Vera Armando: um acaso que deu certo

Com disposição e carisma, a jornalista Vera Armando relata seus 36 anos de TV cheios de histórias, curiosidades e dedicação

Vera Armando | Divulgação
Por Gabriela Boesel
Loira, com estatura mediana, agitada e muito comunicativa. Assim é Vera Armando longe das telas de TV, onde atua há 36 anos. Nascida em Rio Grande, e com carreira consolidada em Santa Maria e, depois, em Porto Alegre, a apresentadora é publicitária de formação, pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e confessa que pouco atuou nessa área da Comunicação, embora faça uso de técnicas de criatividade para seu trabalho frente ao Jornalismo da TV Pampa.
A carreira de militar do padrasto foi decisiva na trajetória da profissional que teve de se mudar com a família para Santa Maria, quando tinha 17 anos, onde tudo começou. Mesmo com vontade de seguir na área da Comunicação, Vera nunca havia imaginado que seria apresentadora de televisão algum dia. "Foi tudo por acaso, mas eu sempre gostei de comunicação. Já iria rumar para o Jornalismo de qualquer jeito", lembra, e conta que desde criança era uma pessoa comunicativa.
Sem influências na família, trilhou o próprio caminho. Como referência profissional, lembra de um tio, Dinarte Armando, do qual cresceu ouvindo falar, mas nunca chegou a conhecê-lo pessoalmente. Locutor na Rádio Farroupilha e diretor de uma rádio no Rio de Janeiro, o tio foi o responsável por plantar a semente da Comunicação. "Foi ele que despertou minha curiosidade. Sempre me questionava: Por que admiram tanto ele?". Pois foi graças a esta admiração e curiosidade que Vera Armando se tornou uma comunicadora com mais de três décadas de experiências cheias de histórias e curiosidades.
Uma realidade muito distante
"Fazer TV era como fazer cinema. Era uma realidade muito distante, principalmente no Interior", lembra, ao contar que não havia planejado atuar em frente às câmeras. A revelação aconteceu em Santa Maria, quando, despretensiosamente, fez um teste para a RBS TV. A história, no mínimo curiosa, é a prova de que o destino bateu à sua porta. "Um dia estava passeando pelo centro da cidade e vi uma fila interminável. Várias amigas minhas estavam lá. Era um teste para trabalhar na TV. Acabei ficando com elas, conversando, até que chegou minha vez de participar", recorda.
O acaso deu certo. Aprovada, Vera mal sabia que o resultado daquele imprevisto seriam três décadas e meia de profissão. "Caiu de paraquedas", costuma resumir. E, em 1980, deu início à trajetória que contabiliza 10 anos de RBS TV - cinco deles em Santa Maria e os outros cinco em Porto Alegre -, breves passagens pelas TVE e TV Bandeirantes de Porto Alegre, e TV Cultura em São Paulo, até que recebeu o convite da família Gadret, da Rede Pampa. "Já são 23 anos de casa, passando por várias oportunidades, diversos programas, inclusive na rádio", comemora.
Dos desafios da carreira, acredita que os primeiros trabalhos em frente às câmeras foram os mais difíceis. "Nas primeiras vezes que entrei ao vivo eu pensava: "meu Deus, o que eu tô fazendo?" Era uma sensação de medo, quase pânico", recorda, acrescentando que, mesmo com essas dificuldades, nunca pensou em desistir. Com o tempo, explica que a naturalidade surge e tudo fica mais fácil. "Hoje me sinto muito à vontade no ar", confessa, e acrescenta que a maior realização na carreira é conseguir transmitir essa naturalidade para os entrevistados. "As pessoas ficam intimidadas em um estúdio de TV. Então temos que deixá-las tranquilas. E me dizem que eu consigo", comemora.
Entre as muitas histórias marcantes, uma tem um lugar especial na memória. Foi no começo da carreira, quando apresentava um telejornal. O convidado do dia era o músico Belchior, mas, sem ter a confirmação de que ele realmente participaria da entrevista, deixou a pauta na sala de produção e entrou no ar despreparada. "Do nada, o Belchior chegou no estúdio e eu não tinha as perguntas. Tinha que cumprir o tempo de entrevista e improvisar." E do improviso surgiu uma das pérolas que mais marcaram seu trabalho. "No meio da conversa eu fiz uma pergunta fazendo uma analogia a uma música que achava que era dele, e não era", recorda, aos risos, e acrescenta que hoje ri da situação, mas na hora "queria morrer".
A vida que se adapta à rotina
Sem conseguir pensar na possibilidade de parar, a comunicadora diz que não consegue imaginar o que pode vir pela frente, "pois não se sabe o que terá de novo na Pampa". A única certeza é de que estará atuando na área da Comunicação. "O caminho que minha empresa seguir, eu seguirei junto", pontua.
Mesmo com essas incertezas, de uma coisa ela é convicta: parar está fora de cogitação. "A gente muda a nossa rotina em função da programação, então a vida fica muito dinâmica", explica, e complementa dizendo que sempre conseguiu adaptar aos horários da TV e que "programa a vida em função do trabalho".
