Humberto Trezzi: Senso de dever

Reconhecido pela ousadia e intrepidez ao buscar informações, o repórter da Zero Hora já dedicou 25 dos seus 46 anos de vida ao jornalismo

Humberto Trezzi - Reprodução

Claro, conciso, neutro e objetivo. Tais características tão almejadas em um texto jornalístico são atributos da própria personalidade de um dos repórteres mais experientes do jornal Zero Hora. Movido pelo senso de dever, Humberto Muzzel Trezzi já dedicou 25 dos seus 46 anos de vida ao jornalismo. Sempre reservado, sincero e avesso ao consumismo, ele admite que, de vez em quando, falta um pouco de subjetividade em sua vida. "Sou um cara que diz o que pensa e que age desta forma", explica, ao elencar a sinceridade e a objetividade como defeitos e, ao mesmo tempo, qualidades. Tudo depende, segundo ele, da intensidade.

Especializado em segurança pública, o jornalista é reconhecido pela ousadia e intrepidez ao buscar informações. Já fez coberturas criminais sobre tráfico de drogas e ações do Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC) no Rio de Janeiro e em São Paulo. Também acompanhou operações de guerra e missões de paz como enviado especial no Paraguai, Uruguai, México, Equador, Colômbia, Angola, Timor Leste e Haiti.

Em mais de duas décadas de carreira, conquistou 30 prêmios, entre eles, o Esso Região Sul e diversos na área de Direitos Humanos. Hoje, além de atuar como repórter especial em ZH nas editorias de Geral e de Polícia, assina a coluna 'Sua Segurança'. Foi um dos primeiros profissionais do Grupo RBS a fazer o Curso para Correspondentes em Áreas de Risco em Campo de Mayo, na Argentina, organizado pela ONU, em 2004. Mais tarde, em 2008, participou de um curso semelhante no Rio de Janeiro, promovido pelo Exército Brasileiro.

Jornalismo por acaso

Natural de Passo Fundo, onde nasceu em 20 de novembro de 1962, Trezzi ingressou no Jornalismo por mera casualidade. Na época do colégio, gostava da área biológica, tanto que chegou a fazer um curso técnico de laboratorista de análises clínicas. Estava determinado a prestar vestibular para Medicina ou para Odontologia. Tentou a segunda opção, na Ufrgs, mas não foi aprovado "por causa da matemática". Aliando o gosto pela leitura e a inaptidão para lidar com números, fez 'uni-duni-tê' na lista de cursos que não exigissem tal habilidade. O acaso apontou, então, para o Jornalismo.

Nos dois últimos anos da faculdade, na PUC, trabalhou como office-boy em um escritório de contabilidade. O primeiro emprego na imprensa só veio depois da formatura, em 1984, no semanário O Repórter, de Guaíba. O ano não foi de muitos bons frutos para a imprensa gaúcha: uma crise levou à falência a Companhia Jornalística Caldas Júnior e seus jornais Correio do Povo e Folha da Tarde. Trezzi, porém, ingressou no meio e não parou mais. Em seguida, registrou passagens pelo Jornal Metrô, que circulava na região sul, pela sucursal da Gazeta Mercantil, na editoria de Geral, pelo Diário do Sul, vinculado à GM.

Em 1988, ingressou na Zero Hora como freelancer para cobrir as eleições municipais. A tarefa básica implicava em acompanhar a rotina do então deputado federal pelo PDT e candidato à prefeitura de Porto Alegre Carlos Araujo. Passado o período eleitoral, permaneceu na editoria de Política, e, em seguida, foi para a Geral, onde está há 21 anos - o que não o impede de retomar suas origens em épocas eleitorais ou de crises políticas.

Quando questionado sobre sua motivação, ele explica, de uma forma calma e firme: "Senso de dever. Eu tenho uma formação disciplinada, rígida. Acho que isso foi bem utilizado nos jornais em que trabalhei. Eles sabem que sou assim, que podem me acordar a hora que for, que, se necessário, eu fico 30 horas sem dormir". Trezzi não para antes de concluir uma matéria. Encara a atividade como uma missão a ser cumprida.

Belicoso em ritmo desacelerado

Primogênito dos três filhos da professora Helena e do auditor de finanças públicas Gentil Justo, o repórter explica que sempre foi muito responsável devido à educação rígida que recebeu. Na infância, lembra de ter passado por uma 'fase CDF'. Não era muito estudioso, mas possuía grande facilidade para aprender e adorava ler. Na adolescência, tudo mudou: tornou-se "briguento, festeiro, rebelde e belicoso", em suas palavras. Estes traços, segundo ele, o acompanharam durante um bom tempo de sua vida, mas, agora, está em um ritmo mais desacelerado. "Estou tentando não brigar por pouca coisa, modificar minha maneira de ser e me tornar um cara mais tolerante. Já fui muito irritadiço. Acho que com a idade a gente se acalma", avalia.

A paternidade, assim como o dever, também veio cedo e fez com que, de certa forma, o jornalista criasse raízes. Não fosse isso, acredita que, certamente, viveria com o pé na estrada. Gostaria de ter sido correspondente internacional. O projeto, que não está descartado, o levaria para algum país do Terceiro Mundo. "Ser pai jovem foi uma das coisas que determinou minha trajetória: a de ficar. Se não tivesse essa responsabilidade com outros, talvez estivesse migrando de guerra em guerra. Não sei se seria aceito, mas tentaria. Sou um cara que tem forma física e disposição, talvez isso contasse."

Fruto de dois relacionamentos, tem os filhos Guilherme, 25 anos, publicitário, e Gabriela, 14, que pretende cursar Jornalismo. Namora há dois anos a historiadora e professora Angélica que, como ele, é bastante ligada à natureza: gostam de viajar, fazer trilhas, caminhadas, rafting e rappel. Nos finais de semana, só não vão a um parque se estiver chovendo. Trezzi pratica esportes e, devido ao desgaste físico, trocou a corrida pela bicicleta, mas também faz ginástica. Mas não o convidem para ir a um shopping ou fazer compras, pois se diz avesso ao consumismo e às redes sociais. "Sou espartano", justifica.

Livros sobre História, jornalismo, guerras e natureza são os preferidos. Devido à efemeridade das coisas, não possui mitos nem gurus. "Não vou dizer que este é o filme, é a pessoa, é o livro da minha vida. Acho tudo isso precipitado, dramático. Acho que são palavras de efeito. Por que você vai ser taxativo se, daqui a dois dias, você muda de opinião?"

Se não fosse jornalista, talvez atuasse na área militar. "Mas tenho minhas reservas em relação à disciplina demasiada e às ordens obtusas demais. Na área policial, também há muita corrupção." Hoje, aquele rapaz tímido, que não se imaginava fazendo entrevistas, acredita ser bem informado, rápido na apuração de dados e não se vê em outra função que não seja esta.

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