Fábian Chelkanoff Thier: Otimista e sonhador

Coordenador de Jornalismo da Famecos, Fábian Chelkanoff Thier divide a rotina entre a família e o ensino

A dedicação aplicada ao que faz e a atenção dispensada aos que o procuram são marcas de Fábian Chelkanoff Thier. Formado em Jornalismo pela Famecos, voltou à faculdade como professor e há cerca de dois anos assumiu a coordenação do curso. Apesar da convicção que carrega ao defender a profissão, na juventude vivida em Santa Cruz do Sul, até pensou em ser padre. Baseava-se na ideia de que assim teria condições de trabalhar de graça ajudando as pessoas. Os planos mudaram, mas o conceito de que cabe a cada um fazer algo pelos outros e pelo ambiente ao seu redor segue com ele até hoje.
O canto, o teatro e a comunicação foram presenças constantes na vida de Fábian, que ainda aos 14 anos foi convidado a apresentar seu primeiro programa de rádio. A experiência só fez aumentar a paixão pelo meio. Na capital gaúcha, deu início à graduação pela Famecos e também à carreira pela Rádio Gaúcha, em 1993. Passou por Zero Hora, fez parte da equipe que criou e, em 2000, colocou nas ruas a primeira edição do Diário Gaúcho, e ainda trabalhou nas rádios Farroupilha, Metrô e Rural. De volta à PUC em 2004, além de lecionar, foi o primeiro coordenador e idealizador do Espaço Experiência.
Pelo Jornalismo
Fã do trabalho de Armindo Antônio Ranzolin e Jayme Copstein desde guri, deixou o município de Santa Cruz do Sul para cursar Jornalismo em Porto Alegre. Aprovado no vestibular, na mesma noite, decidiu compartilhar a conquista com um de seus inspiradores. Ligou para Jayme, que costumava atender a ligações de ouvintes durante o programa Gaúcha na Madrugada. O comunicador acabou revelando que também seguiu pelo jornalismo inspirado em uma pessoa. Mais tarde, na Rádio Gaúcha, Fábian atuaria na produção de Silvio Benfica, do próprio Jayme, de Rogério Mendelski e de Antônio Carlos Macedo.
Um incêndio no edifício do antigo Cinema Cacique, em 1996, lhe deu uma oportunidade e também o desafio de entrar no ar pela primeira vez. Sozinho na rádio, em meio à madrugada, recorda de ouvir de Jayme a ordem: "Vai!". Saía da redação quando encontrou o repórter Oziris Marins, que ali mesmo no corredor lhe deu preciosas dicas. A cobertura durou a madrugada inteira. Hoje considera que começar a carreira na produção de rádio trouxe importantes aprendizados. "Passei a entender que notícia está em todo lugar. Muito do que faço hoje e de como vejo o jornalismo, aprendi naquele período", diz.
Já a entrada para o jornalismo impresso, através de Zero Hora, trouxe mais do que novas perspectivas. Em 1999, passou a fazer parte da equipe que, em 17 de abril do ano seguinte, colocaria nas ruas um novo jornal, o Diário Gaúcho. Foi no veículo que teve os primeiros contatos com o jornalismo popular, temática que orientou a dissertação de mestrado e agora o projeto de doutorado. "Percebi que o jornalismo tinha uma alternativa. Nunca consegui compreender como o produto se afastava do único lugar que não podia se afastar, que era o público. O jornalismo de referência está distante, não conversa com o leitor, com o ouvinte, com o telespectador", analisa.
De volta à sala de aula
O estudante "meio rebelde", que costumava apontar à então coordenadora de Jornalismo, Mágda Cunha, tudo que considerava ruim, voltou à faculdade em 2004, como professor. A tarefa de substituir por seis meses Luiz Adolfo Lino de Souza, que realizava mestrado no exterior, veio acompanhada do desafio de superar as próprias críticas. "Quando a gente é aluno e trabalha na área, acha que sabe tudo e que os nossos professores não sabem nada. Passei por essa fase. Incomodava muito e dizia: um dia quero dar aula para mostrar que é possível fazer diferente", conta.
O respeito às pessoas, a ideia de que jornalismo não se faz sozinho, mas em equipe, e tem função social acima do que se imagina são alguns dos aprendizados que levou dos veículos para a academia. Enfrentar a sala de aula lotada, admite, foi inicialmente apavorante e, ao mesmo tempo, motivo de orgulho. "Sempre quis estudar na Famecos e trabalhar com aqueles caras que me formaram - alguns até hoje chamo de professor - era uma expectativa e um orgulho muito grande. Poder participar desse processo de formação de futuros profissionais é muito legal."
