Samantha Carvalho: Móvel e simples

Diretora da Queen Mob, Samantha Carvalho é reconhecida pelo mercado como referência em marketing mobile

Samantha Carvalho | Divulgação
Por Márcia Christofoli
Os olhos são claros, a voz é afirmativa, a postura é leve e o sorriso é tímido, mas franco. Samantha Andrade Weber Chagas Carvalho, 35 anos, carrega os dois sobrenomes de pai e mãe, mas prefere utilizar apenas o último. Diretora da Queen Mob, é considerada referência em estratégia mobile, área em que atua desde 2009. E o título não é à toa, já que antes mesmo de ingressar neste mercado, se preocupou em estudar muito, ou, como ela gosta de registrar, "super correu atrás". Jornalista com pós-graduação em Gestão de Negócios, fez cursos nos Estados Unidos e em São Paulo e, quando se interessava por alguma ação mobile, contatava o autor e marcava um café, na intenção de extrair tudo o que fosse possível daquele processo. "Eu sentia que precisava saber tudo o que pudesse para me jogar de cabeça", conta.
Outro aspecto que pode justificar o reconhecimento do mercado é o portóflio que a acompanha, com trabalhos para marcas como Paquetá Esportes, Claro, LG, Prefeitura de Bento Gonçalves e Procon RS, entre outros. Foi ela também quem ministrou a primeira especialização em estratégias de comunicação e marketing para plataformas móveis na ESPM. Neste caso, além de professora, participou da criação e elaboração do curso.
Samantha confessa que esses feitos não chegam a envaidecê-la, apesar de admitir que, devido a toda dedicação que sempre deu à especialização, gosta quando reconhecem o quanto ela entende da área em que atua. Uma das vezes em que isso aconteceu e, aliás, encheu-a de orgulho, foi quando conquistou prata no Smarties 2015, na categoria social impact, prêmio oferecido por regiões pela Mobile Marketing Association. A distinção veio pelo trabalho desenvolvido para o Procon RS. "Ter dado mais acesso da população aos seus direitos foi muito interessante. Foi algo simples, mas transformador", lembra.
Da TV para o mobile
A paixão pelas tecnologias móveis começou há quase 10 anos, em um tempo no qual mobile era high tone e wallpaper, conforme recorda. O que a despertou de fato para o setor foi ter acompanhado o Exportel, em Mônaco, onde acontece a compra e a venda da transmissão de imagens de grandes eventos esportivos. Era 2007, e o tempo inteiro, resgata, "se falava sobre a tendência de fazer essa transmissão pelo celular, que essa seria a tendência natural da área. Fiquei interessada pelo assunto e ele ficou na minha cabeça".
Nessa época, Samantha atuava na TVCom, do Grupo RBS, como diretora e editora do programa Estilo Próprio, sobre variedades. A atividade oportunizou visitas a muitas agências de propaganda. Gostava de conhecer estas empresas, pois sentia que o mercado publicitário tinha um olhar diferente sobre os formatos de trabalho, "com videogame, mesa de pingue-pongue e muito alto astral". Não tardou para considerar seus processos em TV muito engessados e, quase simultaneamente, querer se especializar em mobile para ter sua empresa.
Após estudar mais sobre o assunto, abriu a Queenmob em 2009, com o desejo de sair dos padrões. "Queria algo mais leve, mais dinâmico, diferente. E acho que consegui", comemora, contando que já aconteceu de encerrar o dia da agência no meio da tarde para ir ao cinema com a equipe. A mesma tranquilidade acontece na hora de liberar seus colaboradores para trabalharem em home office, saírem mais cedo ou fazerem horários alternativos. "Tenho convicção de que a equipe produz muito mais assim", acredita.
A carreira de Samantha não se fez apenas da Queen ou do Grupo RBS, onde conta que "fez de tudo" - produziu, editou, apresentou, foi repórter, dirigiu programas, tanto na TVCom, quanto na RBS TV. A trajetória profissional iniciou, na verdade, na extinta TV Guaíba, em um programa chamado Zoom, também de variedades. "Tinha 19 anos e era produtora. Com o tempo, o Fernando Vieira começou a permitir que eu fizesse algumas entrevistas", recorda. Ainda teve passagem pela TV Assembleia, da qual lembra com carinho, pois considera ter aprendido ali ainda mais sobre televisão, especialmente em uma área mais complexa como a política. E aí cita Taline Opitz, Karim Miskulin e Simone Iglesias como grandes nomes da área, com quem aprendeu muito sobre o Parlamento e os políticos.
Uma herança de avó
A Queen Mob está localizada em um prédio na Rua da República, em um "andar familiar", como a jornalista brinca em referência às demais salas, que pertencem ao irmão Mártin, de 31 anos, empresário e ex-jogador de futebol, e ao pai Fernando Carvalho, advogado e ex-presidente do Sport Club Internacional. Esse, aliás, é a referência dela em todos os quesitos da vida e a quem não poupa elogios: "É um grande ser humano, um excelente profissional, uma pessoa incrível. Serei sempre fã dele".
A mãe é a publicitária Flavia Weber, por sua vez, filha de Jussara Weber, a avó materna que recebe um carinho especial. Foi a principal incentivadora da sua paixão pelos livros e é de quem guarda as mais carinhosas lembranças de infância, no Rio de Janeiro, onde dona Jussara ainda reside. "Lembro muito dela lendo para mim. Aos 84 anos, está lúcida, é inteligentíssima, com quem amo conversar até hoje", elogia.
