Gerson Cruz: Verdade e qualidade

Do Interior para a Capital, Gerson Cruz dedicou 26 anos de sua vida ao que mais gosta, a televisão.

Gerson Cruz | Divulgação
Por Gabriela Boesel
Natural de Santa Cruz do Sul, Gerson Cruz, 46 anos, se diz um profissional completo. Apaixonado pelo "fazer TV", dedicou mais da metade de sua vida à atividade e garante que, por ter passado por todas as etapas, sabe exatamente como funciona uma emissora de televisão. Sério e compenetrado, o ex-coordenador de Jornalismo da extinta TVCom se solta aos poucos durante a conversa, e acaba revelando um outro lado da personalidade.
Focado e objetivo, às vezes esboça um sorriso e se deixa levar pela leveza do momento, diferentemente de quando atuava atrás das câmeras, quando seriedade era a palavra de ordem. Após 26 anos dedicados exclusivamente à RBS TV, agora aproveita os momentos em família e vive sem compromisso profissional. Por enquanto. Mesmo distante do trabalho, não cogita abandonar a carreira: "Sou apaixonado por televisão, é o que eu sei fazer", repete. Paixão esta que tem Luís Fernando Zanini - ex-diretor regional do Grupo RBS em Caxias do Sul - como maior motivador, a quem se refere como chefe, amigo e, às vezes, até pai. "Se eu sou o que sou hoje, eu devo a ele. Era um exemplo de como encarar a vida. Quando estava tudo escuro, ele chegava com a vela", lembra, saudoso.
Além de Zanini, outra pessoa também teve participação nesse processo. Sem a intromissão dela, Gerson conta que talvez tivesse desistido da carreira. Pouco incentivo, salários baixos e sem perspectiva de futuro foram questões que bateram na consciência. Mas um detalhe muda tudo. E esse detalhe tem nome: Alice Urbim. No começo da profissão, a gerente de Programação na RBS TV enviou um comentário para a equipe de Santa Cruz do Sul, onde ele atuava: "Gerson Cruz tem boa voz e passa credibilidade". E foi assim que o jornalista seguiu seu caminho.
O percurso, mesmo que árduo, fez de Gerson Cruz quem ele é e quem os colegas e amigos de profissão consideram como "o cara que sabe tudo". O jornalista passou pelas câmeras, bancada, produção, edição até chegar à gestão. Santa Cruz do Sul, Caxias do Sul e Porto Alegre serviram de palco para o aprendizado e trajetória profissional daquele que acredita que o bom jornalismo é feito de verdade e qualidade.
Cria da RBS
A trajetória na RBS TV começou antes mesmo de finalizar a graduação de Jornalismo na Universidade de Caxias do Sul (UCS). E, mesmo apaixonado pela profissão, conta que não foi fácil se formar, já que nunca foi muito assíduo nas aulas e que, talvez, tivesse abandonado o curso. Decisão que mudou quando uma ex-chefe cruzou seu caminho. "Um dia ela me disse: "qualificação é tudo na vida! O que tu estás pensando?". Em um ano me formei", conta.
Cria da RBS, como ele mesmo gosta de dizer, os primeiros 10 anos de experiência foram na emissora em Santa Cruz do Sul, que recém havia sido inaugurada - isso foi em 1989, Gerson ingressou em 1991. Nesse período, incluiu no currículo passagens nas áreas de produção de comercial, edição, reportagem e apresentação. A rápida ascensão, acredita, teve relação com a reformulação que vinha de cima. "Naquela época, a TV Globo inovou e colocou o âncora para editar também, acabando com a figura do locutor de notícias", recorda. Foi então que assumiu a apresentação do RBS Notícias e começou a editar as reportagens, além de apresentá-las. Três anos depois, assumiu a chefia de Jornalismo. Em 2000, em Caxias do Sul, ocupou o mesmo cargo, que exerceu por sete anos. "No Interior é bom porque passa por todo o ciclo, por todas as fases. Te dá uma cancha legal", conta.
A capital gaúcha surgiu na vida profissional de Gerson em 2008, quando foi convidado para assumir "o projeto grandioso da TVCom". Foi na época da criação do Camarote TVCom - com os jornalistas Kátia Sumam e Rodrigo Lopes - que o cara do Interior veio para coordenar o Jornalismo da emissora comunitária que estava em fase de expansão. A experiência durou um ano, pois logo passou a comandar a Redação da RBS TV, onde ficou até 2014, quando retornou à TVCom para dirigir "mais um projeto grandioso: o canal multiplataforma Octo".
