Rodrigo Pereira: De todas as formas

Não só na propaganda, Rodrigo Pereira busca inspiração também nos processos criativos de diferentes segmentos

Rodrigo Pereira | Crédito: Claudio Lacerda
Música, produção audiovisual e jogos digitais. Não só a propaganda, processos criativos de diferentes segmentos também têm a atenção do publicitário Rodrigo Pereira, de 31 anos. Diretor de Criação da DM9Sul, ele busca nas distrações do dia a dia o ponto de equilíbrio para a rotina agitada de uma profissão contrastante com a personalidade de quem se define calmo e até tímido - característica, aliás, contestada por colegas. Dono de um perfil que perpassa a propaganda, defende que trabalhar na área exige mais que talento, sorte e persistência, requer preparação e conhecimento. "Não adianta nada estar no lugar certo, na hora certa e não estar preparado", pontua.
Foi o gosto pelo cinema que levou Rodrigo para a comunicação. Na falta de graduação na área, optou pela Publicidade. Aos 18 anos, descobriu a direção de arte e se encontrou na criação, passou por estágios na agência experimental da ESPM, na e21, Escala e DCS, onde retornaria em 2005 como profissional contratado. Em seguida, na Boca Comunicação, explorou novas formas de propaganda. "Na época, muita gente fazia anúncio e filme e pouca fazia web e conteúdo, que eu gostava muito e queria exercitar." Em 2011, a agência foi incorporada pela DM9.
Diretor de Criação desde setembro de 2013, vive hoje uma rotina um pouco diferente da que estava acostumado como criativo, já que o cargo exige gestão de pessoas e planejamento. "A Direção de Criação cansa mais que ser criativo e exige vários conhecimentos que não sabia que precisava, nem mesmo sabia que eu tinha. Descobri com o tempo que gosto de aprender e acho que esse tempo tem sido de aprendizado muito grande."
Para inspirar
Ter próximo de si pessoas inspiradoras é algo que sempre buscou. Por um tempo, guardava no computador trabalhos produzidos por profissionais com quem já havia trabalhado, e que provavam que boas criações não surgem apenas em lugares como Nova Iorque, mas também na mesa ao lado. Entre as peças arquivadas, estavam trabalhos de Lucio Regner, que vive na Alemanha, Marco Bezerra, atual VP de Criação da DM9Sul, e Régis Montagna, agora diretor Nacional de Criação da Escala. "Sempre tive apreço por trabalho de pessoas que estiveram comigo."
Ao falar do próprio trabalho, dois são lembrados com carinho especial: "Camisa eterna", homenagem da Olympikus ao Flamengo, criada para marcar o fim do contrato de patrocínio entre os dois, e "Alfabeto sonoro", para o Club NME Brasil. O primeiro chegou a integrar a shortlist no Cannes Lions de 2013, enquanto o segundo arrematou três Leões, Webby Awards, El Ojo, entre outros. "O NME me fez ver bastante coisa nova. Foi uma criação para plataforma que ninguém faz nada, era o SoundCloud, não era só pôr na mídia. Foi muito legal!"
Na trajetória, há cerca de 10 anos trabalha ao lado do redator Everton Behenck, também diretor de Criação. "Meu relacionamento fora do casamento com a Martina (Heuser Pereira) é com o Everton", brinca. A dupla se conheceu na DCS, e a amizade dos dois já rendeu até uma banda de rock. Com um violão, a música veio para preencher o tempo, em uma época em que precisavam permanecer na agência após o horário para aguardar a liberação de anúncios de um cliente. Além deles, completam a banda Renan, irmão de Rodrigo, e Antônio Soletti. "A gente toca, faz show e estamos pra lançar um disco, que já gravamos. A propaganda se consome muito ela mesma e acho importante ter outras vivências."
Com os seus
Filho primogênito de Maria Cristina Alves Pereira, professora de Matemática do Estado, e de José Juarez Silveira Pereira, administrador de empresas, Rodrigo diz que teve uma infância bastante calma e tranquila, característica de quem cresceu na Zona Sul de Porto Alegre. Muitas das memórias desse tempo foram vividas na mesma casa onde seus pais ainda moram. "A vida acontece mais devagar por lá. Dá pra caminhar no bairro, ir até o rio, andar de bicicleta. Sempre brinco que nasci aqui, mas devia ter nascido no Interior", diz.
O tempo livre é dedicado à esposa, Martina, e ao filho, Bento. Fruto do relacionamento que já dura oito anos, o pequeno nasceu em dezembro e trouxe, é claro, um ano cheio de novidades para os pais. Um desafio é conciliar o dia a dia de família com a rotina profissional, para poder acompanhar as atividades do menino. "Começo a ter um ataque de pânico quando percebo que vou ter que ficar meio-dia na agência e não vou poder ir em casa", admite e acrescenta: "Estou aprendendo a lidar com isso. Estou curtindo ainda essa fase".
