Léo Nuñez : Dependente da informação

Jornalista revela suas preferências entre mercado de trabalho, sindicato e vida acadêmica

É na sala de aula que Léo Flores Vieira Nuñez passa o maior tempo da sua profissão. Ministrando disciplinas de Telejornalismo há mais de 20 anos, o jornalista também atua no programa TVE Repórter, da TVE, emissora que trabalha desde 1985. Apesar de sentir-se um profissional realizado, não foi sempre assim. Antes de se dedicar à Comunicação, cursou por um ano a faculdade de Engenharia Civil. "Só de ver aqueles cálculos integrais, eu enlouqueci", brinca. Já gostava de literatura e informação e não demorou a perceber que sua vocação era mesmo para o Jornalismo.

E le acredita que o profissional pode ter dois caminhos: passar por todas as áreas ou especializar-se em uma. Léo ficou com a segunda opção. Durante os seus quase 30 anos de carreira, sempre atuou em televisão. Desde operador de VT, 'pau de luz', montador de caminhão, até editor-chefe, pauteiro, chefe de reportagem e todas as demais funções de produção que o Telejornalismo proporciona. Já passou por tudo.

O pai de Rodrigo, de 14 anos, que sonha ser jogador de futebol, e da advogada Izabel, 27 (filha de seu primeiro casamento), tem ao seu lado, há mais de 20 anos, uma colega de profissão. Léo é casado com a jornalista Laura Medina, apresentadora do programa Vida e Saúde, da RBS TV. Sobre o relacionamento, ele se derrete: "Ela é a mulher da minha vida". E é entre sorrisos que revela o início do namoro, que aconteceu enquanto ela era sua estagiária, na TVE. O casamento, segundo conta, é baseado no companheirismo e na compreensão. "Ter a mesma profissão faz com que a gente se entenda e se ajude. Laura tem muita participação na minha carreira e eu na dela", garante.
Ensinar para sempre

Léo faz questão de manter a informação presente em sua vida, mas não só na dele. Lecionar é uma das atividades que lhe dá muito prazer. Quando decidiu dar aulas, buscou o mestrado e formou-se em Sociologia. O professor, que não tem a menor ideia de quantos estudantes já passaram por seus ensinamentos, ressalta o orgulho de ver muitos de seus alunos no mercado de trabalho. "Esta é a missão do professor. Não há nada mais gratificante do que ver o sucesso dos estudantes."

A primeira instituição a recebê-lo foi a Unisinos, onde leciona até hoje. Atualmente, também integra a docência do Centro Universitário Metodista, do IPA. Além destas, teve ainda passagem pela Ulbra, que durou 10 anos. Ele foi o primeiro professor contratado para disciplinas de Televisão, quando o curso de Jornalismo foi criado na instituição luterana. Foi lá também que pôde reunir horas de pesquisa, experiência muito enriquecedora, segundo conta. 

Mais de 20 anos de sala de aula lhe dão a certeza de que o tempo o ajudou muito na carreira. Se um dia tivesse que escolher apenas uma atividade para dedicar-se 100%, ele confessa que teria uma dúvida cruel. Léo adora o mercado de trabalho e sabe que as experiências do dia a dia da profissão enriquecem seus conteúdos em aula, mas admite que não se imagina mais longe de uma faculdade. Aliás, falar sobre isso o faz revelar que o próximo passo é abrir espaço na agenda para um Doutorado, desta vez na área de Jornalismo, especialmente em documentários. "Adoro esta área. Não é à toa que já foram dez prêmios no Gramado Cine Vídeo com os alunos da Unisinos e do IPA", orgulha-se.
Luta pela categoria

Foram 15 anos dedicados ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul, representando a diretoria de cinco gestões da entidade. Um período de luta e de mudança na carreira. Apesar da rotina da função não ser nada glamourosa e até um pouco dura, como classifica, ele afirma que foi uma fase necessária. "Combater o exercício ilegal da profissão sempre foi um sonho." O primeiro trabalho no sindicato é lembrado com muito carinho. Foi um momento em que viajou muito pelo interior do Estado para estruturar a categoria fora da Capital. Outra função desempenhada e que carrega com orgulho foi a luta pela regulamentação da profissão.

Com o aumento da carga horária de aulas, sua dedicação à entidade diminuiu, mas o afastamento se deu por um único motivo: saudade do clima das redações, de colocar 'a mão na massa' no mercado de trabalho. "Agora que eu voltei, consigo enxergar que ser jornalista está no meu sangue. Meu período sindical chegou ao fim, foi um ciclo encerrado."
Outras glórias

O primeiro desafio profissional veio quando já atuava na TVE. A cobertura do massacre dos colonos na Praça da Matriz, em 1988, é guardada de forma especial. Ele era chefe de reportagem e, mesmo com poucos recursos da emissora, deslocou dois repórteres para o local, pois sentiu que algo de ruim aconteceria. Dito e feito. Minutos depois, ocorreu a degola do soldado, da Brigada Militar, Valdeci de Abreu Lopes. "Foi uma matéria em que apostamos todas as nossas forças." O esforço rendeu à equipe o Prêmio Direitos Humanos como Destaque Imprensa.

