trabalho não tem espaço, pois neste dia o futebol é sagrado".


Zuza, que nasceu em Porto Alegre a 17 de julho de 1965, é casado há dois anos com Marcela. Apesar de não ter filhos, gosta muito de crianças. "Sou fissurado por crianças e tenho seis sobrinhos, que vivem grudados em mim e me ligam todo o dia". Para compensar a falta de filho, cachorro: "Tenho e trato como se fosse um filho para mim. É um boxer bem educado e anda para todos os lados comigo".


Olhos no horizonte


A leitura é outro hábito que o profissional descreve como saudável. Os livros de história são os preferidos. "Adoro história e leio, inclusive, livros didáticos. História é minha paixão e é uma faculdade que eu ainda quero fazer. Adoro assistir ao History Channel e também gosto de culturas pré-colombianas", revela.


Com pés no chão e olhos voltados para o horizonte, Zuza tem paixão pelo que faz e a persistência, que segundo ele é uma de suas características mais marcantes, ainda o levará a morar em Londres. Lá, pretende aprimorar não apenas suas técnicas na área de fotografia, mas também o inglês. O Nordeste brasileiro é outro local onde o fotógrafo gostaria de viver com a família. "Por que o Nordeste? Porque eu detesto inverno! Se tivéssemos um mês de frio durante o ano, poderia até nevar neste período e estaria ótimo, mas que depois voltasse o calor. Meu destino seria Salvador, entretanto, os planos dependem de como vai estar o mercado". Como assim? "Por mais dedicação que você tenha, quando se envelhece, a cabeça e o pensamento podem estar novos, mas o mercado publicitário vai retribuir com ingratidão e, para ele, teu talento tem um prazo de validade. O talento pode até possuir uma data-limite, mas a persistência não".

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