Junior Oliveira: Na raiz cooperativa

O jornalista Luiz Roberto de Oliveira Junior vê na colaboração o futuro da sociedade

Junior Oliveira | Crédito: Leonardo Machado
Por Márcia Christofoli
O incentivo à leitura que recebia dos pais fez com que a escolha de Luiz Roberto de Oliveira Junior, ou apenas Junior, como prefere ser chamado, fosse natural na hora de prestar vestibular na Unisinos. O interesse pelo Jornalismo aumentou depois de assistir à minissérie Anos Rebeldes, da Rede Globo, cujo enredo passava pela atuação da imprensa na década de 1964, no Regime Militar. "Fui uma criança que leu muito, desde gibis, literatura infantil, revistas, jornal diário. Lembro-me das coleções de Monteiro Lobato, do Manual do Escoteiro Mirim, da coleção Vagalume. Acho que a união disso com a minissérie foi decisivo", reflete.
Aos 38 anos e atuando como coordenador de Comunicação do Sistema Ocergs Sescoop/RS, Junior carrega consigo, além de um pouco do sotaque de Interior, respeito e admiração por Espumoso, onde nasceu. O primogênito do dentista Luiz Roberto e da professora Jandira - ambos aposentados e até hoje moradores da cidade natal - diz que visita a família muito menos do que gostaria. "Tudo o que eu sou e aprendi de valores foi nessa cidade. Acho a vivência de Interior muito rica, pois o pessoal da Capital é mais frio e dá menos valor aos pequenos gestos", compara, salientando ainda que, em Espumoso, todos são mais solícitos e fraternos. E completa: "A vida é mais fácil lá".
O irmão mais velho do dentista Edson e da administradora Jéssica é casado com Raquel, bibliotecária, desde 2009. Foi um namoro que começou no próprio Sescoop, quando ela era secretária da faculdade de Cooperativismo, sua segunda graduação. Para falar da esposa, o jornalista não faz rodeios e se declara: "A gente se completa. Não nos imaginamos sem o outro, ainda mais quando se tem um filho". A referência é a Eduardo, de um ano e 11 meses, e o pai acredita que sua chegada trouxe ao casal ainda mais companheirismo, "quando tudo passa a ser mais instigante". É mais difícil, admite, mas salienta que os torna mais cúmplices, amigos e parceiros.
12 anos intensos
Formado no início dos anos 2000, Junior acumula quase 20 anos de mercado, onde entrou ainda estudante. A área de atuação sempre foi comunicação corporativa, e o início, "como todo estagiário", foi fazendo clipagem, mural e jornal interno, na Secretaria do Trabalho e Ação Social. Desse tempo, lembra-se do esforço que era a rotina, pois em alguns dias da semana chegava a usar sete conduções, entre ônibus e trem, para estudar, trabalhar, voltar para a faculdade e só então retornar para casa. "O dinheiro que ganhava era basicamente para pagar meu transporte", lembra, com certo orgulho da batalha vencida.
Ao ingressar na Assembleia Legislativa, ainda universitário, não imaginava que lá permaneceria por 12 anos. Entrou pelo gabinete do deputado Giovani Cherini, que, na época, presidia a Comissão da Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia. Bastaram dois anos para ser convidado a assumir o cargo de assessor de imprensa do político. "Topei o desafio sem titubear, pois era uma baita oportunidade. No início, nem assinava os releases, pois não era formado, e mandava os textos por fax, já que a internet ainda engatinhava", conta.
Deste período, uma das situações que mais chamou sua atenção e que lhe proporcionou o acompanhamento de uma cobertura factual foi a CPI do Leite, em 2002, quando Cherini foi o relator. "O dia a dia me impressionou bastante, o acompanhamento dos veículos era diário, foi um trabalho muito intenso", exalta. Oito anos depois, o deputado assumiria a presidência da Casa, e Junior, a Diretoria de Publicidade. Foi quando passou a admirar ainda mais Carlos Bastos, então superintendente de Comunicação, a quem faz elogios como pessoa sensacional e grande profissional. "O carinho e o respeito que ele tem pelas pessoas dos veículos é admirável mesmo. Tinha também Francis Maia, Celina Carvalho, Leonel Rocha. Era uma equipe muito afinada e foi um ano muito produtivo", lembra, com orgulho.
Fincar raízes
Em janeiro de 2011, Cherini se elegeu deputado federal e Junior teve que decidir se ia junto para Brasília. Recém-casado e em processo de compra de apartamento, escolheu ficar e atuar como coordenador do escritório político em Porto Alegre. A experiência fez com que passasse a trabalhar não apenas com o que gostava, mas de tudo um pouco, incluindo questões operacionais e administrativas, algo que não o fazia tão feliz. Há quatro anos, surgiu o convite para trabalhar no Sistema Ocergs Sescoop/RS e o cooperativismo passou a ser o assunto do cotidiano.
Afirma ter desafios diários, pois o Jornalismo é apenas um dos braços do setor, mas tem ainda a possibilidade de trabalhar em redes sociais, campanhas publicitárias, contato com agência de propaganda, ou seja, passou a poder pensar a comunicação corporativa de forma mais ampla. O que lhe parece mais provocador é procurar fazer bem todas as tarefas, pois a demanda exige que ele seja "um facilitador, e não um tranca-rua", como brinca.