Com um dia a dia atarefado, ainda consegue dedicar parte do tempo a ações de voluntariado. Com atuação na ONG Via Vida, no Instituto do Câncer Infantil, e na Santa Casa, Vera Armando se preocupa em fazer o bem. "Paralelo ao teu trabalho, tu tens que eleger algumas entidades que tu considere íntegras para abraçar a causa", explica. Jantares anuais, doação de verba e tempo e participação como mestre de cerimônias são algumas das maneiras que a profissional encontrou para ajudar.
Por trás das telas
Faça chuva, faça sol, inverno ou verão, Vera está na academia. "É sagrado", como gosta de enfatizar. É assim que a apresentadora cuida da saúde, além de levar uma alimentação saudável e "sem doces". Mas no que se refere à comida, enfrenta um grande dilema, pois, para manter o corpo e forma, precisa se afastar dos pratos gratinados e da culinária italiana, seus preferidos. De segunda a sexta-feira, se limita a comer apenas carne branca, frango ou peixe, e deixa a carne vermelha para os finais de semana.
Clássicos da atriz norte-americana Grace Kelly estão entre os filmes preferidos. Já na esfera da literatura, não é tão exigente. "Eu vou nas prateleiras dos 10 mais vendidos e compro vários. Só não gosto de autoajuda", confessa. As obras "A Mágica da Arrumação" e "Toda luz que não podemos ver" são, hoje, seus livros de cabeceira.
Caseira, confessa que a insegurança da cidade a fez mudar os hábitos. O apartamento em Gramado foi vendido e a bicicleta que ela costumava pedalar na beira do Guaíba está na casa da praia. Colorada de coração, revela que ama futebol e assiste aos jogos e a programas esportivos, sempre acompanhada de um balde de pipoca no sofá de casa. Ir ao estádio é uma atividade que se limita às partidas de menor importância, para evitar o movimento e a insegurança.
Como se não houvesse amanhã
Casada há 11 anos com o empresário e turismólogo aposentado Luis Fernando Sodré, Vera Armando e o marido optaram por não ter filhos. Garante que a correria do dia a dia na TV e a convivência com os enteados preenchem essa lacuna. Confessa que, antigamente, se tivesse a mentalidade que tem hoje, certamente teria sido mãe, mas não se arrepende de ter doado seu tempo à profissão. "Às vezes eu sinto falta, mas minha vida foi muito atarefada, dedicada sempre ao meu trabalho", fala, e adiciona que as responsabilidades e a independência chegaram muito cedo na sua vida.
Com a morte do pai, Marcos Armando, quando tinha apenas 12 anos, precisou encarar desafios de gente grande ao lado da mãe. No mesmo ano, a irmã mais velha também faleceu. "Foi muito difícil. Amadureci muito cedo com isso, pois tive que deixar de lado a inconsequência da pré-adolescência e assumir novos papéis", lembra.
O acidente que levou a irmã, no dia 23 de dezembro, trouxe outras consequências. Natal e Ano Novo, por muitos anos, deixaram de ser comemorados. "Isso te endurece, tu perde a alegria infantil e passa a trabalhar outras coisas na vida. Sou uma sobrevivente nesse sentido. Emocionalmente, eu sobrevivi a essas perdas fortes", conta, comovida.
As perdas no passado não encobrem as lembranças de uma infância feliz na Praia do Cassino, junto ao mar e aos amigos. Com orgulho, conta que a relação de amizade se mantém até hoje. Tem um grupo no Facebook, o "Gostinho de Infância", com todos os amiguinhos de Rio Grande. Mesmo na Capital há três décadas, não perdeu o costume de visitar a praia onde nasceu e cresceu, e as férias se dividem entre Punta del Este, no Uruguai, e Praia do Cassino.
Vera visita a mãe, Neyda Armando, que mora em Santa Maria, sempre que consegue escapar da rotina profissional. As visitas da mãe são mais frequentes, principalmente depois que o padrasto Rubens Araújo faleceu, há um ano. "Com todos esses acontecimentos, eu e minha mãe nos aproximamos bastante. Temos uma relação muito próxima", revela, ao mostrar que o carinho é transmitido, inclusive, pela ferramenta WhatsApp. "Falamos todos os dias, e a tecnologia facilitou e nos aproximou ainda mais".
A fé se tornou uma companheira inseparável. Se diz cristã, mas acrescenta que não tem uma religião que a define. Adepta do Espiritismo, adotou também alguns princípios da igreja Católica, e se tornou admiradora do Papa Francisco. "Não sei se tem uma igreja que eu fecharia 100%, e nem sei se isso existe. Sou cristã e tenho fé. Se eu não tivesse, não estaria aqui, pois minha vida foi acompanhada de perdas e mortes", explica.
Vera carrega outra crença. Com o lema "amar como se não houvesse amanhã", procura não economizar afeto e carinho "porque a vida é muito passageira. Cada vez pode ser a última que tu estás vendo aquela pessoa na tua frente". E ela é mesmo assim, cheia de abraços e sem medo de expor seu jeito alegre, seja para quem for. "Sou uma pessoa carinhosa. É assim que eu me defino."

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