Daniela Kraemer: Um desafio aos 40

Com a tarefa de substituir o pai, a relações-públicas assumiu a gerência de Relações Governamentais e Públicas da GM

Uma pessoa inquieta e agitada - assim se define a relações-públicas Daniela Aesse Kraemer. Aos 40 anos, recém-feitos em 29 de setembro, a gerente de Relações Governamentais e Públicas da General Motors afirma que está no auge da sua carreira profissional e que fez algumas descobertas ao completar quatro décadas. 

Ao fazer uma retrospectiva de sua vida, Daniela diz que resolveu realizar um exercício para tentar lembrar tudo que já fez até hoje, e com isto descobriu o que a faz se sentir feliz. Para a experiência, reuniu alguns amigos de várias fases da vida e neste encontro se deparou com várias fotos da infância e da juventude que lhe trouxeram as lembranças de bons tempos.

aniela nasceu em Porto Alegre, mas aos oito anos mudou-se para Brasília com a família, devido ao trabalho do pai, o jornalista Marco Antonio Kraemer, que em 1977 foi trabalhar na Assessoria de Imprensa do Governo de Ernesto Geisel e, em seguida, como assessor de imprensa do presidente João Figueiredo. Na época em que foi convidado a trabalhar no Distrito Federal, o pai era repórter no Correio do Povo e cobria o poder executivo estadual e a área militar.

Com a mudança, a infância foi marcada pelas viagens para a terra natal da mãe, a também jornalista Marisa Aesse Kraemer, em Boqueirão do Leão, no interior do Rio Grande do Sul, a fim de estreitar o contato com a família e com os primos. Daniela e a irmã mais nova, Fernanda, costumavam tomar banho de açude e montar a árvore de Natal no final do ano com pinheiro natural, o que era uma grande festa para as meninas.

Da sua vida em Brasília, ela destaca que foi marcada pela companhia de muitas amigas e lembra que o diferencial da cidade era o fato de as pessoas estarem distantes de suas famílias, então a saída era fazer muitas amizades. "Tínhamos as nossas turmas e como a cidade era habitada por pessoas de todos os cantos do Brasil, isto nos aproximava e acabava nos unindo ainda mais", relata.

Com 15 anos voltou a morar em Porto Alegre, o que a fez se sentir triste e sozinha, já que não queria se separar das companheiras de adolescência e também porque não tinha amigos na capital gaúcha. Porém, logo este sentimento passou: foi morar no bairro Moinhos de Vento e estudar no colégio Bom Conselho, onde acabou fazendo grandes amizades. Neste período a jovem passou a frequentar as ruas 24 de Outubro e Mostardeiro e lembra que ali, onde hoje é o Centro Comercial 5ª Avenida, existia o Rib's; que era o ponto de encontro dos jovens da época.

Na hora da escolha

Até o terceiro ano do segundo grau, a opção de Daniela para o vestibular era o curso de Odontologia, e quando perguntada sobre qual profissão seguiria a resposta era imediata: "Dentista!". No entanto, testes vocacionais mostraram que sua área era a comunicação. Mas, contrariando a vontade inicial, a jovem fez duas faculdades em paralelo, e formou-se primeiro em Pedagogia pela Universidade do Rio Grande do Sul (Ufrgs), em 1992, e um semestre depois, em Relações Públicas, pela Faculdade dos Meios de Comunicação Social da PUC, a Famecos. Inquieta como é, decidiu não parar por aí, e especializou-se em Marketing pela PUC/RS, em 1994, e em Gestão Empresarial, pela Fundação Getúlio Vargas, em 1996.

Apesar de ter se formado em Pedagogia e mesmo gostando muito de criança, a relações-públicas diz que nunca se viu em uma sala de aula, pois a rotina na área de educação não a atrai, mas sim o desenvolvimento infantil. "Acredito que a criança é muito rica e autêntica, pois tem uma pureza e está aprendendo ainda sobre a vida, e é isto que me fascina e me faz querer estar perto delas", confessa.

