Luciano Périco: Um gigante no rádio

Reconhecido por onde passa, Luciano Périco consegue ser unanimidade junto a todas as torcidas

Luciano Périco - Reprodução

Por Karine Viana, em 25/04/2014

Ele é mais conhecido por dois codinomes, ambos paradoxais e tendo como referência seus quase inalcançáveis 2,05m de altura. Um deles, Lucianinho, faz uma irônica brincadeira com seu porte. O outro, Gigante das Arquibancadas, vai direto ao ponto. Com um bom trânsito entre as torcidas da dupla Gre-Nal e novos desafios batendo à porta, Luciano Périco, repórter e apresentador da Rádio Gaúcha, se diz orgulhoso desta tranquila relação com os espectadores, torcedores e colegas de trabalho.

O rádio é um vício cultivado ainda na infância, um gosto influenciado pelo pai, Fiorello João Périco, já falecido. "Quando eu tinha uns nove ou dez anos meu pai ouvia muito rádio e foi algo que me despertou para isso", lembra. Em casa, cerca de seis aparelhos ficam espalhados pelos cômodos, e neles a música é prioritária, o que acontece também enquanto dirige.

Rádio e esporte sempre foram suas únicas certezas na carreira. Duas aptidões que tentou unir no desejo de ter uma profissão e que o levaram a cursar Jornalismo na Ufrgs, onde se formou em 1999. No decorrer da vida profissional, no entanto, as oportunidades foram surgindo principalmente ao acaso. Hoje, somam-se 16 anos de radiojornalismo na Gaúcha, onde vem acumulando desafios.

Da certeza ao acaso

Quando ingressou na Gaúcha, em 1998, Lucianinho foi estagiário da radioescuta, setor hoje inexistente. Das seis da tarde à meia-noite ficava com o ouvido no rádio até se deparar com uma vaga de estágio no esporte. "Fui até o Cléber Grabauska, que era coordenador na época, e pedi para passar para o esporte", diz. A troca de setor, no entanto, só foi consolidada depois de alguns testes e concorrendo com candidatos de outros lugares. Em maio do mesmo ano, após três meses de casa, Lucianinho trocava de setor.

Fora uma das poucas vezes em que a oportunidade não se deu ao acaso. Ainda nos bastidores, o jornalista foi produtor de nomes como Pedro Ernesto, Benfica e Macedo. "Fui produtor dos caras que eu acompanhava o tempo inteiro. Foi este meu primeiro desafio", relembra. Uma nova partida começou em 2003. Não em campo, mas no meio da torcida.

Após um período cobrindo férias, recebeu a proposta de atuar nas arquibancadas, lado a lado com torcedores, e não pensou duas vezes, trocando os bastidores pelo microfone. "É como diz a música 'muito tempo eu vivi calado, mas agora resolvi falar'", brinca. Entre os torcedores, já é unanimidade. Com seus mais de dois metros de altura é facilmente identificado e logo paparicado, tanto por colorados como por gremistas.

Cascata de oportunidades

Ao levar em consideração a rivalidade entre os torcedores de Grêmio e do Internacional, imagina-se que caminhar entre as duas torcidas não seja lá muito amigável. De fato, Luciano Périco ouve as mais diversas insinuações sobre seu possível time e tem seus passos e atitudes calculados de acordo com o clima em campo. Ao pé do ouvido, todos querem adivinhar e atribuir um clube ao repórter.

"Torce pra quem?" é o questionamento que mais ouve. Todos querem ter Lucianinho como torcedor do seu clube. E não é só nos estádios, mas no supermercado, na padaria e nas ruas. "É claro que se tem um time, mas isso não influencia de forma alguma no trabalho. Isso é bem menos importante do que realizar um trabalho com correção. Tenho de ser honesto com meus ouvintes", enfatiza. Seu maior patrimônio, admite, é o carinho que recebe dos dois lados, num ambiente em que o profissional do Jornalismo é muitas vezes hostilizado.

