Eugênio Lumertz: Sem desistir de sonhar

No mercado publicitário há 25 anos, Eugênio Lumertz atribui a realização profissional às escolhas que fez pelo caminho

Publicitário Eugênio Lumertz | Divulgação
Por Márcia Christofoli
Quando estava no Ensino Médio, Eugênio Genz Lumertz - alemão de pai e mãe, como brinca - se saía bem nas aulas de redação, tinha facilidade com textos, palavras e temas diferenciados. Aos poucos, as qualidades deram certeza do que faria e, por isso, se inscrever no vestibular da Ufrgs, em 1987, não foi um problema, pois sabia que cursaria Publicidade e Propaganda. Membro-fundador do Grupo de Planejamento do Rio Grande do Sul, o diretor de Inteligência da agência Moove considera que atuar com planejamento de forma profissional faz com que as práticas sejam levadas à vida pessoal. "Não há como separar, só acho que acontecem de formas diferentes", reflete.
Ter na bagagem cerca de 25 anos de mercado faz do publicitário, especialista em Marketing pela ESPM, se sentir um profissional realizado, especialmente por gostar muito do que faz e pelas amizades conquistadas durante a trajetória. E pondera que nunca teve o sonho de largar tudo para viver em uma pousada no Campeche, brincadeira utilizada para frisar que ainda há muito para ser feito. "O que me importa é estar em constante aprendizado. Não parar, não me acomodar", ressalta, reforçando que fazer planos é sempre necessário.
Para Eugênio, o planejamento é fundamental para que se saiba como alcançar os sonhos com os recursos que se tem - além de buscar novos. "Não penso assim apenas pelo lado financeiro, pois realização não precisa estar diretamente ligada a ganhar dinheiro, mas com a capacidade de fazer com que as coisas aconteçam. Essa deve ser nossa missão diária", ensina.
Vivendo e aprendendo
Em 2013, a esposa Maria Cristina foi aprovada em um concurso para ser professora no curso de Farmácia na Universidade Federal de Pelotas. Ela e o filho do casal, Théo, de sete anos, mudaram-se para o Interior e a alteração na rotina da família fez com que Eugênio passasse muito tempo indo e voltando para Porto Alegre, o que o fez refletir sobre como poderia desenvolver seu trabalho. Foi quando se dedicou a trabalhar em home office, em Pelotas, como consultor de Comunicação para diversas agências. "Foi um período de muito aprendizado. Trabalhar assim exige muita disciplina e planejamento de horários", conta.
Foi também dessa experiência que surgiu a ideia de atuar em duas frentes: abriu a RTZ Marketing (uma referência ao final do seu sobrenome, que sempre precisa soletrar), focada em consultoria de Comunicação e Planejamento; e a Slide of Life (alusão à expressão "Slice of Life"), voltada exclusivamente para apresentações institucionais, novos projetos e propostas de patrocínio. Se tem algo que aprendeu com a experiência de trabalhar em casa é que, mesmo estando conectado com todo mundo, nada supera o contato olho no olho, a convivência com colegas e clientes. "Isso nos qualifica ainda mais e oxigena nossas relações", analisa.
Nessas andanças, a Moove foi uma de suas clientes, ou seja, o primeiro passo até chegar o convite para atuar integralmente na agência. "Não queria fazer o mesmo que sempre fiz, queria algo mais abrangente, que envolvesse processos internos, contato com clientes e prospecções." Dito e feito. Hoje, o publicitário considera que o cargo é desafiador e, garante, se entusiasma com isso. "Não faz muito que li um texto (https://goo.gl/zTd72F) que comparava a questão dos departamentos de uma agência às especialidades médicas. E percebi que faltava um clínico geral que pudesse fazer um filtro e encaminhar para os devidos especialistas", compara.