Para o futuro, se imagina ainda mais íntimo do tema cooperação, pois entende que esse é o caminho - as pessoas devem se ajudar, acredita, e não viver em ilhas, de forma isolada. "Isso tem a ver com as nossas vidas, com os nossos trabalhos. Ninguém faz nada sozinho", garante. Por estas e outras, é possível dizer que Junior é uma pessoa que busca fincar raízes. E não seria diferente o momento atual, pois, para ele, ainda há muito a ser feito, conquistado, aperfeiçoado e melhorado. "Sou muito realizado com o que faço. Acho que a política ensina isso para vida, ou tu estás junto, abraça de corpo e alma, ou não faz. O caminho aqui ainda é longo."
Com criança em casa
Descrever a paternidade é difícil e ele explica o motivo: "É como se eu provasse um doce e dissesse que ele é maravilhoso. Se a outra pessoa não o saboreou, nunca saberá". Mesmo assim, ele tenta, dizendo que é uma sensação fenomenal e, com base no jargão, é a oportunidade de conhecer o amor incondicional na sua extensão. Como sempre foi muito ligado a crianças, ser pai é a realização de um sonho - e considera cada dia um aprendizado, sempre preocupado em tentar descobrir qual será a próxima etapa.
A rotina com Eduardo é intensa, pois Raquel trabalha no turno da noite também. Então, depois de buscar o pequeno na creche, é tudo com ele: banho, comida, roupa, brincadeiras. Dá muito trabalho, admite, mas garante ser tudo absolutamente compensador. Com criança em casa, as folgas são quase sempre em função do filho, mas conta que o casal é "normal", que gosta de viajar, jantar em restaurantes, ir ao cinema. Mesmo que raro, às vezes Eduardo fica com a avó, para que o casal possa ter um programa só dele.
Um pouco antes de o herdeiro nascer, a vida até podia ser mais fácil, mas não menos agitada. Isso porque a rotina de Junior sempre incluiu viagens profissionais e, como se não bastasse, no ano em que Eduardo chegou, o jornalista era síndico de seu condomínio, que tem cerca de 200 apartamentos. "Foi só um ano, pois não aguentaria mais do que isso. Lidar com pessoas é um enorme aprendizado, mas não é fácil. Vi cada loucura, que daria para escrever um livro", brinca.
Um pouco de si
Eclético para música, o rock brasileiro das décadas de 1980 e 1990 é um dos estilos que o marcou. Assim, bandas como Engenheiros do Havaí, Legião Urbana, Capital Inicial, Paralamas do Sucesso, Titãs e toda essa geração estão entre suas preferências. Também dá para incluir na lista o rock gaúcho, no que se refere a Cascaveletes, TNT e Garotos da Rua. E por falar no lado bairrista, música tradicionalista vai bem aos ouvidos. Se for o som ambiente de um churrasco, então, melhor ainda. Mas como eclético foi o primeiro adjetivo para o quesito, ainda tem Abba, Bee Gees e Rolling Stones, bandas ouvidas na infância, por ter a preferência dos pais.
Dessa época, a principal lembrança vem de Espumoso, claro. Com os amigos, Junior gostava das brincadeiras, do time de futsal da cidade, do clube, e toda essa liberdade típica de Interior. "Chegava em casa todo sujo e só ouvia da mãe: direto para o chuveiro. Comer fruta tirada do pé, bergamota, caqui, ariticum. Nossa, só recordações boas", diz, sorrindo feliz, como quem se transporta a este tempo.
Ler, um hábito vindo também de quando era criança, está entre as preferências, mesmo que a paternidade não permita a frequência que gostaria. Os dois últimos livros foram "O mundo mudou bem na minha vez", de Dado Schneider, e "O que é meu é seu - Como o consumo colaborativo vai mudar o seu nosso mundo", de Rachel Botsman e Roo Rogers. Também gosta de biografias e de leituras diárias, como jornal e Twitter. "Sou leitor voraz de informação factual. Tenho necessidade de saber o que está acontecendo no mundo", explica.
Gremista por herança
Entre os filmes, atualmente, assiste aos infantis, mas o título que mais o marcou, sem dúvida, foi "Um Sonho de Liberdade", de Stephen King. Na hora da gastronomia, como bom gaúcho, o churrasco está no topo da lista. E nem sempre é o assador, pois o que mais aprecia mesmo é o ritual: sair para escolher carne, espetar, fazer fogo, estas preliminares todas. No fogão, porém, não se arrisca muito, no máximo arroz carreteiro. Mas garante, tranquilo: "De fome não morro".
O esporte também atrai boa parte do lazer. Ser gremista é herança de família, e sobre isso diz que nem imagina como seria diferente. Sócio do clube tricolor, gosta de conversar sobre futebol e vai aos jogos sempre que pode. "O esporte como um todo dá ensinamentos para a vida. Ensina sobre o coletivo, a respeitar regras, ter hierarquia e disciplina, competir, ganhar e perder. E só nos damos conta disso mais tarde", reflete.
Aprendizado, aliás, é um aspecto prioritário na vida do jornalista, que acredita nas relações, na importância de conhecer pessoas, procurar se dar bem com elas, facilitar para os outros e trabalhar em equipe. Pessoalmente, vê os pais como referência, pois tem certeza que carrega características de casa - e são exatamente estas que sonha em passar para o Eduardo. Junior é um cara dedicado, comprometido, responsável e sincero, características que ele atribui a si mesmo. E explica: "Procuro ser o mais transparente possível com as pessoas, para que elas assim sejam comigo".

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