Fabiano Goldoni: Saldo positivo

Publicitário que viveu meia década longe do mercado gaúcho fala dos prazeres da vida de volta a Porto Alegre

Por Márcia Farias, em 10/02/2012


O rosto de menino não condiz com seus 34 anos nem esta idade indica que seja alguém com uma boa experiência de vida. Talvez por isto, Fabiano Goldoni pode ser considerado um verdadeiro menino prodígio'. O gestor de estratégias digitais da Escala está de volta a Porto Alegre desde 2010, após cinco anos e meio longe da capital gaúcha. Formado em Publicidade e Propaganda pela Ufrgs, em 2002, levou sete anos para concluir o curso por um motivo simples: desde o início da faculdade, começou a trabalhar na área e, com isso, percebeu que seu maior aprendizado viria na prática e não necessariamente em sala de aula.
Filho do dentista Flávio Goldoni (falecido) e da nutricionista Jacira dos Santos, Fabiano acredita que a família é sempre mais importante do que qualquer planejamento profissional. Pois foi exatamente este laço que o fez desistir da carreira em São Paulo, e retornar para casa: com o casamento desfeito, a filha Liz, na época em seu primeiro ano de vida, veio com a mãe para Porto Alegre - e não demorou para que a saudade da rebenta começasse a ser mais forte. De volta e ao lado da família, garante que não há nenhuma intenção de deixar novamente o Rio Grande do Sul.
Sem medo de ser feliz
A escolha pela Propaganda, ele conta, começou desde cedo, muito cedo. "Minha mãe diz que se surpreendeu, quando eu tinha quatro anos, e percebeu que eu ouvia os slogans das marcas e memorizava para, depois, fingir que conseguia ler. Não podia seguir outro caminho. Nasci para isso", explica. Ainda estudante e morador de Canoas, descobriu pelo jornal que uma academia perto de casa precisava de um estagiário de Publicidade. A o visitar o local e descobrir a necessidade da empresa, deixou o lado empreendedor, herdado da família italiana, falar mais alto e propôs que ele mesmo fosse, ao invés de aprendiz, a agência da tal academia. Proposta aceita, o contrato durou seis meses - tempo o bastante para se dar conta que precisava experimentar o mercado para depois, sim, tentar ter seu próprio negócio.
Decisão tomada, a primeira oportunidade foi na Martins + Andrade, como redator. Rapidamente, veio a Escala, onde permaneceu por cerca de um ano como estagiário de Criação. "Trabalhar com o Axel (Eduardo Axelrud, diretor da área) foi uma honra. Era um paizão", define, de forma carinhosa. Depois disso, a próxima parada foi a Competence, que Fabiano lembra com admiração, pois diz ter sido uma grande escola. Por outro lado, o crescimento profissional também teve muito de esforço próprio: "Aprendo tudo muito rápido e, por isso, acho que a minha ascensão seguiu o mesmo ritmo". O ano era 2003 quando a Dez o chamou, uma oportunidade muito boa, considerando que esta era a sua agência de referência nos tempos da Fabico.
Este talvez tenha sido um dos anos mais gloriosos para Fabiano, pois foi quando participou do primeiro Salão Promocional da Comunicação, promovido pela Associação Riograndense de Propaganda (ARP). No concurso, arrematou uma série de prêmios pelas duas últimas agências, incluindo trabalhos para marcas como Paquetá e Diadora. O maior reconhecimento no concurso, porém, foi com o título de Redator do Ano - e ele só tinha um ano de formado.
Los Hermanos
"Achei que a minha criatividade estava batendo no teto como redator." É o que diz para explicar a grande vontade de tentar carreira em outros lugares. Foi quando, acompanhado de seu portfólio embaixo do braço, buscou os colegas gaúchos em agências como Fischer e Almap, entre outras. Mesmo em contato com o "corporativismo bairrista", como brinca, a tentativa falhou e nenhum contrato foi fechado. Parou de desbravar? Nunca. Descobriu que havia uma oportunidade em Buenos Aires, na área de brainding do canal fechado Fox. Era completamente diferente de tudo que já havia feito, e por cinco meses o publicitário participou de entrevistas e até psicotécnico, tudo online. Trâmites completados, mudou-se para a Argentina "de mala e cuia".
A coragem durou quatro anos e foi na Fox que Fabiano começou a aprofundar-se na área digital, com o desafio de trabalhar com TV e web de forma interligada. Uma das campanhas mais marcantes foi o lançamento de um programa no canal Efex. "O vídeo foi muito caseiro, inclusive nós, os próprios criadores, foram atores. Porém, o sistema de unir uma ação para os dois meios, deu muito certo, era uma ideia inovadora na época", recorda. Rato de internet desde a adolescência, acabou assumindo um novo cargo dentro do canal, onde deveria fazer este meio de campo entre televisão e ambiente online.
