Alexandre Assumpção: O Camaleão

Publicitário do Ano em 2005, Alexandre Assumpção tem opiniões firmes sobre o mercado e os colegas, e explicita que sua forma de viver influi em tudo que o cerca, especialmente na e21.

Entusiasta e sem preconceitos, Alexandre Assumpção, publicitário, 38 anos, parece freqüentar pessoas, e não lugares. Usa sua aguçada percepção para captar linguagens, trejeitos e comportamentos que integram o seu "mosaico do consumidor", onde tudo é múltiplo e nada é previsível. "Quem tem estilo é o cliente, o publicitário se adapta", fala com segurança, contrariando os mitos de sua profissão. Sabedor de que as vendas aproveitam-se do sentimento e não das necessidades dos compradores, Alexandre conversa muito, com conhecidos e desconhecidos, buscando "feeling para perceber os sentimentos, tão abstratos".


Em frente a uma das vibrantes paredes laranjas da agência e21, da qual é sócio e diretor de Criação, vestindo com requinte uma camiseta criada por Herchovitch e uma calça jeans rasgada, o publicitário narra suas incursões por universos alheios. Conta que gosta de comprar "porcarias" dos camelôs e perguntar-lhes o que acham dos comerciais na TV, dos produtos. Lembra que, recentemente, juntou-se a três idosas que falavam mal do Papa Bento XVI em um shopping da cidade: "As senhoras estavam sentadas em uma mesa ao lado da minha, falavam coisas engraçadas. Não demorou dez minutos e eu já estava enturmado com elas", ri ao relatar.


Nascido em Alegrete, Alexandre teve a infância marcada pelo empreendedorismo, um prenúncio do trabalho publicitário que viria a desempenhar com tanta satisfação. Membro de uma família de classe média baixa com cinco irmãos, aos 11 anos, nas folgas do colégio, vendia limão, revistas velhas e discos de vinil em frente ao portão de casa. "Quando o movimento estava fraco na "loja", eu passeava pela periferia da cidade em busca de consumidores das classes C e D, que compravam mais", relembra com carinho. Veio para Porto Alegre aos 15 anos, "a família toda veio junto e eu, adolescente, louco para morar sozinho", brinca.


Entrando no mundo da publicidade


Ingressou na faculdade de Publicidade e Propaganda da PUCRS, em 1986, formando-se em 1990. "Eu queria criar, mas todo mundo queria isso também. Tínhamos uma visão muito fechada do mercado na época." Talentoso para escrever mas não muito para o desenho, Alexandre entrou para o mercado das agências como redator. Teve passagens por diversas empresas: Signo, Mkt RBS TV, ProEquipe, McCann, Nova Forma, Vangard/América, Publicitá e, por último, entre 1997 e 1998, Escala. Foi aí que começou a planejar sua carreira de diretor de Criação, dando início ao novo trabalho na Publicis, onde permaneceu por seis meses. Metódico, o publicitário explica que faz planos a cada cinco anos, quando estabelece metas a serem cumpridas.


Após negociação com Luciano Vignoli, diretor de Planejamento da e21, Alexandre assumiu como diretor de Criação da agência, em 1999. "Eu tinha planejado minha carreira e então comecei a planejar a agência na parte de Criação", esclarece demonstrando novamente sua maneira cuidadosa de organizar o futuro. Nascia ali uma parceria de sucesso que já dura seis anos. Em 2001, o publicitário tornou-se sócio de Luciano, "um cara que eu respeito muito pela inteligência e com quem eu tenho dividido um trabalho bacana demais à frente da e21", avalia.


Eleito Publicitário do Ano pelo Prêmio Colunistas, Alexandre sente-se à vontade para falar sobre o mercado e possui opiniões fortes. Classifica os profissionais como marcas, grifes. Ele explica: "Não adianta ficar pulando de agência em agência. Tem que pegar "sobrenome". Tem que ser o fulano da Escala, da Dez Propaganda? Assim é que se constrói carreira", fala com a certeza de que apenas um bom portfólio e alguns prêmios não garantem a permanência no mercado.


O publicitário revela que seus posicionamentos interferem diretamente na rotina da e21, como sua concepção sobre serviços e produtos, por exemplo. Para ele, o mercado está configurado de forma errada, na qual o serviço (atendimento, mídia e produção) é mais importante que o produto (criação e planejamento). Embora pense que nada é melhor ou mais importante, alega que nunca ouviu falar em atendimento free, mas em criação e planejamento free, sim. E revolta-se: "Isso é uma depravação! É como um restaurante não cobrar pela comida, mas pelos garçons, talheres e toalhas de mesa". Alexandre acredita que as agências precisam conquistar respeito pelo que vendem, pelo seu produto.


Saindo do mundo da publicidade


Assim como acumula características de seus consumidores, Alexandre armazena uma infinidade de referências musicais, literárias e cinematográficas. Leitor voraz, assegura ler, em média, quatro livros e 20 revistas por mês, "dos livros técnicos à ficção, da Revista Veja à Tititi". O publicitário mantém, inclusive, uma coluna no site www.queb.com.br, com crônicas sobre literatura. "Não é crítica! São crônicas. Só falo de publicações que eu tenha gostado", ressalta. Os escritores preferidos, vivos, são o norte-americano Philip Roth, o colombiano Gabriel Garcia Márquez, o cubano João Pedro Gutierrez e o indiano Salman Rushdie.


Quanto aos gostos musicais, Alexandre diz estar ouvindo "agora e sempre" The Cure, REM, Madonna, Paul Oakenfold, New Order, Bjork, Lenny Kravitz, David Bowie e Kraftwerk. Mas também é fã de MPB, principalmente de Chico Buarque e de João Gilberto, Folk, Pop e música Brega das décadas de 70 e 80 - "todas que tocavam no Cassino do Chacrinha", associa. Os filmes assistidos por ele no cinema ganharam caráter infantil devido à convivência com seus dois filhos, meninos de oito e três anos. "Lilo e Stich e Madagascar são bons para entender as crianças de hoje em dia, são filmes que zoam com tudo e com todos e têm bastante informação", recomenda. E complementa: "A trilha de Madagascar é um tecnofunk de  primeiríssima".


O publicitário não diminui as longas listas de preferências nem quando o assunto é animal de estimação. Tem nove: três gatos, um porco da índia, quatro hamsters e uma calopsita (um pássaro). Casado há 12 anos com Isabel Assumpção, gosta de ficar em casa, estar com a família, receber amigos e cozinhar. Também é vaidoso e preocupado com a saúde, praticando esportes como musculação e ciclismo pelo menos três vezes na semana. É uma pessoa intensa. Quando gosta de alguém é dedicado e afetuoso. Segundo ele mesmo, essa é sua maior qualidade e, de certa forma, também é seu maior defeito, "porque quando eu não gosto de alguém, não gosto mesmo, trato mal".


Alexandre, que zela pela estabilidade, afirma ter construído sua vida em bases sólidas, com cautela, vivendo cada coisa a seu tempo. "Eu vivi meus vinte e poucos anos com tudo que eu tinha direito, agora, eu vivo meus 38 como um homem adulto, casado, pai de dois filhos", conta, e ironiza: "Não tem como eu virar a noite em baladas. Primeiro, porque às três da manhã eu estou cansado, e segundo porque às oito da manhã meu filho está acordando". Para conciliar suas conquistas, trabalho e família, costuma viajar no verão, durante as férias escolares, com os filhos e a esposa. E, uma vez ao ano, dedica uma semana a uma lua-de-mel em algum lugar do mundo. De bem com a vida, Alexandre segue firme na idéia de que "o inferno são os outros".

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