Giane Guerra: Intensa na sua essência

Especialista em Jornalismo Econômico, Giane Guerra está sempre em busca do melhor, porque meio-termo não é com ela

 

Giane Guerra | Divulgação

Giane Guerra | Divulgação


Por Gabriela Boesel
Voz imponente e postura de bailarina. Essas são as primeiras impressões que Giane Guerra passa a quem recém a conhece. O tom firme vem desde cedo, quando, já na faculdade, colegas e professores diziam que a futura jornalista tinha jeito para o rádio. O porte é resultado dos 15 anos que dedicou à dança, sua maior paixão, mas que, em função da profissão e da maternidade, precisou deixar de lado. Mas garante que pretende voltar o quanto antes.
Especializada em Jornalismo Econômico, a filha mais velha dos bancários aposentados Herondino e Guiomar Guerra diz que o gosto pela área surgiu ainda na infância. Em casa, já ouvia os pais falarem do tema e costumava ler as revistas sobre economia das quais tinham assinatura. "Eu via uma relação entre as reportagens sobre finanças e o que acontecia na minha casa, então eu lia as matérias e acompanhava as notícias. Meus pais sempre gostaram de se informar", lembra, e diz que, possivelmente, este tenha sido o motivo pelo qual optou pelo Jornalismo.
Apaixonada pela profissão, ninguém diria que, no segundo grau, fez técnico em Química. Formação que é facilmente explicada, já que, mesmo atuando na área das humanas, sempre gostou e se deu bem com as exatas, tanto que se especializou na editoria de Economia. Formada pela Famecos, da PUC, conta, também, com diploma de Direito pela mesma instituição de ensino, MBA em Finanças em São Paulo e Pós-MBA em Estratégias de Negócios nos Estados Unidos. Insaciável por conhecimento, como se autodefine, Giane acredita na premissa de que, "para se especializar em alguma coisa, é preciso entender".
Uma rádio: várias histórias
Quando começou no Jornalismo, não imaginou que seu destino seria o rádio e que as aulas de estúdio na faculdade seriam um ensaio para o que se tornaria sua profissão de fato, e que já soma 15 anos à frente dos microfones. A entrada no Grupo RBS se deu pelas portas da CBN, onde foi estagiária na editoria de Geral. Depois, foi contratada como redatora, fez a produção do Gaúcha Repórter que, na época, era apresentado por Lasier Martins. Quando assumiu como repórter, foi desafiada pelo gerente-executivo de Jornalismo da Rádio Gaúcha, Cyro Martins, a fazer economia em rádio. Pessoa a quem dedica grande parte de seu aprendizado.
Junto ao início da trajetória profissional, veio de brinde o começo de uma relação, pois foi na emissora que conheceu o marido e também jornalista Jocimar Farina. Ambos estagiários na época, Giane conta que foi amor à primeira vista. "Nos apaixonamos logo no início", lembra com carinho e uma pitada de orgulho, por terem conseguido sustentar o relacionamento até hoje. Casados há 14 anos, gosta de enfatizar que este contato intenso tanto em casa quanto no trabalho, fortalece a cumplicidade do casal. "Quando ele não está na redação, eu sinto falta", revela, e acrescenta que os dois gostam de debater assuntos da profissão, pois "confia muito no que ele diz, e vice-versa. Tem muita bondade e muita boa intenção entre nós", explica, sem esconder o brilho no olhar. Inclusive, conta que, juntos, já ganharam prêmios e fizeram séries de reportagens.
O marido faz dessas as suas palavras, e prefere resumir essa relação em uma sentença: "É uma parceria que extrapolou os limites do trabalho e invadiu nosso relacionamento", declara, e acrescenta que já têm o hábito de dividirem os mesmos espaços. "Nos acostumamos a estar sempre juntos. É muito bom poder contar com uma pessoa assim, que tu nem precisa mais falar, basta olhar para o lado e saber que tu tens com quem contar", complementa.
Com tantas histórias curiosas que aconteceram na emissora, uma delas tem um lugar reservado na lembrança. Foi no banheiro da rádio, pouco depois de fazer a abertura do programa Chamada Geral, que descobriu que estava grávida do segundo filho, Gael, hoje com um ano. "Eu estava sentindo um enjoo estranho e pedi para o Jocimar comprar um teste de gravidez. Entrei no ar e fui fazer o teste. Quando voltei, anunciei para ele na própria ilha de áudio", recorda. "Nossos filhos são filhos da rádio".
Sem meio-termo
As qualificações que sustentam seu currículo são resultado dos ensinamentos dos pais, que diziam que, independentemente da área de atuação, é preciso ser sempre a melhor. "Lá em casa minha mãe falava: "se está fazendo alguma coisa, tem que estar entre os melhores", e é nisso que eu acredito", enfatiza. Premissa que leva para todos os âmbitos, entre eles a maternidade. "Sou fã da maternidade visceral, tento estar com meus filhos em todos os rituais da noite, como janta, por exemplo", explica, ao mesmo tempo em que diz que tudo o que faz, faz intensamente. "A gente não pode fazer o que dá, a gente tem que fazer o que tem que ser feito", acredita.