Não bastassem a docência, o sindicato e o trabalho na TVE, Léo, que iniciou sua carreira na TV Guaíba, ainda passou pela RBS TV, como editor do programa Bom dia, Rio Grande. Nessa época, vivia com sua primeira esposa em Viamão e, além de acordar muito cedo, atuava na TVE no turno da tarde e à noite dava aulas. "Foi a época mais cansativa da minha carreira. Acumulava muitas horas diárias de trabalho", revela.

Engana-se quem pensa que ele só trabalhou em veículo. Enquanto estava licenciado no Sindicato dos Jornalistas, o professor aproveitou para desenvolver alguns projetos freelancer, como vídeos institucionais, documentários, videorreportagens, entre outros. Foi o caso das cinco campanhas políticas que participou com o Partido dos Trabalhadores (PT), a convite da Casa de Cinema de Porto Alegre. A relação, garante, foi apenas profissional, nada de ser partidário ou simpatizante. "Estes trabalhos enriqueceram minha vida profissional. Pude conhecer outras áreas diferentes da vida de um repórter."
Preferências e valores

Aos 49 anos, Léo sente-se numa fase de satisfação completa. "Neste momento, estou conseguindo fazer o que eu gosto, que é estar numa redação e atuar em sala de aula. Conciliar as duas coisas tem sido muito bom", comemora. Segundo ele, nada paga estar de bem consigo mesmo. Lema de vida? Apenas três palavras: honestidade, ética e respeito.

Quando decidiu sair do Sindicato, ele conta que ainda teve dúvidas do que faria dali para frente, chegou, inclusive, a cogitar fazer carreira fora do Rio Grande do Sul, mas, ao retornar para a TVE, explica que se reencontrou com o 'fazer Jornalismo'. "Procurei ir para um lugar onde eu pudesse apurar informações, fazer roteiro, ter contato com o repórter, decupar, escrever, enfim, exercer de fato a profissão", afirma, para logo dizer que consegue tudo no TVE Repórter. É no programa que Léo diz poder trabalhar a informação de forma mais livre, que é o que realmente gosta de fazer.

Por falar em gostos, ele faz algumas confissões. Entre suas preferências, estão os livros e o cinema, mas não vê filme de terror, por exemplo. Gosta mesmo é de histórias que agreguem valor, conhecimento e informação. A comida japonesa é a que mais aguça seu paladar, mas fazer churrasco também é um prazer e não apenas pela carne, mas por todo o ritual que o hábito oferece.

Final de semana perfeito é aquele que reúne a família para ir ao cinema, mas, de preferência, que eles cheguem em casa cedo o suficiente para que Léo possa tomar um bom vinho e fumar um bom charuto. Com a semana corrida, ele confessa que faz questão de parar um pouco no final de semana. "Conversar com a Laura, ler um bom livro, tomar um chimarrão, não importa, desde que eu tenha este tempo para mim."
Entre lembranças

Olhando para si, Léo considera-se impaciente e desabafa: "Preciso aprender a aceitar melhor as coisas que não são do jeito que eu planejo ou desejo". Ser muito organizado é outra característica apontada. No escritório de casa, tudo tem seu lugar, e o material das faculdades é todo catalogado. Não gosta de bagunça e diz ser do tempo de guardar jornal impresso, especialmente guias turísticos e críticas literárias.

Viagens é uma das práticas que estão entre suas preferências. O lugar mais especial que já visitou ao lado de Laura foi a Grécia, mas ao citar o local, recorda dos demais que conheceram. Estados Unidos, Argentina, Uruguai, Espanha, França, Inglaterra, Holanda e Escócia também estão no currículo de passeios do casal. O próximo destino? Praga e Moscou. Mas não dispensa a Itália nem a Alemanha, locais que reservará mais tempo para conhecer.

O filho da professora Marly e do advogado Léo Lourival guarda até hoje o seu jogo de botão, atividade praticada com frequência na infância com os amigos, muitos amigos, aliás. Futebol também está entre suas recordações de criança. A paixão por ser gremista, por exemplo, herdou do pai. Quando fala dele, tem uma recordação da qual se orgulha muito: a crença na justiça social e na possibilidade de mudança a partir de reformas políticas e econômicas que favoreçam a maior parte da população. "Acredito em tudo aquilo que os partidos de esquerda dizem buscar, mas não fazem", desabafa. Em meio a tantas lembranças, Léo tem apenas uma certeza: "Na vida, não há nada que seja definitivo".
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