Robledo Milani: Um cinéfilo múltiplo

Publicitário e crítico de cinema, Robledo Milani conta a trajetória que o tornou um consumidor compulsivo de filmes

Robledo Milani | Arquivo pessoal
Por Carlos Redel
Quando entrou na faculdade, em 1994, Robledo Milani nem imaginava o rumo que sua vida iria tomar. Superou o vestibular para Arquitetura, na Ufrgs, influenciado por um primo mais velho, que, um ano antes, havia ingressado no curso, e por sua mãe, que sempre admirou a profissão. No entanto, indícios apontavam que seu destino estaria em outra área. "No primeiro semestre da faculdade, passei em todas as disciplinas de humanas e rodei em todas de exatas", se diverte relembrando.
Depois de alguns semestres deslocado em um curso que não era sua vocação, pediu transferência para qualquer um da área da Comunicação. Sem conseguir se decidir entre as opções, voltou para a Arquitetura, onde ficou por mais um ano. Sentindo-se infeliz, decidiu abandonar a faculdade e voltar aos cursinhos para, em 1997, ingressar em Publicidade, novamente na Ufrgs. Desta vez, confiante de que tinha feito a escolha certa. Em sua nova empreitada acadêmica, buscou estágio para ter vivência na área. Quando conseguiu, foi para trabalhar, ironicamente, com arquitetura, no Museu Universitário da universidade. Também teve experiência no setor de marketing da Net e o resumo da ópera é que, na prática, nunca atuou em uma agência de propaganda.
Desempregado, foi passar as férias no Litoral e, quando voltou pra Porto Alegre, no começo de 1999, foi chamado para estagiar na área de Chamadas da RBS TV. Em 1º de janeiro de 2000, foi contratado como efetivo, mesmo ainda sendo estudante, assumindo o cargo de coordenador do setor da Tvcom.
Um ano depois, uma situação inusitada começou a moldar o futuro do profissional, agora já formado. Por conta dos diversos comentários sobre cinema que fazia na redação, mesmo sem uma noção mais aprofundada sobre a sétima arte, Robledo foi convidado pela amiga Fernanda Vargas, que produzia o programa Estúdio 36, para assistir ao remake de "Planeta dos macacos", de Tim Burton, em uma cabine de imprensa. Depois disso, participaria da atração da Tvcom para comentar sobre o longa. Sem pestanejar, aceitou. Passou em uma locadora, alugou a versão original do filme, assistiu durante a noite e, na manhã seguinte, mais preparado, foi à sessão especial. No mesmo dia, comentou sobre a produção no Estúdio 36, no que seria seu primeiro contato com a crítica cinematográfica. A semente havia sido plantada. Tanto que, em 2002, juntamente com dois colegas da TV, montou o blog que denominaram de "Argumento". Foi este o embrião do portal "Papo de Cinema" que, mais tarde, seria a sua grande paixão.
Insatisfeito com a rotina na TV, conversou com o diretor-geral de Jornalismo, César Freitas, e disse que queria ir embora, mas foi convencido a ficar. O publicitário ganhou o "Programa de Cinema" que, com apenas um minuto, era veiculado na Tvcom com dicas de filmes. Conquistou a cobiçada atração e, de brinde, ganhou "Multimídia", programa sobre publicidade. Foi então que teve a ideia de transformar o "Programa de Cinema" em algo maior, projeto aceito pela diretoria. Robledo se tornou diretor e roteirista do novo formato do "Programa de Cinema", que agora tinha duração de meia hora e era exibido às 22h da quinta-feira, na faixa especial da Tvcom. Segundo o publicitário, a atração vendia toda a cota de patrocínio e tinha grande retorno do público.
Após uma viagem de 70 dias pela Europa, foi convidado por colegas de trabalho para montar uma produtora de vídeo. Durante o desenvolvimento da empresa, Robledo recebeu outro convite, agora para apresentar o "Cine Gourmet", projeto que envolve gastronomia, cinema e turismo, no Hotel Casa da Montanha, em Gramado, em 2007. Após duas edições, a assessoria da atração disse que a empresa não atenderia mais ao projeto. Mas junto com a notícia ruim, veio uma boa: os donos do hotel queriam o publicitário como apresentador da atividade.
Eis que o lado empreendedor deu as caras. Decidiu assumir o setor de Comunicação do hotel e conseguiu. Sem ter experiência em assessoria de imprensa, contou com a ajuda do amigo Adriano Cescani. Foi por conta desta parceria que nasceu a Phosphoros. A empresa, que começou com cinco sócios, ainda no primeiro ano de existência, contava com apenas quatro. Em 2008, os sócios remanescentes da Phosphoros, todos funcionários do Grupo RBS, tiveram que escolher entre as duas empresas. Acabaram ficando com o empreendimento próprio. Com o passar do tempo, restaram à frente da assessoria apenas Robledo e Adriano, que continuam firmes até hoje.
Nesse meio-tempo, apresentou o "Papo de Cinema", evento realizado para promover o longa gaúcho "Diário de um novo mundo". Mais de três mil pessoas compareceram ao encontro, no shopping Praia de Belas. Quando Robledo decidiu ter um site de cinema, o nome veio naturalmente. "Papo de Cinema" foi ao ar em outubro de 2011.
Vida de crítico
A localização geográfica é um problema para a empresa de Robledo. Estar situado em Porto Alegre complica a presença em grandes eventos realizados no centro do País, que são acessíveis aos concorrentes da parte de cima do mapa. "As coisas acontecem no eixo Rio-São Paulo, o que dificulta o nosso deslocamento", reclama.
