Adeílson Jardim: Bola para frente!

Formado em Artes Gráficas, Adeílson Jardim atua há mais de 20 anos no segmento de comunicação visual


Por Cinthia Dias
Era uma quinta-feira chuvosa, a empresa tinha bastante movimentação, era visível. Mais de 45 minutos de espera, quando, calmamente, Adeílson Jardim entra na recepção, aparentemente incomodado, e faz um gesto com as mãos indicando uma sala. "Eu não vou poder te atender hoje. Uma máquina estragou e preciso resolver isto!", disse, se desculpando, sem jeito pelo imprevisto, que postergaria a entrevista. "Podemos marcar outro dia?", se prontificou, claramente constrangido. O comportamento é reflexo da seriedade com que Adeílson Bernardes Jardim, sócio-diretor da empresa de comunicação visual Icom, encara a profissão há mais de 20 anos.
O caçula dos quatro filhos da professora Célia Bernardes afirma que a sua carreira profissional começou inspirada no ofício do patriarca da família Jardim, o gráfico Reni Manoel. Sem imaginar que a escolha lhe renderia tantos frutos positivos mais tarde, Adeílson ingressou, aos 13 anos, no técnico em Artes Gráficas do Senai/RS. "Isso foi influência do meu pai. E, aos poucos, fui seguindo os passos dele", relata.
Ainda durante o curso, a carteira de trabalho foi assinada pela gráfica Metrópole, onde trabalhou alguns meses depois da conclusão do técnico. Como a primeira experiência profissional na área ficava na zona sul de Porto Alegre e ele morava na zona norte, no bairro Sarandi, resolveu trocar de local de trabalho. A nova atividade não durou muito tempo e logo conquistou uma vaga no time da Lupo, onde garante que o gosto pela Publicidade e Propaganda aflorou. "Ali começou, efetivamente, a minha paixão por Publicidade e Propaganda", identifica.
Mesmo apaixonado pelo universo do Marketing, resolveu cursar a faculdade de Direito, onde não se encaixou e deixou o curso depois de estudar dois semestres. Ele acredita que tenha se desviado para a área jurídica possivelmente motivado pela escolha dos irmãos do meio, Célia e Márcio, que são advogados. "Se eu não tivesse ingressado no ramo da Publicidade, certamente iria para área jurídica. Até porque, na minha família, todos são, menos o meu irmão mais velho, o Rinaldo, que é formado em Comércio Exterior", constata.
Quando o personagem sai de cena
Homem de poucas palavras, Adeílson é mais reservado quando o assunto envolve a infância. Ter começado a trabalhar quando tinha 11 anos é uma lembrança marcante da fase. "Iniciei bem cedo e foi por querer buscar independência. Queria ter a própria renda para comprar as minhas coisas", afirma. Também de forma resumida, ele recorda a juventude em função dos amigos que até hoje mantém, de uma época em que cursou os ensinos fundamental e médio no Colégio Estadual Presidente Artur Costa e Silva.
Adeílson encara como normal a relação com o Cinema, mas o conhecimento que agrega é capaz de dar a ele a característica de cinéfilo. Se refugia nas sessões de cinema quase todo final de semana e o último filme que assistiu foi "Caça Fantasmas", de Paul Feig, ao lado da namorada Camila e do filho, Vinicius. "Ele é bem bom, meio pastelão, mas é bom", afirma em tom de crítica. A válvula de escape para a rotina agitada é assistir a um filme e não importa se é em casa ou na telona, se é nacional ou internacional, se é lançamento ou um clássico. "Posso ter visto 10 vezes, mas vou assistir a décima primeira vez com a mesma atenção", explica. Empolgado, faz questão de reforçar que, apesar de gostar bastante, não classifica o hábito como uma paixão.
Se com os filmes a repetição é bem-vinda, o mesmo não pode ser dito dos livros. "Uma vez é suficiente", resume. Da mesma maneira que com os longas-metragens, Adeílson não tem preferência por nenhum segmento. "Se for um assunto que me interesso, eu leio", simplifica. Tanto é que o último título que comprou é sobre ufologia - estudo sobre vida extraterrestre - que, devido à falta de tempo, nem abriu ainda.
Uma curiosidade a respeito das leituras de Adeílson é que todas as obras foram indicadas, inclusive o livro que tem mais representatividade para ele: "O Monge e o Executivo", de James C. Hunter. O texto aborda questões do cotidiano, como o exercício da liderança e a diferença entre poder e autoridade. "Ele fala muito do que a gente vive no dia a dia e das relações. É bem profundo", comenta. As leituras lhe renderam um pequeno bloco recheado com frases que define como interessantes e inteligentes. "Faz uns cinco anos mais ou menos que tenho essa coletânea. E são de tudo que é tipo", conta.
Nadando contra a corrente, o empresário não é um adepto às séries, que estão em alta no mercado. "Odeio. Não gosto. É algo que nunca acaba! Não tem um início, um meio e um fim!", destaca, indignado. A falta de resolução das histórias não satisfaz as suas preferências. "Não suporto isso. Essa continuidade me incomoda muito", enfatiza, novamente.
Perfeccionismo: do céu ao inferno
Quem não o conhece pode se sentir intimidado pelo semblante sério e pelos passos firmes que dá - que pode representar um homem de negócios mais clássico. Entretanto, os anéis prateados, o relógio dourado e moderno no pulso direito e as roupas descoladas desconstroem a primeira impressão que se tem ao cruzar com Adeílson. Apesar do estilo alternativo, comum entre publicitários, ele garante que não é adepto ao que está na moda. "Eu não me apego às modinhas. Sempre fiz isso. Sempre fui fora do padrão", explica.
