Flávio Faveco Corrêa: Um eterno aventureiro

Nome de destaque na publicidade brasileira, Flávio Faveco Corrêa garante que sua essência está na profissão que herdou do pai, o Jornalismo

Flávio Faveco Corrêa | Divulgação
 
Por Karen Vidaleti
Na certidão de nascimento, ele é Flávio Antônio Artur Oscar Alcides Corrêa. No mercado de comunicação, Flávio "Faveco" Corrêa. Homem de fala e gestos fortes, opiniões claras, memória vigorosa e história incomparável. Jornalista, publicitário e empresário, construiu uma trajetória que inclui algumas agências de propaganda do País e do mundo, participou ativamente do processo de autorregulamentação do mercado na década de 1990 e tornou-se um líder de referência na publicidade brasileira. Hoje, é sócio-fundador da BrandMotion, consultoria empresarial sediada em São Paulo.
Com o exemplo do pai, o lendário jornalista e professor Ernesto Corrêa - que deixou sua marca na história da Imprensa gaúcha -, o caminho de Flávio não poderia ser muito diferente. Como fotógrafo, ele deu os primeiros passos na vida profissional aos 14 anos, no Diário de Notícias, passando, em seguida, a redator, repórter e colunista. E foi através da página "Gente Nova faz Notícia", que se tornou conhecido o apelido de infância, Faveco - criado pelo irmão mais velho Paulo Sérgio, o Paloca -, que o acompanharia por toda a carreira.
Flávio ainda trabalhou no vespertino A Hora e, em 1959, trocou a imprensa escrita pela televisiva, partindo para a recém-inaugurada TV Piratini, onde atuou na redação e produção de noticiários e programas, e também conheceria a propaganda. "Os publicitários subiam o Morro Santa Teresa de carro e me pediam que redigisse algumas linhas. Eu ganhava um "cabritinho" e continuava andando a pé. Pensei: tem algo aí que preciso experimentar. E foi assim, muito mais pelo estômago do que pela imaginação, que entrei para a publicidade", sintetiza.
Guri da Cidade Baixa e do mundo
Ao lado do amigo Carlos Schneider e Luiz Augusto Cama, Faveco criou a Sociedade Gaúcha de Promoções e Publicidades (Sogap), e, mais tarde, a equipe assumiu a tarefa de erguer a filial da Denison Propaganda em Porto Alegre. No dia 1º de abril de 1964, a nova agência entrou em operação, atendendo a contas significativas como GBOEX. O desempenho à frente da empresa ajudou a conquistar prestígio no mercado, chamando a atenção da Standard Propaganda. E não demorou para que Faveco ganhasse uma nova missão. "Começamos ali uma jornada de retomada da agência, que acabou se tornando uma grande escola da comunicação", define.
Com a Standard, mudou-se para São Paulo e, desta vez, o trabalho com a marca Shell, conta disputada à época, atraiu o grupo inglês Ogilvy & Mather, que buscava ampliar mercados no Brasil. "Virei, surpreendentemente, o presidente da Ogilvy. Eu, guri da Cidade Baixa (bairro de Porto Alegre), que não falava nada de inglês", confessa. A saída foi arriscar e "arranhar" as primeiras palavras. "Acompanhava muito a BBC de Londres e até cantarolava, como fazia com os boleros na época em que era mais malandro do que sou hoje. Descobri que deveria aprender com o objetivo de comunicar, sem a intenção de falar como nativo", resume. Obstáculo superado, hoje Faveco fala inglês e espanhol fluentemente e conhece bastante dos idiomas italiano e francês.
Além de eleito presidente da Ogilvy para a América Latina e o Caribe em 1987, Faveco tornou-se, dois anos depois, membro do comitê executivo da Ogilvy & Mather, com sede em Nova Iorque, o que o levou a atuar nos cinco continentes e responder por contas de marcas globais como Unilever e Philips. Ainda foi chairman para a América Latina da Results International Consulting, consultoria multinacional sediada em Londres e especializada no setor de marketing e comunicação. Na volta ao Brasil, em 1998, a carreira seguiu na propaganda, seja como presidente da Propeg, conduzindo a própria consultoria de comunicação ou ocupando o posto de presidente executivo nacional da Associação Brasileira de Publicidade (Abap), em 2001.
Senso comunitário
Mas a trajetória em veículo de comunicação não ficou restrita às primeiras experiências. Corria 1971 quando, junto com Walmor Bergesch e José Salimen Júnior, Faveco cometeu o que chama de "uma aventura": comprar 50% da TV Record, em São Paulo, com o apoio de Jorge Gerdau Johannpeter. O objetivo era criar "a primeira e verdadeira rede brasileira de televisão". O negócio durou cerca de um ano e, apesar de curto, o tempo é apontado como de muito conhecimento. "Aprendemos muito ao trabalhar com Paulo Machado (dono da rede de televisão, já falecido), personalidade nacional e figura maravilhosa. Fiz muitos amigos, alguns me transformaram para sempre, outros me acompanham até hoje. Foi um período muito rico no campo pessoal, mas não no financeiro", brinca.
Faveco ainda fez parte do Departamento Comercial do SBT em 2002, de onde saiu para integrar sociedade da Hollywood Movie Magic Brasil, multinacional do setor de promoção de vendas com cupons de entrada de cinema, e entrou para o segmento de feiras com a Brazil Trade Shows, empresa, que, posteriormente, foi vendida. Como jornalista, voltou às telas como apresentador do programa de entrevistas Sala VIP, na rede CNT, e assina ainda hoje artigos para diversas publicações do País. Há cerca de 10 anos, se dedica à consultoria estratégica voltada ao mercado de fusões e aquisições. "Achei que havia chegado o momento em que o maior capital que eu tinha a oferecer era o meu conhecimento", justifica.