Mas estar em terras gaúchas não é de todo ruim. Na Região Sul, por exemplo, não existe concorrência à altura para o "Papo de Cinema". De acordo com Robledo, que também é vice-presidente da Associação de Críticos do Rio Grande do Sul, a plataforma apresenta crescimento todos os meses. "Estamos chegando aos 100 mil visitantes por mês. Ainda é um número pequeno frente aos grandes, mas já impressiona", comemora.
Pode parecer fácil escrever sobre cinema, mas Robledo garante: "não é". Presente em todos os festivais que pode, durante a última Mostra de Cinema de São Paulo, por exemplo, assistiu a seis filmes em apenas um dia. O publicitário atua também, desde 2011, como palestrante e ministrante em oficinas, workshops e cursos.
Para o futuro, seus planos são ambiciosos. "Daqui a 10 anos, o "Papo de Cinema" será o maior site de cinema do País, não só da Região Sul. Estaremos ganhando milhões", fala, aos risos. Nos projetos pessoais, pretende viajar mais, ter mais, ser mais e estudar mais. Tem a intenção de fazer um mestrado na área de Cinema e, quem sabe, escrever um livro.
Com mais de mil livros em seu acervo, diz que a genialidade de "Laços de sangue", do autor Michael Cunningham, faz com que essa seja sua obra preferida. No que se refere à música, responde sem hesitar: Madonna é a cantora favorita, pois a considera uma artista completa e reconhecida em todas as áreas em que atua.
Acumulador, adquire todos os filmes que gosta, somando mais de cinco mil DVD"s em sua estante. "Talvez eu seja a única pessoa no mundo que ainda compra DVD"s", brinca. Com tantas longas assistidos, não tem convicção na hora de indicar o filme favorito. Entre eles estão "O poderoso chefão", "Cidadão Kane", "Casablanca" e "Clube da luta". Em 2015, acredita que o melhor seja o nacional "Que horas ela volta?", estrelado por Regina Casé. "Simplicidade absurda e tão feliz na proposta", explica o motivo da escolha. De bom humor e otimista, conta que se sua vida fosse um filme, o diretor seria Billy Wilder, o mesmo de clássicos como "Se meu apartamento falasse".
Família, namoro e solidão
Filho da professora Ariádene Milani e do corretor de imóveis César Vaz, Robledo Milani resumiu sua infância como tranquila, sem dar muitos detalhes sobre o passado. Com pais separados, ele e a irmã mais nova, Cris Milani Vaz, foram criados pela mãe e, apesar de algumas dificuldades, que evita detalhar, cresceram bem. Mesmo colorado por influência do pai e do avô, revelou que o fato de não gostar de jogar bola não o tornou o esquisito da sala de aula. Muito pelo contrário. Tinha boas relações com todos e chegou a ser líder de turma.
Suas maiores lembranças são dos momentos com os avós. Recorda, com carinho, das férias em família e como adorava dormir de tarde com o avô. Aos 10 anos, a avó lhe proporcionou o primeiro contato com o cinema, quando foram assistir "O último imperador". O passo inicial para uma vida que, mais tarde, seria em parte dedicada à sétima arte. Praticou natação, quando era mais jovem, conquistando algumas medalhas. "Deveria ter seguido no esporte, hoje não teria essa barriga", brinca.
Foi durante o Natal Luz de Gramado de 2008 que Robledo conheceu o namorado, o dentista Guilherme Cerveira. Mas não no período de férias e, sim, fazendo a assessoria do evento. Juntos há seis anos, os dois moram em casas separadas, o que, para publicitário, é a melhor opção. O crítico conta que segue a dinâmica de vida apresentada por Chico Buarque de Holanda, no filme "Chico: Um artista brasileiro". No longa, o músico fala que, após um casamento de 30 anos, hoje vive sozinho e nunca se sente só. "Sou assim. No pouco tempo que tenho sozinho, é um alívio. Gosto quando estou sozinho, gosto quando estou namorando. É bom poder equilibrar estes momentos", explica.
 "O horizonte me estimula"
Quando estava na faculdade de Arquitetura, Robledo ouviu uma frase que usa como lema: "Saber e não fazer é não saber". Para ele, não adianta alguém dizer que sabe e não pôr em prática. Sobre os próximos passos, afirma que não está nem perto do auge. "Ainda tenho muito que conquistar. Estou sempre na subida. Sempre tem muito pela frente. O horizonte me estimula", afirma.
Não é de se admirar fácil, das pessoas que tem como exemplo, uma se destaca: "eu sou tão bom, né? Seria o Robledo Milani!", brinca, gargalhando depois. Mesmo assim, algumas pessoas são exemplos para o publicitário. Na área de assessoria de imprensa, a amiga Mariana Laviaguerre, assessora da Sony Pictures do Brasil, é admirada pelo publicitário. Na área de resenhas de filmes, sempre leu muito os textos do já falecido Roger Ebert, exaltando o grande talento do crítico.
Se irritar rápido e perder facilmente a paciência são alguns de seus defeitos que mais se ressaltam. Diz que sua principal qualidade é saber pedir desculpas. Sobre religião, admite ser contra, mas não cético: acredita em uma força superior.
Apesar de preferir que os outros o definam, acredita, acima de tudo, ser "múltiplo". Para o publicitário, o mundo é muito pequeno e está sempre dando voltas, por isso, é muito importante olhar as pessoas pelo o que elas são e não por onde elas estão. "Esse é o grande segredo", acredita.

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