Com uma personalidade forte e bem definida, o profissional não é nada egocêntrico. Apesar de admitir já ter recebido elogios de donos de agência e de pessoas do mercado, garante que não é movido pelos louvores. "Acredito que, se ganho elogio, é porque trabalho para isso. De certa forma, é um reconhecimento do meu trabalho, mas não estou fazendo nada além do que eu deveria fazer", analisa, ao salientar que nunca recebeu nenhuma crítica. "Eu sempre fui 100% focado e extremamente responsável", justifica.
Se para alguns é difícil definir um defeito e uma qualidade, para ele bastou dois minutos. O perfeccionismo é visto por Adeílson tanto como algo positivo como negativo. A busca pela perfeição é presente na família, no trabalho e nas relações. "Eu sou assim em tudo! Isso me torna uma pessoa muito chata e muito exigente", identifica que, apesar de ser assim, não se culpa quando alguma situação ou plano não acontecem como o planejado.
Ainda que seja perfeccionista, Di - como é chamado, carinhosamente, pelos amigos e colegas de trabalho - procura ser referência de aprendizado e paciência para sua equipe na Icom. Além disso, ele aposta na flexibilidade de horários como fator de qualidade para desenvolver o trabalho. A maior preocupação não é o cartão-ponto, mas a apresentação de resultados para a empresa. O posicionamento é uma consequência de algo que nunca gostou: ser mandado.
Um divisor de águas
Em toda a trajetória, entre gráficas e agências, muitas organizações abraçaram Adeílson. Como todo profissional, é natural que em algum momento da carreira tenha sido mais decisivo e marcante. Para ele, trabalhar por cinco anos na Silk Master, como gerente de Produção, foi uma oportunidade de crescimento pessoal indescritível. "Os afazeres profissionais não mudam muito de uma empresa para outra, mas aprender a lidar com pessoas foi essencial. Gerenciar 100 pessoas, cada uma com um perfil, com uma maneira, com seus problemas. Isso para mim foi um divisor de águas", afirma.
Nesse período, já havia entrado para a faculdade de Publicidade e Propaganda e trancado o curso porque não tinha tempo para estudar, pois virava madrugadas trabalhando. "Isso foi o mais complicado. Eu não tinha vida fora da empresa, eu respirava trabalho", lembra. A graduação em comunicação não foi a única prejudicada nesse quesito, o casamento de Adeílson também foi impactado pelas noites elaborando materiais para os clientes. "Uma das causas do meu divórcio foi eu estar sempre trabalhando, às vezes, no sábado e no domingo. Saía às 7h e voltava meia noite para casa. E eram dias seguidos nesse ritmo", recorda, garantindo que, apesar das noites mal dormidas, gosta muito do faz. "Ou melhor, nasci para o que faço", corrige.
Da união de sete anos nasceu Vinícius, o único filho, de 17 anos. A dupla sempre morou junta, mesmo após a separação. Atualmente, passa mais tempo com a mãe, porque Adeílson vendeu o apartamento. Ainda que tenha sido criado no meio de um mundo desregrado de horários dos publicitários, Vinicius não teve nenhuma influencia do ofício do pai na hora de prestar vestibular. "Nem a favor e nem contra. Sempre o deixei bem livre para escolher o que queria fazer", explica. Vinícius, recentemente, passou na Ufrgs para cursar Agronomia.
Bola para frente!
Sem horário para entrar e para sair da empresa, Adeílson convive com uma correria diária, de segunda a sexta-feira, e, aos finais de semana, utiliza a folga para recuperar as energias. No pensamento dele, devido à agitação, só tem espaço para a profissão. "Na sexta-feira, saio daqui como se eu tivesse batido em uma máquina de lavar. Estou imprestável", avalia acrescentando que o estresse durante a semana é tanto que, aos sábados e domingos, só quer desligar e não fazer nada.
Garante também que a maior motivação vem das surpresas diárias, porque os dias são completamente diferentes, muito desafiadores e únicos. "É um Kinder Ovo. E eu prefiro assim!", salienta. Muito além do costume e da novidade - tanto a diversidade de clientes quanto os mais variados projetos -, a satisfação do contratante é o que impulsiona Adeílson nestes 23 anos no segmento. "Quando o cliente recebe o material, quando a campanha dá certo e quando a gente recebe um retorno que tudo foi show. Isso é? nossa!", enumera e afirma que projetos grandes e pequenos tem o mesmo grau de satisfação.
No âmbito profissional, Adeílson se considera uma pessoa extremamente realizada e, mesmo assim, acredita que tem muito ainda para concretizar. Atualmente, seu maior objetivo é fazer com que a Icom, lançada em janeiro deste ano, cresça e se solidifique no mercado. Ele afirma que, ainda que o cotidiano seja pesado, daqui 10 anos, não se imagina atuando em outra área.
Por enquanto, os únicos planos certos para mudança são em relação às viagens a passeio, que têm sido adiadas em função do excesso de trabalho. Quando um espaço liberar na agenda, o primeiro lugar que deseja visitar é a Grécia. Enquanto isso, como ele mesmo costuma dizer, não se abate: "Bola para frente. Sempre!", diz, convicto.

Comentários