Tânia Moreira: Às gargalhadas, porque ninguém é de ferro

Por trás das câmeras, nas ilhas de edição, foi onde a jornalista se encontrou

Tânia Moreira | Divulgação/Prefeitura

Por Cinthia Dias

"Nunca pensei em ser jornalista." A frase foi pronunciada por Tânia Moreira, ao recordar o início da sua trajetória profissional, que teve como palco a sede da extinta TV Tuiuti, hoje RBS TV, em Pelotas, na região Sul do Rio Grande do Sul. O desvio no destino aconteceu na ausência de um repórter e por incentivo de uma chefe de reportagem da emissora. Sem recordar, em detalhes, qual era a matéria, conta que foi convidada a deixar, momentaneamente, o posto de secretária, que ocupava na empresa, para fazer a apuração de um episódio no Presídio Regional do município. Com as mãos tremendo e um enorme frio na barriga, pegou o papel com algumas informações e se dirigiu à pauta. Animada com a novidade, quando retornou, pediu para criar o texto e entregar o conteúdo fechado. Agradando aos gestores, tomou gosto pela vida de repórter.

Naquele momento, o Jornalismo havia cruzado seu caminho para nunca mais deixá-lo. Com medo de perder o emprego, pediu para dividir sua carga horária de trabalho em dois turnos para seguir com as funções de assistente e poder se dedicar ao Jornal do Almoço. Este formato durou até passar no vestibular para Comunicação Social na Universidade Católica de Pelotas (UCPel), cujas aulas frequentava à noite para atender às demandas da profissão. As escolhas deram tão certo que, a um ano da formatura, recebeu um convite para se transferir, em 1989, para Porto Alegre. "Minha escolha profissional se deu pelo contrário", diz, com os olhos brilhando de satisfação.

Das mais de três décadas de carreira, entre Interior e Capital, duas foram no Grupo RBS. Dentre as experiências dentro da organização, ressalta a atuação no JA, no qual teve a oportunidade de ser apresentadora na cidade pelotense. Extremamente apaixonada por este programa, lembra-se dos colegas Alice Urbim, Claro Gilberto e Lígia Tricot, a quem atribui o puxão de orelha mais importante. "Ela disse na minha lata que eu não sabia lidar com notícias ruins. Aprendi isso com ela." Conta que a verdade veio junto à informação de um acidente, cuja mãe não sabia da morte das filhas. "Não sei entrar na ilha de edição e avaliar uma cena dessas. Sou muito sensível e isso não me apaixona", completa.

Na lista, inclui a jornalista Rosana Orlandi, a quem considera um exemplo de comando, liderança e gestão de pessoas. "A Rô é uma inspiração de como se coordena equipes", reverencia, e aponta que é difícil ser parecida com a ex-colega de RBS. No embalo, também menciona a amiga Vera Carneiro, com quem compartilhou algumas coberturas de eventos, pela obstinação com o trabalho na Pauta Assessoria. "Se ainda somos amigas, é porque ela não desistiu de mim", reconhece, lembrando-se de sua agenda cheia.

Rogai por nós

Não importa se está de vestido ou calça, roupa informal ou casual, para uma reunião de trabalho ou um almoço com os filhos Alexandre e Bárbara, a corrente prateada com mais de oito medalhinhas de suas santas não sai do pescoço. Dos lugares que conheceu na sua última viagem à Europa, quando esteve em Fátima, em Portugal, trouxe uma de cada localidade. Sua favorita é a de Nossa Senhora de Fátima, que guarda junto ao pingente de seus herdeiros, a fim de protegê-los.

Além de carregar a devoção no colar, a santa ganhou um espaço em sua mesa na Prefeitura de Porto Alegre. Não importa o ambiente de trabalho, a imagem sempre lhe acompanha. Inclusive, ela e outra da Sagrada Família compõem a decoração de seu apartamento, no bairro Bom Fim, onde reside com o caçula, de 24 anos, estudante de Direito. Mesmo com a devoção, não se caracteriza como católica. Quando a agenda fica mais tranquila no Paço Municipal, toma um passe e ouve mensagens positivas em um centro espírita. "Sou uma pessoa de muita fé. Isso que importa."