Jocimar, além de confirmar essa característica da esposa, acrescenta mais algumas, pois, para Giane, o marido só tem elogios. "Ela é uma pessoa organizada, dedicada, responsável e justa. Tanto como mãe, esposa, amiga e profissional", enfatiza e garante: "Se ela coloca a mão, dá certo, porque ela faz dar certo", diz, com orgulho.
Além de Gael, o casal tem Atena, de três anos. Planejada, a vinda da primogênita aconteceu em um bom momento. "Eu já estava formada em Jornalismo e em Direito, e com um bom emprego. Estava cursando Economia, mas sem a obrigação de me graduar, então, quando a Atena veio, pude parar a faculdade sem me preocupar", relata a jornalista.
Mesmo que em um futuro distante, Giane já planejou o discurso caso os filhos venham a seguir os mesmos passos profissionais dela e de Jocimar. "Vou aceitar e orientar. Jornalismo é difícil como qualquer outra profissão, mas é a mesma regra dos meus pais: o que quer que escolham, têm que estar entre os melhores", enfatiza.
Conhecimento compartilhado
Em casa, quem comanda a cozinha é ela, já que gosta de preparar o almoço dos filhos. Conta que, inclusive, foi por causa dos pequenos que ela e o marido mudaram os hábitos alimentares da casa, com a proposta de retomar antigas tradições familiares. "Eu sou uma profissional, tenho meu trabalho, mas cozinhar um feijão não vai me arrancar os braços", salienta. "Eu adoro, não é um sacrifício. Faz bem para eles, me faz bem e está feito o ciclo", completa.
Como não poderia ser diferente, Giane se envolve tanto com essa questão que compartilha seus conhecimentos através do blog "Natureba", criado em maio deste ano. "É um conhecimento que tu não consegues não compartilhar", expõe. Afinal, dividir experiências e informação é o que move a jornalista, cujo objetivo enquanto comunicadora é alertar as pessoas sobre coisas que elas não sabem.
Responsável pela coluna " Acerto de Contas" do Diário Gaúcho desde outubro de 2013, Giane se diz maravilhada com a oportunidade de poder falar sobre economia popular e levar notícias importantes de economia para o público do impresso. "É um desafio bárbaro, sem falar no retorno do leitor do DG", acrescenta. Além da rádio, do blog e do jornal, a profissional se diz uma entusiasta das redes sociais e revela que adora esse novo tipo de Jornalismo, que se posicionou como mais uma maneira de levar informações ao público. "Meu objetivo é fazer com que minha informação chegue no meu público, não importa como. Ele tem que receber a notícia do jeito que preferir. Não quero obrigar que o leitor leia em tal lugar, quero que ele leia onde ele acha melhor para ele", defende.
Uma guria do interior
Mesmo com pinta e jeito de porto-alegrense, Giane passou sua infância e adolescência na cidade vizinha Gravataí. E é de lá que traz as principais lembranças. Com nostalgia, conta que adorava a rotina de cidade do interior, de ir de bicicleta na casa dos amigos, de sair do colégio e ir a pé para o banco, onde os pais trabalhavam para esperá-los. "Lembro do barulho da impressora matricial, de brincar com clipes e borrachinha de dinheiro. Eu era a mascote dos colegas deles", recorda. A Capital surgiu na vida da jornalista somente aos 18 anos, quando se mudou para ingressar na universidade. E de onde não pensa em sair.
Se aposentar para viajar não está entre os planos da jornalista, afinal "viajar não é para o futuro, é para agora". Tanto não abre mão desse lazer que, quando Atena tinha apenas um ano de idade e estava grávida de Gael, rodou três mil quilômetros no Chile. "Não penso em viajar sozinha, sem os meus filhos. Inclusive, planejamos para qual destinos vamos de acordo com as idades deles", diz.
Para o futuro, a única certeza que tem é de que quer, um dia, cuidar dos netos como sua mãe cuida dos seus filhos. "Dentro das minhas crenças de maternidade visceral, isso é uma das coisas que a família tem que resgatar. Ter a presença familiar nos primeiros anos de vida da criança faz parte da formação da pessoa", acredita.
Apegada a vários princípios, Giane faz questão de que a casa esteja sempre em harmonia. Busca dar e ter apoio, para compensar os dias mais difíceis. "Quero chegar em casa e relaxar, quero saber que no meu lar tem apoio e não maldade e falsidade", diz, e acrescenta que esse tipo de comportamento reflete nos pequenos. "As crianças são esponjas. Para ter filhos amorosos, temos que ser amorosos também, porque eles se espelham na gente", comenta.
Intensa na sua essência, Giane se considera uma pessoa muito dedicada e focada. "Meio-termo, meia-boca não é comigo. Coisa mais ou menos me incomoda. Ou tem que ser certo ou não é para ser". Para contrabalancear essa veemência, adotou uma frase que tenta lembrar todas as vezes que a situação complica: "Calma, toma um mate, come umas bergamotas e não loqueia. Nem tudo merece tua intensidade".

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