Aline Moura | Crédito: Vini Dalla Rosa
Por Cinthia Dias
Trajando um vestido azul-marinho, um lenço estampado de cetim, delicadamente amarrado no pescoço, e calçando um par de botas pretas de cano alto até os joelhos, Aline Moura abre a porta da Faro Comunicação com um belo sorriso. Orgulhosa, como uma adolescente que recém encontrou seu nome no listão dos aprovados no vestibular, mostrou dois quadros na parede. Ambos retratam seu pai, o jornalista Nelson Moura, trabalhando nas redações da Folha da Tarde e do Departamento Estadual de Estradas e Rodovias (Daer), onde conquistou o título de primeiro jornalista concursado do setor. "Ele tem histórias incríveis. Devo essa entrevista a ele e esse perfil é uma homenagem à pessoa que Nelson Moura representa para os colegas e familiares", iniciou.
Apesar da rotina agitada, a filha caçula de Ana Teresinha valoriza, cada vez mais, o convívio com os pais, os irmãos Ana Lúcia, Adriane e André, as sobrinhas Bruna, Clara e Giovana e o afilhado Heitor - cujo nome é uma dedicatória ao tio paterno, que jogou no Grêmio. O comportamento é reflexo dos ensinamentos do Seu Moura, que, mesmo aos 85 anos, segue lúcido e comandando a prole. O carinho é tanto que, após o fim de um casamento que durou mais de uma década, a jornalista decidiu que passaria as comemorações de Natal e Ano Novo sempre com a família. Afinal, é ao lado dos seus que encontra apoio, colo e uma porção de motivos para sorrir.
Com mais de 20 anos no mercado da Comunicação, passou por todos os veículos do Rio Grande do Sul. De suas diversas passagens, destaca os tempos de repórter na Rádio Gaúcha e de produção na Rádio Guaíba, onde atuou diretamente com Walter Galvani e Magda Beatriz, e no Grupo Bandeirantes, ao lado de Tânia Carvalho. Também recorda as atividades na RBS TV, local que a possibilitou fazer um dos aniversários do Jornal do Almoço e conduzir uma das edições do Garota Verão. "Não tem como não passar um filme na minha cabeça", lembrou com os olhos brilhando. Na emissora do Grupo RBS conquistou, ao lado de sua equipe, o Prêmio RBS de Jornalismo, na categoria Inovação Editorial, com o documentário sobre a conquista da Copa Libertadores pelo Internacional.
Entretanto, a experiência que lhe fez perceber que havia nascido para tal profissão foi um estágio na TVE, onde sua então chefe lhe disse: "Aline, tu és uma repórter investigativa nata!". O elogio veio após a atuação na cobertura da fuga de Fernandinho e Melara do Presídio Central de Porto Alegre. Na época, se voluntariou para fazer a pauta, visto que não havia nenhum repórter na redação. "Em certo momento, me mandaram voltar, mas insisti para terminar a reportagem e me deixaram concluir. Naquela oportunidade, tive certeza que era uma profissão maravilhosa. Pensei: "É isso que eu quero"".
Bálsamo para alma
"Um amor de outras vidas". É assim que definiu a relação com o sócio-diretor da Se7erm Informática, Rogério Mattevi. Com ele, cozinha, pratica exercícios, divide cafezinhos e passeia pelo bairro Auxiliadora, onde reside há três anos com o marido e o "yorkelata", como chama seu cachorro Bolota. Entretanto, o programa favorito do casal é assistir Netflix, jogados no sofá, e apreciando um vinho branco. Fã da bebida, confessa que é o relaxante perfeito para um dia exaustivo. Além disso, busca tranquilidade na realização de receitas gastronômicas ao lado do cônjuge, que, segundo ela, faz "o melhor churrasco do mundo". Bacalhau e massa aos cinco queijos são os pratos mais pedidos pelos familiares e amigos. "O segredo dos bons pratos é a qualidade dos ingredientes. Isso foi despertando aos poucos em mim", pontuou, detalhando que seus restaurantes preferidos são o Press e o Bah, em razão do arroz Thai e da massa ao molho cítrico com camarões, respectivamente.
Além do companheiro, a rotina de Aline conta com aulas de ioga duas vezes por semana, academia e corridas ao som de Michel Jackson, Madonna, U2 e Rolling Stones. Todas essas atividades para manter a mente e o corpo saudáveis. Há algum tempo tem procurado por mais qualidade de vida, menos energias ruins e se afastado de pessoas que não lhe acrescentam em nada. Assim como com o paladar em relação aos vinhos, se tornou seletiva. "Hoje, posso dizer que me dou ao luxo de conviver somente com pessoas do bem. Estou mais leve e estou muito apaixonada pela minha vida".