Na política, pede bis

Quando chegou à Capital, recebeu um convite para participar da campanha de Alceu Collares para governador do Rio Grande do Sul. Entusiasmada com o novo universo, aceitou e, desde 1990, intercala suas atividades na TV com o meio político. Para a estreia, pediu licença no Grupo RBS, passando a trabalhar à noite e durante a madrugada com Jornalismo e no restante do dia com ações para eleição. Se existisse, diria que o mosquito da Política havia lhe picado. "Foi uma loucura, mas peguei o gosto. Nunca mais na minha vida deixei de fazê-las." Mais duas licenças e a cara de pau acabou. Após seis anos na condição de meio assessora, meio jornalista, chegou ao departamento de Recursos Humanos da empresa de comunicação e pediu demissão.

Decidida, voltou-se totalmente às campanhas majoritárias e minoritárias no Estado. Desde então, tem seu nome nas de 1994, com o candidato Celso Bernardi e mais todos os deputados da bancada do Partido Progressista (PP); de 1996, com Anselmo Rodrigues, eleito em Pelotas, pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT); e de 1998, com uma estrutura para atender a 360 candidatos a deputado, coligados a Antonio Brito. Também assinou por 25 anos eventos e convenções partidárias do PP. Ainda, fez as divulgações para Ana Amélia Lemos, Francisco Turra e Yeda Crusius.

Ao sair da RBS, lançou a antiga produtora Mor, hoje Ana Moreira. Com a empresa, realizou eventos corporativos, palestras de media training pelo território gaúcho e, por último, a campanha de Nelson Marchezan Jr. para prefeito de Porto Alegre, empossado em 2017. Se tornar-se jornalista foi uma casualidade do destino, ser chamada para assumir a Secretaria de Comunicação da cidade era inimaginável. "Nunca esteve nos meus planos. Não podia ficar mais agitado, mas ficou. Campanha é fichinha", diz, aos risos, movendo os ombros.

Atônita, comenta que estar à frente da pasta, desde 12 de janeiro deste ano, significa continuar fazendo algo que gosta muito: administrar pessoas. Enxergar os profissionais a partir do que eles podem dar de melhor e a diversidade nas faixas etárias são o que lhe fascina. Essa identificação se deve pela ausência de qualquer preconceito. "Não tenho nenhum tipo de tolerância nesse sentido. Nem quero ter", afirma a ex-diretora de Produção e Programação na TVE.

Alma pura

Criados pela avó materna, ela e Mauro foram muito companheiros e tinham um gosto apurado pela Comunicação. Enquanto Tânia trilhava o caminho do Jornalismo, seu irmão se tornava um cineasta. A ligação entre os dois sempre foi forte, mesmo depois que ele foi morar no Rio de Janeiro, onde perdeu a vida, vítima de parada cardíaca, assunto que faz Tânia encher os olhos de lágrimas e confessar, em silêncio, a falta que lhe faz. "Como era uma pessoa iluminada, Deus deu a ele uma morte linda. Faleceu, sentadinho, na praia de Ipanema, olhando o mar."

No dia em que o corpo chegou para ser enterrado em Pelotas, recorda o consolo que recebeu de um amigo, que a encontrou no aeroporto. Até vê-lo, pensava que seria a parte mais triste daquele acontecimento todo, mas ouviu dele que somente o Mauro conseguiria ter um fim bonito daquela maneira. "Nós éramos muito próximos", comenta, emocionada. Por isso, acredita que família tem que estar junto o máximo possível. De Mauro, além de terem compartilhado muitas histórias, fica a alma pura, que usava para unir os outros, e a bondade. "Nunca conheci alguém como ele."