O jiu-jítsu, que pratica há aproximadamente três anos, a música e os videogames estão entre as preferências do publicitário. Atividade presente nos tempos de criança, os jogos foram retomados como uma distração para ocupar o tempo sozinho em casa, durante as viagens da esposa. "Primeiro, eu queria um cachorro, achei que era uma boa companhia, mas ela não queria. Decidi comprar um videogame e acabei viciado de novo", conta. Assim como a atração pelo cinema, o interesse pelos jogos também envolve a concepção de histórias e personagens.
De games a UFC
Muito mais do que jogar, a vontade é fazer. Considera uma indústria ainda distante do ápice, com grande potencial de crescimento. Em março deste ano, ao acompanhar o SxSW (South by Southwest), festival que acontece em Austin, no Texas, foi surpreendido com uma convenção de videogame. "Peguei material, conheci um monte de gente e saí como criança com doce", compara. Até voltou à sala de aula para estudar jogos digitais, porém, o tempo curto para se dedicar ao curso e as viagens a trabalho fizeram com que a experiência durasse cerca de uma semana. Mesmo assim, não abandonou o objetivo: "Ainda quero fazer um jogo e vou fazer de um jeito ou de outro".
Filmes, ele garante que já assistiu a todos os lançamentos a partir de 1994, seja sucesso de bilheteria, crítica ou aqueles considerados ruins. Também curte assistir a séries de TV, hábito que ganhou força com Lost, primeira produção que acompanhou por seis temporadas, até o último episódio. Hoje, têm sua atenção as aclamadas Game of Thrones e House of Cards, e Girls, que, reconhece, "é uma série de menina", mas gosta de ver. Grande parte do interesse se justifica pelo processo criativo. "Fico curioso para saber como se monta uma coisa que mantém muita gente vendo por tanto tempo, às vezes com os mesmos personagens e cenário."
Gremista desde criança, cresceu indo ao estádio com o pai, mas há três anos deixou o futebol de lado, ao constatar que o esporte mais aborrecia do que alegrava. "Decidi que ia ficar um ano sem ver nada de jogos. Cancelei o pay per view, a cadeira no estádio e a sensação que tive, brinco, é que me curei do futebol." A mudança coincidiu com o início no jiu-jítsu, esporte a que agora dedica o seu tempo. "Vejo todos os UFC. Acho bem mais justo pra quem assiste, não importa pra quem tu está torcendo, é sempre legal, porque o Grêmio?"
Ponto de equilíbrio
Na gastronomia, diz que não tem preferência por comidas, gosta de experimentar sabores e também lugares. Confessa que o cara que acorda cedo, pratica exercícios e tem alimentação saudável existe de segunda a sexta-feira. Nos fins de semana, o cardápio mais recorrente inclui pizza, sorvete e outros pratos do tipo junk food. "Sempre engordo uns dois quilos e meio no fim de semana", afirma. Soa até excêntrico para quem vive o dia a dia de agência, garante que tem uma espécie de fobia a café. "Ninguém sabe o meu pavor quando chego na minha mesa e tem um copo de café que alguém esqueceu. Não consigo nem tirar. Com os anos, aprendi a lidar um pouco, mas não sei explicar."
Viajar é uma atividade que o publicitário valoriza bastante. Com a ideia de que dinheiro bem gasto é aquele investido em viagens, tem nesse tipo de experiência uma forma de sair da rotina e cultivar boas memórias. "Tem um vídeo que fala sobre essa impressão que a gente tem quando criança de que o tempo passa mais devagar. Isso tem a ver com as coisas novas que tu aprende. Viagem é como se fosse a primeira vez de novo, um clima diferente, pessoas diferentes, lugares diferentes", considera. Já conheceu Nova Iorque, Amsterdã, Londres, Paris e a ilha venezuelana de Los Roques, e ainda pretende ir à Califórnia e à África.
Dentro de um mercado profissional que exige muito relações interpessoais, crê que o bem vem para aqueles que o praticam e diz que se esforça para manter a harmonia na equipe. "Eu tenho a sensação que estou aqui pra deixar a galera numa boa. Gosto de fazer as pessoas se sentirem bem e felizes. Acredito que quem traz amor recebe amor. Se é assim, acho que estou no mundo pra trazer amor", conclui.
 

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