As horas vagas são preenchidas com livros e maratonas de séries. Atualmente, em sua cabeceira, está a recente obra "Todos querem ser Mujica", escrita pelo jornalista Moisés Mendes. Devoradora assumida de artigos literários de todos os gêneros, recomenda "Good to Great: empresas feitas para vencer", de James Collins. O rancho de publicações, que acontece, anualmente, na Feira do Livro de Porto Alegre, faz parte do hábito de leitura. Mas quando deseja desopilar, apenas liga a televisão e põe as temporadas em dia de "Grace e Frankie" e "Bloodline", no Netflix. Acrescenta que começou a olhar "Divorce", estrelado pela atriz preferida Sarah Jessica Parker, no HBO. "Se estou a fim de oxigenar o cérebro e pensar em nada, também coloco no "Sex and The City"".
Salve, Jorge!
No pulso esquerdo, registrou a força de São Jorge - um dos santos favoritos - que teve para seguir em frente depois do fim do primeiro casamento. Com a separação, concentrou energias na carreira, que havia sido deixada, em certa medida, em segundo plano quando trocou alianças aos 26 anos. Dos tombos que teve, afirmou que este foi um dos mais difíceis, mas que, hoje, com mais maturidade, compreende que alguns planos estavam predestinados a ela. Na ocasião, viu que poderia ressurgir e repensar a profissão. "Não adianta: Jornalismo é a nossa cachaça. Só a gente sabe a dor e a delícia disso".
Impulsionada pelos desafios, confessa estar triste com o cenário atual do Jornalismo no Brasil. Ainda que haja desvalorização no mercado de trabalho e demissões em massa, se mantém esperançosa e crente de que tudo irá melhorar. Também brincou que, mesmo com os obstáculos e dificuldades, o bom humor, uma herança do pai, é o antidepressivo da vida. Não é à toa que no local de trabalho está registrado na parede preta, com giz, a frase "Paz, boas ideias, fé na vida, gente querida, certezas e um dia feliz".
Faro de jornalista
Depois do episódio do Melara, já formada pela Famecos, muitos anos se passaram, mas a determinação e a garra continuaram sendo as características mais marcantes. Prova disso foi que, em julho deste ano, a diretora da Faro Comunicação precisou reestruturar o comando da empresa. Apesar disto e da retração no País, Aline permaneceu à frente da organização. Persistente, decidiu trocar de endereço. Após conversar com a amiga relações-públicas Roberta Silva, recebeu o convite para dividir espaço com a Mescla - empresa de eventos da Beta, como Aline a chama. "Se venci tantas situações, foi graças aos amigos, como ela, Lucia Porto, da Nave Comunicação, e da jornalista Lelei Teixeira".
Instalada na nova sede, conquistou a conta da Danone, que, segundo ela, foi o maior desafio de sua carreira. Porém, para chegar ao sim da gerente de Marketing da marca, precisou encaminhar portfólio e passar por três entrevistas. Garantiu que, além da conversa olho no olho, o trabalho customizado que oferta na Capital formalizou o contrato. "Acompanho início, meio e fim do cliente. Quanto mais eu personalizar, mais diferenciada será minha empresa das demais", aponta.
Além da incorporação da marca de iogurtes, a empresa passou a ter um braço digital, dirigido por Nalu Dorscheid, que é responsável pelo planejamento de estratégias em ferramentas e plataformas online. Também fazem parte da equipe as profissionais Deise, Janaína e Laísa, que, conforme Aline, são dedicadas, unidas e estiveram com ela nos momentos mais difíceis. "Elas atravessaram este período de transição comigo. Sou ninguém sem a minha equipe", reconhece.
Ressalta, ainda, que a Faro nasceu de muitas garrafas de vinho com o amigo e publicitário Edu Silva, que, em sua opinião, foi visionário ao desenvolver a marca a partir do farejar jornalístico. "Anjo de luz", caracteriza o parceiro, destacando que a parceria da dupla soma mais de 15 anos. É com ele que compartilha suas alegrias e angústias. A ideia de ser dona do próprio negócio veio somente após o desligamento da RBS TV. "Hoje, olho para trás e vejo que foi muito bom ter acontecido todas essas situações. Percebi que, mesmo pequeninha, fui valente. Não fico com medo, eu enfrento", garante.