Metade pelotense, metade porto-alegrense

De Pelotas, a filha de João Carlos e Ida Maria guarda as melhores lembranças. Da infância à adolescência, valoriza as amizades que fez na época do colégio e o seu baile de debutante com muitas pessoas especiais. Em gratidão ao que a cidade lhe rendeu, sempre que consegue percorre quase 300 km até lá para matar a saudade. Ainda, o município abriga a casa da maior de suas paixões no futebol: o Brasil de Pelotas. "Sou xavante", diz, elevando o tom da voz para demonstrar o orgulho. Com a vinda para Capital, o Internacional acabou ganhando um espaço em seu coração, mas adianta que se disputarem uma partida, a torcida será para o Brasil.

Admiradora assumida pelo Centro de Porto Alegre, compartilha o gosto pelo Mercado Público, pela Praça da Matriz e pelos artistas de rua que o bairro abriga. Por isso, cada ida, de segunda a sexta, ao Paço Municipal é motivo para ficar feliz. Outro ponto turístico que ama é o Theatro São Pedro, do qual se afastou pelo excesso de trabalho e pelo qual traz boas experiências. "Uma das últimas apresentações de Tangos e Tragédias, o Zé da Folha - que ficava na Rua da Praia e fazia som - participou. Aquele homem simples naquele espaço, considerado por muitos, de elite. Foi fantástico", declara, visivelmente arrepiada.

Sem intimidade com a gastronomia, afirma que os filhos não se lembrarão dela pela execução de receitas, seja um ovo frito ou um prato de salada. "Adoro arrumar a casa, mas a cozinha não é um território a ser explorado", fala a fã de telentregas e sushis. Em contrapartida, poderia ter uma cadeira cativa nos cinemas, de tanto que frequenta para conferir os últimos lançamentos de drama e suspense.

Às gargalhadas

Mesmo quando o assunto é o divórcio, não desfaz o sorriso. Ainda que considerasse que fosse mais fácil se separar, reconhece o quão difícil foi romper a união com o assistente social Alexandre, que durou 20 anos. Do casamento, nasceu a jornalista Bárbara, 25, e o aspirante a advogado que leva o mesmo nome do pai. A primogênita não mora mais com ela, o mano, dois gatos e um cachorro. Protetora, garante que a dupla é sua maior inspiração. Intitula-se como mãezona e não é à toa, pois só sai com os amigos se não houver nenhum compromisso com eles ou alguma demanda urgente do trabalho.

Com um tom de voz alto e com uma risada que ecoa nos ambientes, Tânia marca presença nos lugares por onde passa. Das características positivas e negativas, encarrega-se de justificá-las com seu signo. A escorpiana nata confirma com a citação de vários atributos. O primeiro é a possessividade com os dois filhos. Não importa se já são maiores de idade, o interrogatório é completo - desde que horas volta, como retorna, se está tudo bem até com quem saiu. O segundo é a tolerância que, conforme a jornalista, deixou de ser bom. "Tenho um grau muito grande disso. Eu, nessa altura da vida, considero isso um defeito. Tudo precisa de limite."

Bem-humorada, também esclarece que não é rancorosa, mas tem memória. Nesse sentido, acredita que não precisa guardar mágoa das pessoas, pois a vida dá voltas e o tempo trata de resolver. Para tirá-la do sério, basta convidá-la para almoçar e ficar conversando no WhatsApp. É estresse na certa. "Nasci no signo certo. De verdade", constata, acrescentando sua lealdade: "Tem gente que considera qualidade, vejo isso como obrigação".

Seja no início ou com bastante tempo de carreira, qual jornalista não tem uma narrativa interessante para contar? Imagine a Tânia, que passou pela RBS TV, TVCom, TV Assembleia e TVE. Difícil tirar-lhe as palavras. Quando o assunto é acontecimento marcante, senta que vem mais de "200 mil histórias", das felizes às tristes, assegura. Uma delas foi a entrevista que conduziu com Leonel Brizola, no começo da atuação como repórter. Apesar de estar mais confiante e segura, relembra o nervosismo em presenciar uma parte da história política do Brasil. Além disso, comenta das muitas vezes em que teve a atenção chamada através do ponto enquanto conversava com as fontes, ao vivo, no estúdio do JA por chorar ou rir demais. "Dei gargalhada ao ver um cenário caindo. Não sou de ferro."

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