Livros seguem sendo um dos lazeres preferidos nos momentos de folga. Samantha gosta de ler e reler diferentes títulos, que não se limitam a uma ferramenta de conhecimento, mas de entretenimento. Os técnicos ganham sua atenção, especialmente quando assinados por Henry Jenkyns, autor que considera muito importante nas primeiras pesquisas sobre mobile. "Ele mergulha no conteúdo, independentemente da plataforma, mostrando que o importante é contar boas histórias e entender das potencialidades e limitações de cada ambiente. Sou fã", exalta, sem deixar de citar que, em sua área, também admira Terence Reis, que foi fundamental na sua entrada no mundo mobile.
Quando o assunto é entretenimento, diz que poderia citar diversas obras, pensa um pouco e enumera os preferidos: "Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios", de Marçal Aquino; "A insustentável leveza do ser", de Milan Kundera; e "O que eu amava", de Siri Hustvedt. A lista também inclui "O Poder do Mito", de Joseph Campbell, sua releitura atual.
Escolhas afirmativas
Há cinco anos, a também jornalista Priscila Montandon, diretora de Comunicação Digital na Secretaria de Comunicação Social do Governo do Estado, é quem manda no coração de Samantha. Se conheceram através do Twitter, quando ambas trabalhavam no Grupo RBS, e o relacionamento evoluiu para um casamento em Nova Iorque há alguns meses. "Ela é uma mulher linda em todos os sentidos. Inteligente, divertida, com senso de justiça. Costumo dizer que se nada der certo, já tirei a sorte grande por tê-la encontrado", se derrete Samantha. E complementa ressaltando que ambas gostam das mesmas coisas, o que fortalece o companheirismo.
Caseiras que são, conta que Priscila acompanha seu ritmo familiar, pois é mineira e a família se mantém lá. "Toda quarta-feira e domingo é dia de churrasco e futebol na casa do meu pai. Falamos que somos uma família muito moderna: eu e a Priscila, meu irmão que é solteiro e meu pai que namora a Kelly Matos, de 28 anos", brinca, entre sorrisos. E explica que lida com essas situações da forma mais tranquila possível, pois acredita que só assim as outras pessoas poderão ter a mesma naturalidade. Acha importante falar disso, pois se diz afirmativa nas escolhas, sem radicalismo ou bandeiras.
Quando o assunto é maternidade, os olhos claros brilham ainda mais: o casal tem planos de que este momento seja vivido ainda neste ano. A primeira opção será a inseminação artificial e a ideia é que Samantha gere o primeiro filho, por ser dois anos mais velha que Priscila, que deverá ter a mesma experiência mais tarde. "Adoro a ideia de viver a maternidade das duas maneiras e encaro isso de forma muito leve. Me divirto com meu pai dizendo que, se tiver um filho homem, ele vai ter que ensiná-lo a fazer xixi em pé", brinca, novamente.
O que ganha atenção especial
Como não poderia ser diferente, Inter é o time do coração. Por ter crescido no meio esportivo, conta que era fanática na infância, mas chegou a época do arquirrival se destacar e percebeu que tanto sofrimento não valia a pena. Serenou. "Mas aí veio aquela fase fantástica depois de 2006 e eu voltei a acompanhar com tudo. Só que hoje torço normalmente, não fico mais pirando pelo meu time", pondera. O futebol, aliás, também era o esporte que praticava, tal qual o irmão, mas não levou adiante e se apaixonou pelo tênis, a prática preferida.
Gastronomia também é algo que cativa Samantha, mas das mãos dela saem poucas opções, já que quem domina mesmo o fogão de casa é Priscila. O prato preferido é um simples feijão, mesmo que o pai seja considerado um mestre na cozinha e, segundo a empresária, está sempre inventando novos cardápios. "Tudo que ele faz fica bom. O churrasco, claro, é a especialidade, não tem igual mesmo. Mas, atualmente, também citaria o vinagrete de frutos do mar do Cacequi", brinca, em referência à cidade onde Fernando morou por algum tempo.
Para assistir na TV, Samantha gosta de documentários e musicais, como RENT e Wicked. Entre os filmes especiais, destaca uma adaptação de 1997 de "Grandes Esperanças", de Charles Dickens, dirigida por Alfonso Cuarón. Quando o tema é música, conta que descobriu Dave Matthews Band há algum tempo e nunca mais largou a banda norte-americana, já tendo acompanhado alguns shows. Eclética, porém, para se divertir a escolha é, sem titubear, Ivete Sangalo.
Samantha faz o tipo de quem pode ser considerada móvel não apenas pela atividade que exerce, mas em tudo na vida. As convicções que tem são suas, de fato, mas sempre que faz alguma afirmação, pondera que é puramente particular, pois "vamos lá, o que é certo de verdade?". Assim como não se considera uma pessoa apegada ao que cria. "Não veria problema em, daqui um tempo, vender a Queen e inventar outro desafio para viver." Como ela se vê, então? Da mesma forma como vê a vida: móvel e simples. "Sou curiosa, persistente, um pouco antissocial e adoro cerveja BEM gelada."

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