A contribuição para entidades de comunicação e outros setores é outro marco na carreira de Faveco, que foi presidente e membro do Conselho Superior da Federação das Associações das Agências de Publicidade do Mercosul (Faap), integrante do Conselho Deliberativo da ADVB, presidente da Fundação Cultural Exército Brasileiro, e membro fundador do World Presidents Organization (WPO), entre outros. "Sempre tive um lado comunitário. Gosto de me dedicar a causas não específicas da profissão", explica.
Lembra que assumiu a presidência executiva da Abap no momento em que houve a desregulamentação do mercado publicitário no governo Fernando Henrique Cardoso, criando um cenário de incertezas para as agências e desestabilizando o setor, uma vez que as empresas deixariam de ter garantias de ganhos preestabelecidas. "Fui eleito presidente e recebi a tarefa de devolver ao mercado a vitalidade daquele ambiente. Eu e o Gilberto Leifert, da TV Globo, que era vice-presidente, tivemos que reconstruir esse sistema, conversando com veículos e anunciantes e criando um novo código, que restabelecesse as bases de uma forma consensual", recorda.
Herança e legado
O nome longo - Flávio Antonio Artur Oscar Alcides Corrêa - reúne uma série de homenagens. O primeiro faz alusão ao Coliseu, conhecido como teatro Flávio; depois, lembrança de Santo Antônio, a quem a mãe, Maria Isabel, era devota; e os demais aos avós. Ele explica: "Me contaram que meus pais esqueceram de colocar nos filhos os nomes dos avós, então, como eu era o último, colocaram em mim, com a ideia de que eu pudesse escolher um deles para usar futuramente. Um engano, porque o código brasileiro permite trocar apenas o sobrenome", esclarece.
O pai, Ernesto Corrêa, por 43 anos dirigiu o Diário de Notícias, principal concorrente do Correio do Povo entre os anos 1920 e 1970. Nascido em Porto Alegre, em 1935, Faveco se orgulha de ter herdado a profissão de jornalista e reconhece que ela está no sangue da família - os irmãos Paulo Sérgio, o Paloca, e Fernando Ernesto também deixaram suas marcas no mercado de comunicação, sendo o último até hoje acionista do Grupo RBS. Lamenta apenas, por conta de uma doença, não ter concluído a faculdade de Jornalismo na Ufrgs, curso do qual o pai foi um dos fundadores e lecionou até os 70 anos.
Apesar de toda a representatividade conquistada com sua atuação no mercado publicitário, Faveco garante que sua essência está em outro ramo da comunicação, aquele que respira desde a infância e através do qual deu seus primeiros passos como profissional. "Tenho o Jornalismo como um micróbio na minha veia. Sempre adorei ser publicitário, mas, se me perguntar qual é a minha profissão, respondo: sou fundamentalmente jornalista", ratifica, acrescentando: "Essa é a minha única profissão registrada, embora minha formação seja profissional".
Pai de Luciano, 50 anos, e Cristiano, 45, Faveco revive a experiência inicial da paternidade com a filha Maria Isabel, de 11 anos, fruto do casamento com a advogada Rubiane Corrêa. A pequena, que traz no nome uma homenagem à mãe de Faveco, é razão de encanto. "Maria Isabel é a estrelinha do meu entardecer. Todo momento que posso passar com ela é um presente para mim", afirma. É ela quem o acompanha na escolha das obras para leitura. "Hoje, as crianças raramente gostam de livros. Ela vai à livraria comigo, gosta muito de mitologia e até me ensina o que aprendeu", orgulha-se.
Consciência social
A sede por informação, argumenta ele, é seu único hobby, alimentado desde a infância com as coleções da Livraria do Globo, dados pelo pai. "Tenho uma curiosidade juvenil e quase infantil, uma enorme vontade de saber mais. Hoje, com essa infinidade de informações ao vivo, em que qualquer acontecimento é registrado, minha preocupação é muito grande com fatos políticos", relata, ao lembrar que atualmente assina artigos para diversos veículos, entre eles, o site Diário do Poder, do jornalista Claudio Humberto. "Mas como santo de casa não faz milagre, nenhum deles é do Rio Grande do Sul", brinca.
O empresário, que por duas vezes quase se candidatou a cargos políticos, acompanhou diversas mudanças no cenário socioeconômico do País. Acostumado a expor em palestras e conferências suas percepções não só sobre publicidade, mas também sobre o ambiente político, editou em 2010 o livro "Curto e Grosso", publicado pela Geração Editorial, que traz pensamentos sobre o País a partir da visão do publicitário, que se autointitula "politicamente incorreto". O senso crítico e a preocupação com o destino da nação seguem ativos. "Passei por inúmeras crises, mas essa atual me aparece a mais complexa, do ponto de vista de fatos econômicos, políticos e éticos, o que me deixa bastante perplexo sobre o tipo de nação que temos e como vamos construir o Brasil do futuro", reflete.
A falta de ética e a corrupção escancaradas atualmente são motivos de grande incômodo.   Já a lealdade é uma característica valorizada por ele. "A presença ou a ausência dela é o que define uma pessoa. É como uma obrigação, um componente essencial a qualquer um", argumenta. Faveco reconhece a carreira como um caminho construído a partir de uma mistura do próprio esforço com a ajuda de amigos que lhe deram o voto de confiança, e não tem a pretensão de encerrá-la tão cedo. "Tenho uma lista de coisas a fazer e a cada dia adiciono mais. Quero trabalhar mais 40 anos, fazendo o que puder", projeta. A mesma crença que o acompanhou até aqui é também a mensagem que deixa aos profissionais de hoje. "Fama, sucesso e dinheiro são subprodutos de algo que fazemos melhor que os outros. Faça o melhor", conclui.

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