Pela sua cabeça já passou também o jornalismo investigativo, pelo prazer de descobrir e investigar diferentes situações, mas relembra que acabou optando pela faculdade de Comunicação quando percebeu que o curso de Relações Públicas era o mais abrangente. Segundo ela, trabalhando nesta área teria a possibilidade de se desenvolver na parte administrativa, na organização de eventos e ainda teria o contato direto com as pessoas, e foram estes os ingredientes que influenciaram na sua escolha.

A transição na comunicação

Na comunicação, iniciou sua trajetória em 1992, na Agência Experimental de Relações Públicas, na PUC. Participou como voluntária de atividades como o SET Universitário, em que se envolvia diretamente com a organização do evento. Antes de se formar, a jovem foi trabalhar no GBOEX, na gerência de novos produtos, exercendo a atividade de assistente de relacionamento de novos clientes. Após um tempo, chegou à gerência de marketing.

Do GBOEX foi convidada a trabalhar no Grupo RBS, empresa na qual ficou por quatro anos. Iniciou na diretoria de Relações com Mercados, trabalhando com projetos especiais, fazendo perfis setoriais e análise de mercados. Na época, era responsável pela criação dos produtos multimarcas, que envolvia toda área de relacionamento da RBS e eventos como a chegada do Papai Noel e as festas pelo Dia das Crianças. Em 1994, foi convidada a ingressar na RBS TV, onde ficou por nove meses, e ajudou a produzir os materiais de divulgação do lançamento da TVCom, em 1995.

A agência que atendia à RBS na época era a Publicis Norton, que acabou convidando-a para atuar na empresa como Atendimento Executivo de conta do Grupo Sonae. Como sempre gostou de um desafio, decidiu encarar a nova tarefa e trabalhou durante três anos na agência. "Pensei que seria muito interessante deixar de ser veículo/empresa para trabalhar em agência para conhecer como funcionavam ambos os lados", declara.

Em 1999, passou a atender à conta do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio Grande do Sul (Sebrae/RS), pela agência Centro de Comunicação, e saindo de lá foi trabalhar como assessora de marketing do Instituto Cultural Brasileiro Norte-Americano (Cultural), onde durante seis anos, administrou toda a parte cultural que a escola desenvolvia.

Em um determinado momento da carreira, entendeu que era hora de ter o próprio negócio, para colocar em prática todo o conhecimento que tinha aprendido. E foi com esta motivação que em 2006 Daniela saiu do Cultural e abriu, com mais três sócias, a 'Departamento de Marketing', agência que tem como foco de trabalho clientes de pequeno e médio portes que não possuem estrutura para ter um departamento dentro da sua empresa.

Na velocidade de um carro

O negócio deu tão certo que Daniela atuou na empresa até surgir o chamado para participar do processo de seleção para a General Motors. O convite foi uma surpresa para ela e para o pai, que foi o funcionário número um da GM em Gravataí. "Meu pai foi a primeira pessoa contratada, antes mesmo do complexo da GM existir em Gravataí", razão pela qual, acredita, a participação da GM na vida de sua família foi muito marcante.

Mas foi em julho de 2008 que o lado profissional de Daniela se aproximou da GM. Foi ouvir uma palestra do vice-presidente da General Motors do Brasil, José Carlos de Pinheiro Neto, acompanhando o pai na Federasul, e no final do evento o executivo perguntou se ela já tinha pensado em trabalhar na GM. "Lembro que no primeiro momento disse: Não! Meu pai trabalha na GM, e então ele disse: 'Não é para se animar, mas vai pensando na possibilidade'".

Durante um tempo, a profissional diz que recebeu o contato de outros diretores que vinham visitar a fábrica no Rio Grande do Sul e ligavam para ela a fim de conhecer o seu perfil profissional, mas sem nada de concreto. Com isto, Daniela foi tocando seus projetos junto ao 'Departamento de Marketing', e acabou recebendo a notícia que seu pai iria se aposentar em junho de 2009, mas nem de longe se imaginou no lugar dele.

