Nando Gross: Líder que inspira

Para Nando Gross, o que está bom, sempre pode melhorar

Para o músico e atual gerente-geral de jornalismo da Rádio Guaíba, Luís Fernando Moretti Gross, ou Nando Gross, como é conhecido por todos, o que está bom sempre pode melhorar. A frase foi uma inspiração de Bernardinho, técnico da seleção brasileira de vôlei masculino. Aos 52 anos, completados em 20 de maio deste ano, Nando conta que sempre gostou de estar à frente dos acontecimentos: "Nunca deixei de falar o que eu pensava, sem ofender ninguém, mas expondo as minhas ideias. O verdadeiro líder é aquele que inspira as pessoas, as pessoas têm que admirar alguém pra respeitar". 

Nando nasceu em Porto Alegre, mas com um ano de idade foi para o Rio de Janeiro, com seu pai, Fernando Azambuja Gross, que foi trabalhar por lá, sua mãe, Paulina, e o irmão, Júlio. Moraram em Vila Isabel até 1970, quando retornaram a Porto Alegre. "O primeiro time que eu gostei foi o Flamengo", conta. Apaixonado por futebol, Nando diz que não torce por nenhum time, mas tem admiração especial pelo Barcelona: "Eu gosto de futebol. Gosto de ver jogos do Barcelona, gosto da forma como eles jogam, mas eu não torço pra time".

No último dia 11, Nando foi eleito o Jornalista Esportivo do ano pela Associação das Federações Esportivas do Rio Grande do Sul (Afers). "Sair de um emprego estável, numa posição boa, largar tudo e tentar mexer no mercado, reestruturar a Guaíba. Foi muito uma premiação por essa atitude", explica.

Carreira híbrida

Há quase 30 anos no rádio, Nando começou sua carreira em primeiro de setembro de 1985, na antiga rádio Difusora - hoje Bandeirantes - em um projeto terceirizado com outros três jornalistas: Pedro Ernesto, Sérgio Endler e Marcelo Fernandes, que montaram uma agência, compraram espaço na rádio e contrataram diversos profissionais. Antes disso, em 1980, havia ingressado no curso de Jornalismo da Unisinos, onde ficou apenas dois anos. "Foi um período maravilhoso. Lá eu fiquei pelado duas vezes, mas era uma coisa pela arte, era Shakespeare que eu estava interpretando. A professora arregalou os olhos, mas me deu 10", lembra.

Quando abandonou a faculdade, mesmo já tendo cursado dois anos, Nando passou a viver basicamente de música e Jornalismo, até os anos 2000. Sempre gostou de violão e de ser envolver com a composição musical. "Eu tocava à noite. O artista que mais se apresentou no Opinião fui eu. Eu trouxe para o Opinião o rock dos anos 80, violão e percussão, cantava Barão Vermelho, Titãs, Lobão. Aqui nós ainda estávamos muito presos na MPB." Tempos bons aqueles, como faz questão de recordar: "Fazia muitas apresentações no Rio, tinha amigos lá e só gastava com a passagem. Sempre viajava na poltrona três".

A música sempre fez parte da vida de Nando. Nesta época, também tocava em Florianópolis, desde que o dono de um bar o viu em Porto Alegre e o convidou para fazer um som lá. Durante nove meses se apresentava nas quintas, sextas e sábados em Florianópolis. Saía de ônibus ao meio-dia de quinta, chegava lá à noite e ia tocar. Ficava hospedado na casa do dono do lugar. A aventura rendeu, pois naquele período Nando gravou dois CD"s com a banda "Nando Gross e Os Altofalantes": Das Ruas e Tudo Normal.

Jornalismo e o rádio

Neste meio-tempo, em 1989, Nando voltou à academia, para estudar Jornalismo na PUC: "Estudei diagramação com régua e redação com máquina de escrever". Retornou à faculdade já com a experiência de rádio. Em 1990, em março, o departamento de esportes da Difusora fechou e Nando foi para a rádio Guaíba, apresentar o programa "Guaíba Correio do Povo Rural". No final do mesmo ano, saiu da Guaíba porque quis, não gostava do trabalho, nada contra a rádio. "A função ali não me agradava. Eu era repórter, achava bacana, mas não me trazia satisfação, o dinheiro que eu recebia era pouco para a felicidade que eu tinha que era quase nenhuma", lembra.

Nando conta que um dos maiores desafios da carreira no rádio foi vencer o medo, a timidez. Ele ficava envergonhado no estúdio, pois não estava sozinho. Para enfrentar este medo, ia ao shopping Praia de Belas e fazia os boletins nos orelhões que ficavam no meio do corredor. "Foi o jeito de enfrentar o medo. Fiz umas duas ou três vezes isso e, quando chegou o celular, eu já estava craque", recorda.

Em setembro de 1990, foi convidado por Cláudio Moretto, da rádio Gaúcha, para ser freelancer e acompanhar um dos candidatos à Eleição ? da qual se saiu vencedor o candidato do PDT ao governo do Estado, Alceu Collares. "Eu seguia o Tarso Genro que era o candidato mais fraco, ficou em último lugar na eleição. E foi assim que eu entrei na Gaúcha", conta. Após alguns meses de freelancer na rádio, Flávio Dutra o chamou para trabalhar no departamento de esportes da emissora e lá foi contratado como produtor executivo. Formou-se na faculdade em 1992 e teve um programa de automobilismo na rádio, o "Fórmula 92", projeto que foi interrompido com a morte de Ayrton Senna, em 1994. Daquele tempo orgulha-se de ter sido o primeiro repórter a fazer transmissão pelo celular ao vivo na rádio, no jogo entre Brasil e Alemanha, no Beira-rio, em 17 de dezembro. Saiu da Gaúcha em 1995 para se dedicar a um projeto na Bandeirantes.