Desafio enfrentado, missão cumprida e a vontade de voltar ao seu País foi decisiva para optar por sair da Fox. A experiência lhe deu uma série de visões diferenciadas do mercado, entre elas o comportamento nacional: "Para tristeza dos gaúchos, que adoram ser parecidos com os argentinos, temos mais em comum com os próprios brasileiros", brinca. A notícia de querer retornar se espalhou rapidamente no mercado e o primeiro interesse surgiu da Cubo, uma agência de São Paulo, criada por porto-alegrenses. Aceitou o cargo de diretor de Criação, mas por apenas três meses, tempo que a mesma Fox demorou para fazer outra proposta para Fabiano: dessa vez, ele trabalharia na capital paulista, voltado para internet, mas com foco puramente em lucratividade. Em oito meses, o menino prodígio superou a própria meta em 130%.
Mais uma experiência adquirida, mais uma missão cumprida e a volta para Porto Alegre foi direto para a Escala, dez anos após a primeira passagem ainda como estudante. Com o objetivo de tornar a agência mais digital, atualmente, Fabiano está muito satisfeito com o trabalho que tem realizado. O olho brilha e a empolgação é outra ao falar de como tem sido sua vida nos últimos meses. O planejamento, a postura, os desafios, tudo que faz hoje tem dedicação total do publicitário.
Admiração pelas mulheres
Fabiano já começa o dia convivendo com mulheres. Há seis meses dividindo o mesmo teto com Fabiana Iglesias, diretora de integração da ZOO, segmento digital da Dez, ele se diz um completo apaixonado pela esposa. Além dela, a pequena Liz, a sua mãe, dona Jacira, as duas filhas de Fabiana e outras mulheres da família, a quem considera corajosas, integram um time feminino que tem muita admiração do publicitário. Para falar da filhota é fácil: "Ela é a minha vida, temos uma ligação muito forte. Faço questão de levá-la todos os dias na escola. É um momento nosso, quando vamos cantando nossa música e conversando muito". Engana-se quem pensa que a relação de pai e filha é construída apenas por amor, Fabiano confessa ser muito ciumento: "Prevejo anos difíceis pela frente", fala, em tom de brincadeira.
Agora, se tem uma mulher por quem Fabiano simplesmente se derrete, esta é a esposa. Além de falar muito no amor que sente pela companheira, ele é categórico: "Se pudesse, apresentaria ela para todas as mulheres para dizer 'é assim que vocês tem que ser'". A sintonia, segundo conta, não fica só no nome ou na área de atuação, eles gostam das mesmas coisas, se interessam pelos mesmos assuntos e concordam que falar de trabalho não faz bem para o casal. Aliás, a vida a dois, ele revela, deve "ficar mais séria" em breve - em outras palavras, há planos de casamento.
Cozinha, habitat natural
O dom para a gastronomia, pode-se dizer, vem de berço. A avó largou a vida de colona para abrir um restaurante em Canoas. A infância, portanto, foi vivida entre cheiros, rotina e produção de comida. "Minha avó contava que, quando eu era pequeno e incomodava demais, me colocava dentro de uma bacia com água em cima da pia para brincar, mas o que eu fazia era observar toda a movimentação do local", recorda. O incentivo inocente deu frutos. Hoje, Fabiano adora cozinhar e garante que o faz com excelência, sem contar que evita, ao máximo, comer produtos industrializados.
Apesar de já ter trabalhado por muitas vezes até as 3h, hoje ele faz questão de sair da Escala às 19h. Entende que é possível, sim, fazer suas atividades renderem em horário comercial, basta abusar da concentração, característica que ele diz ter de sobra. Após este horário, o destino é geralmente o lar, doce lar. Mais especificamente, a cozinha. "Faço comida praticamente todos os dias. O momento que eu realmente relaxo é depois da janta, quando eu realmente me desligo do mundo e posso curtir minha família", revela.
Um dos pratos mais apreciados pela trupe, e por boa parte dos parentes e amigos, é a carne de panela, especialidade de Fabiano, que, apesar da preferência de todos, confessa que gosta de cozinhar qualquer coisa, menos doces, que fogem de suas habilidades gastronômicas. Receber os amigos em casa também está entre os prazeres de Fabiano. E para quê? Oferecer um jantar, claro. Saborear diferentes vinhos, então, é uma prática que tem com a esposa. Para arrematar a tradição culinária, a irmã mais nova, Muriel, é chef de cozinha.
Outras habilidades citadas por ele mesmo passam pelo perfil profissional. "Sou muito inquieto, sempre fui acelerado. Sempre penso que, se não sei algo, é apenas por ainda não ter aprendido. Não existe algo que não se possa fazer." Mesmo admitindo que pode parecer um tanto pretensioso da parte dele, diz que não há o que o faça sentir medo e analisa: "O saldo da minha vida é totalmente positivo".
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