Coordenador do curso de Jornalismo há cerca de dois anos, se esforça para estar sempre à disposição de quem o procura. Prova disso está no fato de a sala onde trabalha permanecer com a porta sempre aberta. Se o costume é correto ou errado, não sabe, mas sobre um aspecto tem convicção: não pretende deixar a sala de aula. "Coordenador vou ser por um tempo - não sei quanto -, mas professor quero ser para o resto da vida. Tento, todos os dias, fazer as melhores coisas possíveis para que quem venha depois de mim tenha um bom lugar para trabalhar", assegura.
Um Fábian melhor
Filho do comerciário Astor e da professora Olga Chelkanoff Thier, é o primogênito na família que se completa com o irmão Vladimir, docente de Educação Física. As brincadeiras entre amigos, as participações em coral, as viagens e shows com o grupo fazem parte das memórias da infância, vividas na Santa Cruz do Sul de uma época mais tranquila. Também entre as recordações está a convivência com os familiares, primos e tios, especialmente até os 11 anos, antes do falecimento da única avó com quem conviveu. "Tive uma bela infância, não posso reclamar", avalia.
A relação intensa com os avós é um dos ensinamentos que transmite aos filhos Pedro, 3, e Murilo, 5. Aos 41 anos e casado com a relações-públicas Natacha Ledesma Gastal, reconhece que não consegue dedicar aos dois tudo o que gostaria. Ainda assim, sempre que possível, ir ao parque, ao teatro infantil ou ao cinema são atividades normalmente praticadas em família. Estimular a experiência da socialização, o trabalho em conjunto e também a interação com as novas tecnologias também são cuidados que tem. "Não sei se sou uma boa pessoa, mas, certamente, sou melhor do que eu era antes de eles nascerem", compreende.
Torcedor do Internacional, tem no futebol um ritual de lazer que se acostumou a cumprir. Gosta de acompanhar as partidas do time de perto, caminhar até o estádio Beira-Rio e, no trajeto, degustar um churrasquinho, sem se importar se será confrontado com a pergunta: tu sabes de onde vem isso? Garante que não se incomoda com o que considera um detalhe: "Curto qualquer lugar. Pode ser o tiozinho onde compro no caminho para o Beira-Rio ou os restaurantes mais famosos de Buenos Aires, dessas férias. Para mim, todos têm o mesmo valor, tenho mesmo sentimento de ir".
Na Literatura, não tem restrições, é capaz de ler tudo que cai na mão. Alguns títulos, claro, ganham atenção especial, como é o caso dos assinados por Gay Talese. "Guerra e Paz", de Leon Tolstói, lidera a lista de leituras que espera concluir. O rock e a música popular brasileira são os gêneros musicais que mais agradam. Curte ouvir de Paul Mcartney, Dire Straits, Pink Floyd, Beatles e Elton John às canções de Ira, Paralamas do Sucesso e Fernanda Takai. "Às vezes, penso que falta um pouco de rock hoje em dia para melhorar o relacionamento das pessoas. Acho o rock é uma música verdadeira." Mas não descarta outros gêneros que representam a cultura do país em sua essência. Como exemplo cita o trabalho do músico Almir Sater, lembrado há poucos dias em um programa de TV.
Olhar para frente
Se Copstein e Ranzolin serviram de inspiração para que decidisse pelo Jornalismo, hoje também tem como referências Eliane Brum e Geneton Moraes Neto. São pessoas capazes de influenciar a visão que tem sobre o jornalismo e que carrega para a sala de aula. "Tudo que sempre quis ser no jornalismo a Eliane é com uma facilidade imensa. O Geneton é um cara acima da média, que costumo ver o que ele faz e ouvir o que fala", conta.
Católico, reconhece que a religião tem sim seus problemas, mas acredita nessa como a melhor opção e faz questão de destacar que respeita as diferentes crenças. "Acho que Jesus Cristo foi um cara legal. Se a gente entendesse mais sobre o que ele disse, faria muito melhor. Foi alguém que pisou nessa terra para dar coisas boas", opina.
Para os próximos 10 anos, quer continuar trabalhando como professor em uma Famecos ainda melhor do que a de hoje. Também projeta poder ver um jornalismo mais leal, a família feliz, e viver em lugar mais tranquilo. Quando fala de si, define-se como um sonhador, alguém que erra bastante mas se esforça para não fazê-lo, desorganizado em alguns aspectos e que, desde o nascimento dos filhos, tem medo de morrer. "Sou um cara que tenta de alguma maneira fazer do lugar que eu vivo um ambiente melhor, convencer as pessoas que é preciso fazer algo pelo outro", diz.
 

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