Nesse ano, foi para Tóquio sozinho pela Rádio Bandeirantes cobrir o jogo entre Grêmio e Ajax, com 1 mil dólares para ficar 20 dias. A credencial de jornalista não lhe dava acesso ao gramado. Quando a partida estava acabando, Nando se encaminhou para a entrada do campo e mais gente começou a chegar. Os guardas se distraíram e ele passou correndo no meio deles. "Eles pensaram em ir atrás de mim, mas tinha muita gente querendo passar", diz. Conseguiu chegar à sala de conferência, onde Felipão estava dando uma coletiva para a imprensa internacional. Como a caixa de som era no teto, não teve dúvidas: subiu numa mesa e botou o celular para transmitir a fala do técnico. Após a coletiva, encontrou-se com Felipão no corredor em direção ao vestiário e fez uma entrevista exclusiva. "A entrevista foi maravilhosa, até eu como repórter me comovi", conta.

O projeto durou seis meses e, depois disso, todos os envolvidos usaram suas rescisões para comprar o espaço da emissora e continuar trabalhando. Este foi seu pior momento financeiro e profissional. Neste período, criou o programa "Atualidades Esportivas". A fórmula, segundo ele, era misturar informação com música: "Quando eu criei o programa, eu pensava em largar o jornalismo. Não tinha mais vontade". A equipe ficou muito tempo sem salário, Nando cansou de esperar e pediu para sair. Pouco depois, um diretor comercial da Bandeirantes entrou em contato, acertou salário e ele retornou como coordenador de esportes. Ficou na Bandeirantes até 2001, quando foi contratado pela Gaúcha, onde trabalhou até abril deste ano.

Transições da vida

Nando foi para a Rádio Gaúcha em 2001, para apresentar o programa "Hoje nos Esportes" e ser repórter. Em 2005, quando transbordava de felicidade com o nascimento da filha, Helena, Nando deixou de ser repórter e passou a ser comentarista. No ano seguinte já estava na Copa, como o primeiro comentarista da Gaúcha. "O que ficou faltando (na Gaúcha) era a oportunidade de participar das decisões. Eu só conseguia botar a mão no meu programa, não conseguia participar do restante", explica.

Em abril deste ano foi convidado para ser chefe de esportes da Rádio Guaíba, do Grupo Record. Desde que ingressou, passou a ser consultado sobre decisões internas, e quatro meses depois, a direção o convocou para assumir a gerência geral da equipe de Jornalismo da rádio. Nando conta que gosta de participar das decisões, gosta de fazer parte da "engrenagem". "Eu quero estar no projeto, quero estar na turma que ajuda a pensar. Só empurrar o carro eu não quero, eu quero dirigir", declara. Sua presença tem sido marcante, pois com um mês na posição de liderança, o jornalista reformulou toda a programação da emissora. "A Guaíba tinha uma identidade muito envelhecida, com o conceito de rádio para pessoas mais velhas. Estava muito no passado", reitera, ao enfatizar a necessidade de reformulação da emissora.

Atualmente, o jornalista também faz participações com pautas esportivas nos telejornais da Record RS. Este ano, fez um curso de treinador profissional, para comentar futebol. "Foi muito legal pra mim, me deu um embasamento muito bom pra continuar comentando", revela. Na rivalidade entre Grêmio e Inter, ele não assume um lado. "Gremistas e colorados curtem a gente, ouvem a gente. Eu não torço por nenhum dos dois. Nos comentários, a minha opinião vem em terceiro lugar, a primeira coisa é dizer o que está acontecendo", esclarece. Desde os 13 anos, lembra de ser louco por futebol, sempre estava em algum campo jogando bola. "Eu jogava bola, mas nunca fui fanático, nunca sofri por nenhum time", recorda.

Fora do estúdio

Nando casou três vezes antes de conhecer a designer de Moda, Débora, de 35 anos, com quem está junto há quatro anos. Além da companhia dela, Nando mora com a filha Helena, de nove anos. "Eu sou agarradíssimo com a minha filha, ela me ajuda muito. Quando ela nasceu, eu quis dar tudo que não tive condições de ter", declara. Ele se considera um cara bem generoso, que está longe de ser egoísta ou vaidoso. Não sabe receber elogios, mas o que realmente o atrapalha é a ansiedade. "Às vezes eu coloco ela em algo que eu estou fazendo, até no meu trabalho. Eu quero que as coisas aconteçam, então acho que esse é um defeito, essa impaciência", admite.

Nos dias de folga, Nando enfrenta sérios problemas para relaxar. Por estar sempre conectado e atento ao que está acontecendo na rádio, ele não consegue desligar o celular ou esquecer os grupos do Whatsapp. Apesar disso, gosta de acompanhar pela TV jogos do Barcelona em dias livres, tocar violão, compor, escrever e ler na internet. Seu hobbie é ficar sozinho na frente do computador, onde pesquisa sobre qualquer assunto que lhe interesse. "Eu gosto de descobrir muitas coisas. Faço automedicação através do Google, faço tudo que não deve", expõe.

Gosta de cinema, desde que a sessão não seja longa. É fã dos filmes de 90 minutos do Woody Allen, seu diretor preferido. "Uma vez fui assistir Titanic no cinema, por conta da ansiedade eu levantei umas cinco vezes pra ir ao banheiro", lembra.  Nando diz que não se considera uma pessoa realizada, "ainda falta muito". "Eu não sei se vou me realizar até morrer, eu sempre quero mais. Estou longe de estar realizado. Não dá pra estar realizado aos 52, eu estou bem, mas realizado ainda não, falta muita coisa", justifica.

Comentários