De diversos segmentos
Desde que entrou na faculdade, almejou trabalhar em agências, mas o início da carreira não foi assim. É que Eugênio atuou ao lado de Clóvis Duarte, na extinta TV Guaíba, quando este comandava o programa Comunicação. O coordenador da atração era Eduardo Axelrud, cargo que assumiu um ano depois. "Tive uma grande oportunidade, foi outro baita aprendizado", orgulha-se. Depois de breves passagens por agências menores, chegou à extinta Nova Forma, onde costuma dizer ter passado toda sua geração de redatores, e também à Competence, onde teve "o prazer de trabalhar com Martha Medeiros", quando era diretora de Criação.
Ainda no início dos anos 1990, entrou para SLM, sua casa por cerca de duas décadas. Segundo ele, já lhe perguntaram o motivo de ter ficado tanto tempo na mesma agência, fato considerado raro no mercado publicitário. Sua resposta está mais ligada aos clientes: "Pude trabalhar com os mais diversos segmentos. Desde criança fui muito curioso, e ter esse contato com o negócio dos clientes e aprender um pouco sobre tudo é o que mais me move".
Começou como redator, migrou para o Planejamento e também acumulou a função de diretor desta última área e de Criação. Atendeu Souza Cruz, com imagem institucional, tendo contato com os produtores de tabaco. O mesmo aconteceu com a Gerdau, onde, passando por dentro da siderúrgica, queimou a sola do sapato, por causa do metal incandescente. "Essas curiosidades me encantam até hoje", recorda.
Orgulho e paixão
Trabalhou ainda com o Grêmio durante os anos 90. Mexer com paixão exige muitos cuidados, destaca, porém, garante que é menos engessado. Para o publicitário, esses aprendizados multidisciplinares o faziam mergulhar cada vez mais na área de Planejamento. Além disso, conheceu muitos profissionais que se tornaram seus amigos, quando cita Luciano Leonardo e Gilson Storck, pessoas que admira até hoje. "Sempre me preocupei em não ficar tanto tempo em um mesmo lugar, se este não me proporcionasse algo diferente. Não foi o caso", diz.
Teve ainda uma espécie de pausa na SLM, quando saiu por volta dos anos 2000 para trabalhar com o projeto de Coletiva.net. "Lembro que as notícias eram enviadas a um mailing através de fax. Fiz a parte de consultoria de projeto, treinamento, enfim, algo bem diversificado", lembra, ressaltando que o melhor dessas experiências foi ter participado de ações com grandes impactos em seus clientes.
Um deles foi o último ano do Grêmio no estádio Olímpico, com a missão de desenvolver algo que abrilhantasse a nova casa, sem esquecer a despedida da antiga. "Foi um ano muito intenso, com ações bem planejadas. O mais legal foi que o público realmente se engajou. Isso me orgulha muito", comemora, saudoso. No final do ano, o projeto recebeu o prêmio de melhor case na categoria de Clubes, o mais bem pontuado e o escolhido pelos jurados, no Top de Marketing. "Até hoje, foi o único case a ganhar três distinções na mesma noite", exalta.
Informação, um vício
Nascido em 1970, Eugênio é o caçula de duas irmãs. Filho do comerciante aposentado Mário e da dona de casa Norma, atribui aos pais o hábito de ler muito, primeiro pela quantidade de livros em casa, depois porque a mãe tinha paciência de passar todos os dias em uma banca para comprar fascículos, encadernar os volumes e completar sua enciclopédia. "Levou dois anos para isso", conta, sorrindo, e completa: "Sem falar nas histórias em quadrinhos que me presenteava e revistas que circulavam na minha casa". Dos livros especiais, ele cita "Fazer Acontecer", do publicitário Júlio Ribeiro, como um título que ajudou a definir sua carreira e a visão de publicidade.
Ávido por informações, admite que, hoje, prefere textos jornalísticos. Por isso, está sempre lendo artigos, notícias, opinião e compartilhando informações. Esta, aliás, é considerada sua mania: consumir informação, motivo que justifica o tempo que passa ao celular, com necessidade de saber o que aconteceu nos últimos cinco minutos. Também gosta de assistir a seriados e o melhor de todos, na opinião dele, é Breaking Bad, mas o do momento é The Walking Dead. "O que mais gosto nesses casos é analisar como o ser humano sobrevive no meio do caos", reflete. Sobre filmes, tem visto muitas animações com o pequeno Théo, mas pondera que não há nada que não assista.