O primeiro programa diário foi o 'No Mundo da Bola', em 2006. Até então, além das arquibancadas, entrava no ar com o Jornada Esportiva e com boletins em outros horários. Aquele que considera mais um dos tantos desafios profissionais aconteceu em 2013, quando passou a apresentar o 'Show dos Esportes', substituindo Pedro Ernesto e atuando ao lado de Grabauska. E mais uma oportunidade, conta, veio no início de abril, quando Nando Gross deixou a rádio Gaúcha. "Ele saiu na segunda e na terça-feira já me ligaram", conta Lucianinho, que não tinha a menor expectativa de que isso aconteceria.

Aquele garoto que há 16 anos ingressava no rádio fazendo escuta de programas, ainda como estagiário, hoje está à frente de três programas, sendo dois diários e um semanal. "Quando perguntam se eu imaginava que teria isso, digo que nunca imaginei", confessa. Hoje, comanda o Placar Geral, o Hoje nos Esportes e o Show dos Esportes.

Satisfação e reconhecimento

Da transmissão de boletins na saída de um casório a um pedido de casamento ao vivo, Lucianinho é sempre reconhecido. Embora não fique à frente das câmeras, é facilmente reconhecido entre os torcedores, o que naturalmente atribui ao seu tipo físico. Em 2013, o apresentador comentou no ar que iniciara o álbum de figurinhas do Campeonato Brasileiro. Alguns dias depois, ao chegar na Arena do Grêmio, foi abordado por um casal com dois filhos com um maço de figurinhas. "Meu filho te ouviu no rádio, completou o próprio álbum de figurinhas e queria lhe entregar as repetidas", ouviu do pai do menino.

Para o repórter, é esse reconhecimento que não tem preço. E seu trabalho é sempre medido de acordo com a abordagem do público fora da rádio. Para saber se pesou ou não a mão em um comentário, é só 'ouvir a galera' e as críticas ou elogios que surgem das ruas. "Sou o cara visível da rádio, o cara que é acessível. Quando querem reclamar ou elogiar, eles vêm até mim, pois me encontram com mais facilidade", justifica.

O pico de reconhecimento do seu trabalho surgiu também com a cobertura da Copa da África em 2010. Embora também tenha viajado à China, em 2008, durante as Olimíadas, foi a emoção de estar num estádio durante a abertura do maior evento de futebol do mundo que mais lhe marcou, consolidando a certeza de um trabalho bem realizado.

Rotina e amanhã

Luciano Périco se mostra tranquilo e se diz um cara com mania de organização. Acredita que seu maior defeito seja a autocobrança, algo feito muito mais por ele mesmo do que pelos outros, além da preocupação com os semelhantes, o que invariavelmente pode resultar no esquecimento de si próprio. Respeito ao próximo, honestidade e autenticidade ele garante que são herança dos pais e ensinamentos repassados a ele e seus quatro irmãos. Solteiro, o jornalista reside com a mãe, Ilma Gaeta Périco, que recentemente completou 80 anos.

Em decorrência dos horários dos programas, a rotina de Lucianinho é basicamente em função do trabalho. Os familiares já compreendem sua ausência nos eventos. Quando possível, revê parentes e amigos e aproveita para botar em dia sua preferência literária, as biografias. Na cozinha, ele mesmo se considera um desastre, mas deixa escapar que se arrisca em algumas coisas, entre elas risoto, massa e pizza. "Sou um grande apreciador da gastronomia. Algo que todo o gordo diz", brinca.

Mesmo com diferentes horários e uma rotina de trabalho que lhe consomem finais de semana, Luciano não se imagina em outra profissão. Tampouco se considera realizado. Parece mesmo ser totalmente feliz com o que vem fazendo, mas tem certeza de que ainda pode fazer mais. Ainda hoje, depois de recentemente assumir mais uma tarefa, pensa no que fazer ali à frente. "O cara achar que está realizado faz com que as coisas percam a graça", conclui.

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