Movido a desafios
Tudo tem um prazo de validade e estava na hora de mexer. É assim que o jornalista enxerga a vida. Por isso aceitou todas as mudanças e convites que a profissão lhe ofereceu. "O objetivo é aprender e aproveitar oportunidades. Tudo acontece quando tem que acontecer", diz. E nesses anos todos de experiência, desafios não faltaram. O mais marcante foi a cobertura do incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria. Em plena madrugada, quando a redação ainda dormia, Gerson chegou para dar início aos trabalhos do que parecia ser mais um fim de semana normal. "O que marcou foi chegar em uma redação completamente escura, sem ninguém, sem saber o que viria depois", recorda. A correria de chamar repórteres, diretores, solicitar verba e fazer as notícias entrarem no ar ainda está presente na memória: "Depois daquilo, se faz qualquer coisa".
Para o futuro, ainda não tem planos, afinal, após 26 anos trabalhando ininterruptamente, ele merece descanso. Mesmo assim, confessa que sempre se perguntou o que faria quando deixasse o grupo. "O que mais me angustia nesse momento não é o que eu vou fazer, é como encarar a vida." Eis que surge mais um desafio, uma oportunidade de trilhar um caminho completamente diferente, de girar 180º. A questão é como aproveitar esse momento para fazer algo diferente. Recorrer ao meio acadêmico é uma opção, até porque segue a filosofa de que "a experiência não serve de nada se tu não ajudares aos outros".
Com o lema "o que vou fazer de diferente hoje?", Gerson viveu cada dia da profissão e fez a diferença na vida de colegas e colaboradores na RBS TV. Para ele, fazer diferente é imprescindível para quem trabalha com Jornalismo. Senão, é mais do mesmo. "Eu sempre falava isso na redação: tem que fazer diferente. Eu levava muito a sério e cobrava dos outros. Esse diferencial é o que o telespectador percebe, pois o normal a concorrência já tem", explica.
Nos bastidores
Marido da publicitária Cláudia e pai de Gabriel, 15 anos, e Luiza, 10, Gerson costuma brincar que, se não fosse jornalista, seria vendedor de cachorro-quente, uma brincadeira com um de seus lanches preferidos. O filho de Antonio e Elena Cruz diz que o que mais lembra da infância é do orgulho que sentia ao dizer que era da Capital Nacional do Fumo e que acordava todas as manhãs para ir para a aula com a sirene da fábrica da Souza Cruz. Hoje, esse orgulho já não existe mais, por ter consciência de que o fumo faz mal à saúde.
E por falar em saúde, tenta cuidar muito bem dela: correr, além de hábito, é exercício físico, lazer e compromisso. Gerson conta que começou a participar de maratonas há seis anos e que os 10 quilômetros diários são essenciais na vida. "Correr foi fundamental para segurar a pressão do dia a dia." Sobre outros esportes, diz que é apaixonado por futebol, mas apenas para assistir. Colorado fanático, conta que desistiu de atuar jornalisticamente com esporte "porque conhecer os bastidores faz perder todo o encanto".
Na esfera musical, o jornalista revela, aos risos, que parou na década de 1980. Daquela época, gosta de tudo, inclusive comemora o fato de ter conseguido transmitir esse gosto para os filhos. "Luiza adora rock e o Gabriel é beatlemaníaco", fala, com um orgulho de pai. Filmes e livros também tomam lugar nos dias de folga. A produção "O Pianista", por exemplo, é a preferida, tanto que já assistiu incontáveis vezes. Já na literatura, vale tudo, desde Chico Buarque a Fabrício Carpinejar. "Valorizo muito quem escreve. O que aparece, eu leio".
Com tantas formas de informações, conhecimento é o que não falta para esse apaixonado por televisão, que defende com unhas e dentes que o bom jornalismo não acabou e que, mais do que nunca, a qualidade tem de permanecer nos meios de comunicação. "Ninguém resiste a uma história bem contada. Tem que ter qualidade e credibilidade para construir uma referência e conquistar o público".

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