Richard Lucht: Aprender, ensinar, transformar

A aviação, a tecnologia e a gestão são algumas das paixões de Richard Lucht, diretor-geral da ESPM-Sul

Semelhante a um grande quebra-cabeça, em que cada peça exerce papel fundamental para a composição final. Assim pode ser definida a trajetória de Richard Lucht, engenheiro aeronáutico, doutor em Administração, professor e diretor-geral da ESPM-Sul. Envolvido pelo universo da aviação desde o berço, alimenta ainda hoje a paixão pela área, aliada à tecnologia e gestão. Gaúcho, viveu muitos anos longe do Estado, residindo em São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro. Não chegou a desenvolver o sotaque característico do Rio Grande do Sul, mas não também perdeu as raízes.
Junto aos ensinamentos transmitidos pelos pais, os engenheiros aeronáutico Rigobert Lucht e agrônoma Liane Antunes Maciel, traz como referências no dia a dia os valores defendidos por instituições nas quais teve sua formação profissional, como Escola Militar de Cadetes, ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e Fundação Getúlio Vargas. "Colocar causas e missões acima de interesses temporais e individuais. Acreditar que o coletivo, quando bem gerenciado, é infinitamente mais recompensador do que os individuais. Esses são princípios em que me baseei para construir minhas crenças", revela.
A vontade de aprender, garante, é o sentimento que o move. Agregar conhecimento e convertê-lo em ações úteis à sociedade em que vive é quase uma doutrina. "Sou alguém normal em sonhos e limitações, mas com sede de aprender muito grande e, na mesma proporção, de transformar esse aprendizado em realizações que sejam importantes para o ambiente", defende.
Do hangar à sala de aula
Richard mudou-se com os pais para o município paulista de São José dos Campos com cerca de três anos. A mãe foi trabalhar no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e o pai, na Embraer. Ao escolher a profissão que queria seguir, não teve dúvidas e prestou concurso para as três escolas militares. A miopia apontada no exame de vista o fez ser reprovado na Aeronáutica, mas não o impediu que entrasse para a Escola de Cadetes do Exército. Aos 14 anos, deixou a casa dos pais em Brasília, para onde a família mudara em 1980, para um período de três anos em internato militar, em Campinas.
De lá, seguiu para a Academia Militar das Agulhas Negras, no Rio de Janeiro, com a intenção de se dedicar à carreira de oficial, com foco na área de tecnologia. Como uma medida proibiu egressos do Exército de fazer a academia, adiantou os planos de cursar Engenharia Aeronáutica no ITA. Começou a atuar como engenheiro de ensaios em voo - profissional responsável por gerenciar a última fase de desenvolvimento da aeronave, que acompanha o piloto de ensaios e verifica condições de desempenho do protótipo. Logo, passou a coordenar equipes, o que o levou a aprimorar os conhecimentos em um MBA, integrando a primeira turma do curso do ITA em parceria com a ESPM.
Considera o momento como de virada na carreira, pois foi quando iniciou a migração da área técnica para a gestão. "Foi um período de conviver com pessoas com formações e visões diferentes. Tive a oportunidade de ter uma visão macro de projetos dos quais executava uma pequena parte. E entender questões de planejamento, controle e engajamento das pessoas me apaixonou", confessa.
Tudo muda
A ideia inicial era colocar a teoria em prática na aeronáutica, o que não foi possível, pois não tinha a antiguidade necessária para exercer a função desejada. Foi então que decidiu desligar-se da Força Aérea, onde era primeiro-tenente e engenheiro, rumar para São Paulo e dedicar-se ao doutorado em Administração na Fundação Getúlio Vargas. Dois meses depois, recebeu o convite para lecionar na ESPM, que estruturava a pós-graduação em Gestão de Tecnologia da Informação. Nessa época, já atuava como professor colaborador do ITA, posição que mantém ainda hoje.
O desempenho foi reconhecido e, após oito anos, passou a responder pela direção-geral de pós-graduação da escola. Em 2010, retornou ao Estado, para assumir a direção da unidade no Sul. "Recebi o convite e o desafio com muita alegria, tanto pela oportunidade de contribuir com o local em que tive uma passagem curta na infância, como por poder viver junto da família e criar meus filhos na terra onde estão minhas tradições familiares", conta.