Em outubro de 2008, Daniela recebeu um contato para participar do processo de seleção da GM e, para sua surpresa, o cargo disponível era o do próprio pai, Marco Antonio Kraemer, na gerência de Relações Governamentais e Públicas da GM. "Até hoje está sendo uma mistura de emoções. Trabalhar em uma multinacional, com uma grande responsabilidade que é administrar as relações governamentais, as relações públicas com a imprensa e ainda por cima substituir um profissional que já estava há muito tempo no mercado e que é o meu pai, ufa?.a responsabilidade é dobrada", avalia.

Daniela começou a trabalhar na General Motors no dia 5 de janeiro deste ano. No primeiro momento Marco Antonio Kraemer foi lhe passando as atribuições do cargo e a apresentando às pessoas, mas desde junho a nova funcionária da GM assumiu a função sozinha. "Eu acredito que este é o meu maior desafio profissional", afirma, e logo após explica: "Por ser uma grande empresa, por ser um momento em que esta empresa está anunciando novos projetos e realiza grandes investimentos no Sul, por estar substituindo um profissional de peso no mercado, em que a identidade dele estava misturada com a da empresa, e ainda mais por ser mulher que assume um papel destacado em um mercado masculino."

A nova executiva da GM destaca que são inevitáveis as comparações que são feitas com seu pai, mas acredita que, por um lado, isto é muito bom. Conforme Daniela, as pessoas transferem o respeito que tem pela figura dele para ela. Em contrapartida, o nível de exigências também é dobrado, já que ela acaba se cobrando muito mais para suprir a expectativa de todos, e principalmente as dela.

Uma trilha sonora familiar

Daniela conta que conheceu o marido, o jornalista da Rádio Gaúcha Sérgio Boaz, com quem está casada há 16 anos, em uma festa na danceteria Ópera Rock e que, após um ano de namoro, resolveram se casar.

Da relação nasceu a filha Lívia, que hoje está com oito anos e é considerada a razão da vida do casal, tanto é que o tempo livre é destinado a vida social da menina. "Atualmente nos dias de folga a minha programação é voltada para as atividades da Lívia e para os almoços em família", confessa.

Dona de hábitos simples Daniela, diz que acompanha a filha nos aniversários em que ela é convidada e que o seu círculo de amizade acaba sendo em torno dos pais dos coleguinhas da menina.

Devido ao trabalho do marido, que é repórter esportivo, quem acaba sendo sua companhia nos finais de semana é a Lívia, e por isto, que é ela quem acaba pautando a programação de lazer. Caminhadas ao Parcão e na Redenção estão na agenda de mãe e filha e outra opção que também faz parte dos dias de folga da dupla são as peças infantis que estão em cartaz no teatro.

Daniela revela que adora viajar, e como o marido segue a dupla Grenal nos jogos fora de Porto Alegre, ela destaca que sempre que é possível o acompanha e conhece novos lugares. "O nosso próximo passo é conhecer a África do Sul, durante a Copa do Mundo, no ano que vem", afirma.

Uma mania? Diz que é ouvir música e seu desejo era que vida viesse acompanhada de uma trilha sonora. Até o ano passado participou de aulas de canto com um grupo da escola Projeto, onde a filha estuda, mas acabou abandonando a tarefa, devido à incompatibilidade de agenda. Daniela confessa que pretende aprender algum instrumento e brinca que na listinha das dez coisas que quer fazer antes de partir está aprender a tocar gaita de boca.

Para a próxima década planeja uma ascensão profissional, crescendo dentro da GM e pretende conhecer cinco países: a Ásia, a China, o Japão, a Índia e a África. E conclui lembrando que descobriu, aos 40 anos, que é uma pessoa realizada com tudo o que já conquistou até hoje.

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