Entre as lembranças de infância, cita a liberdade de jogar bola na rua, no bairro Moinhos de Vento, com os amigos. E entre recordações, exalta que o pai lhe tenha inspirado a "fazer de tudo em casa". Até hoje, seu Mário mantém uma garagem que é quase uma oficina. "Isso significa que aprendi a resolver as situações com os recursos que se tem, e não ficar reclamando que a falta deles me impede de fazer um bom trabalho. É necessário criatividade. Em tudo", analisa.
A experiência da paternidade enche de brilho os olhos azuis. Eugênio entende que a fase que está vivendo com o herdeiro é de muitas descobertas. Sempre que podem estar juntos - apenas nos finais de semana - brincam de lego e jogar futebol. "Ele é muito parecido comigo fisicamente, daqueles que, quando nasce, as pessoas dizem que nem precisa de teste de DNA", comemora, entre risos orgulhosos. Sobre a esposa, com quem está casado há nove anos, também não poupa elogios, dizendo que Maria Cristina é uma fantástica companheira. E completa: "Vencemos muito na vida, e acho que a parceria de um casal é superimportante para que dê certo".
Entre churrasco e sushi
Gremista de coração, ele foi criado no Olímpico, levado pelo seu pai, sentando no cimento, com radinho de pilha no ouvido. Como era de se esperar, passou a paixão tricolor para Théo, e avisou a esposa que o resto ela poderia escolher, mas o time, não! Na parte musical, admite estar influenciando o menino aos poucos. Ao perceber que ele gostava de ouvir muitas músicas apreciadas pelo pai, fez questão de criar uma playlist no Spotfy para o pequeno, com Aerosmith e Offspring, por exemplo. Aos ouvidos do publicitário fazem bem bandas como Depeche Mode, Echo and the Bunnymen, The Cure, The Smiths, e outras dos anos 80, mas ouve também formações mais recentes, como The Killers, The Strokes e Kaiser Chiefs.
Como bom gaúcho, adora churrasco, inclusive comanda os espetos, mas tem outra gastronomia que ganha sua preferência: a japonesa. Gosta tanto que, além de degustá-la ao menos uma vez por semana, fez curso para aprender a preparar sushis e quetais. A única ressalva é que o público deve ser de até quatro pessoas. "Uma vez inventei de fazer para umas oito, passei cinco horas na cozinha e praticamente não comi. Nunca mais reclamei do preço do sushi, pois sei o trabalho que dá", conta, aos risos. Ver Eugênio na cozinha não é raridade, mas confessa não ser tão íntimo do fogão quanto gostaria. "Apenas me viro muito bem e também gosto de cozinhar junto com a minha esposa", explica.
Ao lado da família, gosta de viajar, especialmente se o destino for Santa Catarina e praias tranquilas como Ibiraquera. "Quanto menos gente no local, melhor para nós, pois nesses momentos de férias gostamos de curtir a tranquilidade, a natureza." A calmaria na vida de Eugênio é tão presente que o faz ser um cara distraído. Sobre a característica, ele conta que, quando criança, visitava um hotel ao lado da família e, ao final do passeio, deram-se conta de ter "perdido" o menino. Encontraram-no bem tranquilo, sentado em um dos quartos, lendo uma revista que encontrou pelo caminho. "Isso me atrapalha um pouco, mas, na verdade, atrapalha mais aos outros", ri.
Mesmo com ar sereno, visível mesmo que em uma conversa de cerca de uma hora, Eugênio pode ser considerado alguém que não gosta de ficar na zona de conforto. Sempre em busca de novos aprendizados, diz não se cansar disso nunca, pois patrimônio intelectual é o que considera de mais valioso na vida. Além disso, se considera sincero, dá valor à amizade e à lealdade, busca ser feliz acima de tudo e quer a realização profissional e pessoal sempre. O que faz para isso? "Busco realizar coisas novas, sem desistir dos nossos sonhos. O que me move é estar sempre em movimento", conclui.

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