À frente da ESPM-Sul, Richard tem como desafios não só trabalhar pelo crescimento da operação da unidade como torná-la ainda mais relevante para o mercado e para a sociedade. Além da formação de mão de obra especializada, a escola almeja seu parque tecnológico e oferecer suporte a empresas também por meio de projetos de pesquisas e consultoria. "Será um novo serviço alinhado à questão de ajudar no que nos cabe as empresas a retomarem seu caminho de crescimento e o Estado, o protagonismo econômico", relata.
Encanto de infância
As referências à aviação compõem grande parte das memórias de criança. As visitas aos hangares acompanhando o pai, o cheiro de querosene emitido pelas máquinas e a praça que abrigava duas aeronaves em São José dos Campos estão entre as lembranças. "Eu era um menino que não tinha muitos carrinhos, só aviões", recorda. O encanto pela aviação é até comparado a uma herança genética. Isso porque, antes de pai e filho, seu avô já nutria fascínio pela área e a nova geração da família os filhos Arthur e Leonardo, de seis e dois anos, respectivamente, segue o mesmo gosto. "Não sei se é uma condenação eterna, uma maldição", brinca, "mas fico feliz em saber que eles gostam".
Casado com a jornalista Janine Lucht, diretora do curso de Jornalismo da ESPM, o casal também contou com uma ajuda do sistema aéreo para manter o relacionamento a distância por certo tempo. Quando se conheceram, ela morava em Porto Alegre e ele, em São Paulo; por isso, aproveitaram as passagens mais baratas, que ainda começavam a ser comercializadas, em geral, em voos em meio à madrugada. "Hoje, a gente brinca que agradece à Gol ( companhia que surgiu com a proposta de oferecer preços mais populares) porque ela viabilizou nosso namoro", diz.
Formar família, acredita Richard, trouxe a ele novas perspectivas sobre a vida. Se, por um lado, sair de casa cedo o fez amadurecer, junto dos filhos, diz que volta a ser criança. "Dedico tudo o que posso a eles. Acho que, com o passar do tempo, aprendi a ser pai. Se é que existe algo bom em ficar velho, é a experiência e a sabedoria adquiridas", defende. É simples, ele ensina: "Entendi que a felicidade está nos pequenos momentos e são esses momentos, em família, que me recompensam diariamente e o que me incentivam nos momentos mais difíceis".
Ler, ouvir, curtir
Para estar junto dos seus, não precisa muito. Pode ser em uma ida à praia, um simples jantar ou churrasco. Viajar está entre os programas preferidos quando dispõe de um período de descanso mais prolongado.  A leitura também é uma atividade que o agrada. Nesse caso, os interesses incluem obras relacionadas à estratégia e inovação; não ficção, biografias e livros históricos, como os de Niall Ferguson, mas também leituras consideradas "mais leves", como Dan Brown. "Uma das minhas diversões é ir a livrarias. Sonho em ter uma enorme biblioteca."
Para assistir, os filmes escolhidos são, em geral, com o objetivo de divertir. "Para mim, cinema faz parte de momentos de higiene mental", afirma ao relatar que costuma evitar as produções que retratam mortes e sofrimento. Já o estilo musical é eclético e passa pelo rock dos anos 1980, com destaque para bandas nacionais, como Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Plebe Rude, Capital Inicial, Ultraje a Rigor e Kid Abelha. O pop, os clássicos, o sertanejo de raiz e o samba não ficam de fora do playlist. "O que orienta é meu estado de espírito", explica.
A música, aliás, foi o artifício encontrado para tornar "menos chata" a prática de natação. Conta que os esportes sempre estiveram presentes em seu cotidiano - já fez corrida, vôlei, futebol, esgrima, beisebol e até arremesso de peso -, mas o nascimento dos filhos modificou a rotina e resultou em alguns quilos a mais. A saída foi escolher, por eliminatória, uma modalidade de exercício aeróbico. "Tornei menos doloroso quando descobri a melhor, talvez a maior, invenção da humanidade, o MP3 player à prova d"água. Coloco e esqueço que estou nadando", descreve aos risos.
Contribuir para tornar a ESPM maior e mais forte está entre os planos futuros. Richard quer ver a escola exercendo novas atividades, com seu parque tecnológico da indústria criativa já consolidado, e gerando ainda mais oportunidades para pessoas e empresas. Também pretende desenvolver pesquisas na área de inovação e competitividade de alta tecnologia. No campo pessoal, quer ver os filhos maiores, mais independentes. "O que eu mais gostaria é continuar tão feliz quando sou hoje, na família e na escola, onde tenho muitos amigos, com quem compartilho os mesmos desafios."
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